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Janeiro empurrou preços morro acima

Marcos Fava Neves (*) | 12/02/2021 07:19

Nosso resumo mensal traz os eventos principais de janeiro e o que observar em fevereiro. Segundo novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia global deve se recuperar da queda de 3,5% de 2020 e crescer 5,5% e 4,2% em 2021 e 2020, respectivamente. A Zona do Euro, que teve queda de 7,2% em sua economia no ano passado, deve crescer 4,2% em 2021 e 3,6% em 2022; já nos EUA, o crescimento para os dois próximos anos deverá ser de 5,1% e 2,5%, de modo a rebater a queda de 3,4% de 2020. A China deverá acelerar seu crescimento em 8,1% e 5,9% neste ano e no subsequente, respectivamente, enquanto outros mercados emergentes devem crescer 6,3% e depois 5,0%. O dólar encerrou 2020 cotado a R$ 5,19, revelando uma valorização acumulada de 29,37% no ano. Com isso, a moeda brasileira teve o segundo pior desempenho em nível global ante a americana.

A China lançou um plano para zerar suas emissões de gases de efeito estufa até o ano 2060, conforme publicado pelo Goldman Sachs do país. De acordo com o plano, serão investidos US$ 16 trilhões em infraestrutura limpa, sendo um dos objetivos a transformação completa da frota rodoviária para veículos elétricos. Outros eixos do projeto envolvem investimento em hidrogênio combustível e programas de captura de carbono. O país asiático quer reverter seu quadro atual de maior emissor do planeta, respondendo por 30% do total das emissões, mas até 2030 aumentará as emissões.

No Agro mundial e brasileiro, em nova previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para o ciclo 2020/21, a produção de soja foi revisada para baixo, agora em 361 milhões de toneladas, com o Brasil produzindo 133 milhões de toneladas, EUA com estimativa de 112,54 milhões e a safra argentina em 48 milhões. Com isso, os estoques da oleaginosa caem e devem ficar em 84,31 milhões de toneladas. Para o milho, a produção global também sofreu cortes e agora é estimada em 1.133,89 milhão de toneladas, com os EUA produzindo 360,24 milhões; o Brasil com 109 milhões, e a Argentina com 47,5 milhões. Dessa forma, os estoques do cereal devem permanecer na casa das 283,3 milhões de toneladas. Esta previsão deu firmeza aos preços.

No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou em seu boletim de janeiro que a produção de grãos da safra 2020/21 será de 264,8 milhões de toneladas, crescendo 3,1% frente ao ciclo passado, em uma área semeada de 67 milhões de hectares (+1,6%). Na soja, a expectativa é de uma produção recorde de 133,7 milhões de toneladas (+7,1%) em uma área cultivada de 38,19 milhões de hectares (+3,4%). Já para o milho, a produção total deve atingir 102,3 milhões de toneladas (-0,2%), sendo que na primeira safra são esperadas 4,2 milhões de toneladas (-6,9%) em 4,17 milhões de hectares (-1,5%). No algodão, a área plantada deve reduzir 8,8%, chegando a 1,52 milhão de hectares, e com produção de 2,65 milhões de toneladas (-11,7%).

No mês de dezembro de 2020, as exportações do agronegócio totalizaram US$ 7,30 bilhões, queda de 3,8% frente ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). As carnes lideram as exportações, somando US$ 1,51 bilhão em valor exportado (-10,6%); a carne bovina vendeu US$ 740,3 milhões (-11,5%); a carne de frango, US$ 540,2 milhões (-13,6%); e a suína, US$ 188,2 milhões (+3,3%). Em seguida, o destaque foi para os cereais, farinhas e preparações, os quais exportaram US$ 1,05 bilhão (+29,8%), com o milho representando 90% desse valor. Por sua vez, os produtos florestais exportaram US$ 923,5 milhões (+3,4%); e fibras e produtos têxteis, US$ 596,9 milhões (+24,3%), sendo 95% representados pelo algodão não cardado e nem penteado. Por outro lado, as importações somaram US$ 1,35 bilhão, um crescimento de 11,5% e, dessa forma, o saldo da balança comercial do setor para o mês ficou em US$ 5,95 bilhões (-6,7%).

Já no acumulado do ano de 2020, as exportações do agronegócio totalizaram US$ 100,81 bilhões, a segunda maior já constatada pela série histórica, perdendo apenas para 2018, e equivale a um crescimento de 4,1% se comparado com 2019. O setor participou de 48% de tudo que o Brasil comercializou externamente. Já as importações consolidadas foram de US$ 13,05 bilhões (-5,2%), deixando a balança comercial do agronegócio com um superávit de US$ 87,76 bilhões, o qual compensou o déficit dos demais setores na ordem de US$ 36,87 bilhões.

Para o ano de 2021, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), os embarques de soja estão estimados em 83,5 milhões de toneladas, valor muito próximo ao recorde atingido em 2018, de 83,6 milhões de toneladas, e 1,2 milhão superior ao constatado no ano passado. Já o valor médio deverá alcançar US$ 410 por tonelada, prometendo uma receita de US$ 34,2 bilhões, 18,3% maior que em 2020.

Dados consolidados do Ministério da Economia revelam que na década de 2010, o agronegócio brasileiro foi responsável pela exportação de aproximadamente US$ 1 trilhão, proporcionando um superávit de US$ 800 bilhões à balança comercial nacional. Já o Valor Bruto de Produção (VBP) atingiu R$ 7,4 trilhões, 95% a mais, em valores reais, que o constatado na década anterior. O VBP de 2020 atingiu R$ 871,3 bilhões, valor recorde da série histórica desde 1989, e 17% superior ao de 2019, de acordo com informações do MAPA. A agricultura totalizou R$ 580,5 bilhões em valor (+22%), enquanto que a pecuária somou R$ 290,8 bilhões (+7,9%). O Ministério projeta que o VBP de 2021 deverá atingir R$ 959 bilhões, crescendo 10,1% ante 2020.

Na pecuária brasileira, com o fechamento dos dados de 2020 em termos de volume, o Brasil exportou 2,016 milhões de toneladas de carne bovina, um aumento de 7,5% na comparação com 2019. Os principais destinos da carne bovina brasileira foram, de longe, China e Hong Kong, que compraram 56,8% de tudo o que foi comercializado pelo Brasil; 1,183 milhão de toneladas e uma receita de US$ 5,1 bilhões apenas com estes dois países (60,7% do total). Na sequência estão países como o Egito (6,3%), Chile (4,5%) e Estados Unidos (3%).

Já as exportações de carne suína totalizaram 1,021 milhão de toneladas no ano de 2020, crescendo 36,1% frente ao ano anterior. Para a carne de frango, o ano de 2020 encerrou com 4,23 milhões de toneladas exportadas, um aumento tímido de 0,4% em comparação a 2019. Dentre as carnes, a de frango foi aquela que melhor se ajustou ao bolso da maioria das famílias brasileiras em 2020. Enquanto as carnes bovina e suína tiveram aumentos de, respectivamente, 35% e 32% em sua cotação no ano, a de frango avançou 9%, de acordo com os indicadores de preço do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A produção de ovos atingiu recorde histórico em 2020, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), chegando à marca das 54 bilhões de unidades. O consumo doméstico, que representa 99,5% do total, avançou 8,5% e atingiu 250 ovos/habitante/ano, motivado pela busca de fontes de proteína mais baratas e saudáveis.

Com os olhos voltados para 2021, de acordo com um estudo divulgado pelo USDA, as exportações de carne bovina do Mercosul, neste ano, devem crescer 3%, chegando a 4,23 milhões de toneladas exportadas. Nos quatro países do bloco, o comportamento seria de crescimento no Uruguai (+8%), Brasil (+5%) e Paraguai (+4%), e de queda na Argentina (-7%). Segundo o órgão americano, as exportações na América do Norte devem ter crescimento de 5% (101 mil toneladas), e deve haver uma redução de 5% nos países da Oceania (-102 mil toneladas). O USDA também prevê que a China deve importar 2,8 milhões de toneladas de carne bovina em 2021, volume 3% maior que o registrado em 2020. Com isso, o país asiático se consolidará de vez como o maior mercado para o produto, em nível global, com um volume representando quase o dobro do que deve ser importado pelo segundo colocado, os Estados Unidos (1,41 milhão de toneladas).

No mercado internacional, o índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) atingiu valor recorde dos últimos seis anos em dezembro de 2020, com uma média de 107,5 pontos; crescendo 19,1% ante o mesmo mês de 2019. O indicador avalia as variações mensais de uma cesta de cereais, oleaginosas, laticínios, carnes e açúcar.

A China deu indícios de que irá aprovar novas variedades transgênicas de soja e milho, desenvolvidas por uma indústria doméstica (Beijing Debeinong Techonology Group). A medida visa a garantir a segurança de suprimentos à nação e melhorar a eficiência da produção local.

Nos Estados Unidos, o USDA aprovou uma segunda rodada de ajuda financeira aos produtores afetados pela pandemia da covid-19 na ordem de US$ 14 bilhões, o que irá suportar 889 mil agricultores. Na primeira rodada, o total disponibilizado foi de US$ 16 bilhões.

De volta ao Brasil, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê, para o mês de fevereiro, tendências positivas de chuvas para as regiões Sul e Central do País, enquanto o Matopiba deve registrar volumes irregulares, com até 70 mm a menos que o normal.

No mercado de fertilizantes, são observadas tendências positivas para o ano de 2021, podendo este chegar aos 40 milhões de toneladas. Os dados de 2020 ainda não estão fechados, mas o setor estima vendas na ordem de 38,5 a 39 milhões de toneladas, contra 36,3 milhões em 2019. As vendas em janeiro dispararam. Já as vendas domésticas de máquinas agrícolas e rodoviárias somaram 47 mil unidades em 2020, valor 7,3% superior ao de 2019. Para 2021, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que as vendas cresçam 7%, apesar de os recursos do Moderfrota já terem se esgotado.

Na área ambiental, o pagamento por serviços ambientais agora é lei no Brasil. O texto, aprovado pela Câmara e sancionado pelo presidente, visa incentivar a conservação e o desenvolvimento sustentável através da remuneração pelo bem preservado. Esse pagamento poderá ser realizado em diferentes formatos como via monetária, prestação de serviços, compensações ou por meio de títulos e comodatos. Os títulos verdes poderão render financiamento de R$ 700 bilhões à agricultura brasileira até 2030, segundo projetado pela Climate Bonds Initiative, ONG britânica que certifica as organizações para emitirem esses papéis. Hoje, as captações no mercado brasileiro somam menos de R$ 10 bilhões, enquanto que no mundo totalizam US$ 328 bilhões. Setores como grãos, café e energia deverão ser fortemente beneficiados, diante da sustentabilidade incorporada à sua produção.

Nesse mesmo aspecto, o Ministério do Meio Ambiente anunciou o plano para controle do desmatamento ilegal e recuperação de vegetação nativa, com as metas do programa Floresta +. O documento prevê a preservação e recuperação de 250 mil hectares – 64% da área inicialmente proposta pelo Ministério, para os próximos três anos.

Continuam os bons exemplos de empresas do agronegócio em prol da produção sustentável. Marfrig, BRF, JBS e Minerva foram recentemente incorporadas à carteira Índice de Carbono Eficiente (ICO2) da B3. As quatro maiores processadoras de carne irão integrar o índice por quatro meses, evidenciando seu comprometimento com a transparência de suas emissões e se preparando para uma economia de baixo carbono. A BRF firmou convênio com Banco do Brasil para disponibilizar R$ 200 milhões para financiamento da instalação de painéis solares nas granjas dos produtores integrados. O projeto piloto deve começar em granjas em Santa Catarina e no Paraná, e depois abranger 100% dos granjeiros parceiros.

E concluímos dezembro com a manutenção de preços muito bons. No fechamento desta coluna para entregar em cooperativa de São Paulo, a soja estava em R$ 160/saca, para março de 2021 sendo negociada a R$ 155/saca e em março de 2022 a R$ 135/saca. Há um ano estava em R$ 83/saca. No caso do milho, hoje em R$ 81/saca, para entregas em agosto de 2021 a R$ 66/saca e agosto de 2022 a R$ 60/saca. Há um ano o milho estava em R$ 46/saca. Os preços futuros saltaram mais de 10% em janeiro. O algodão em R$ 125/arroba, contra R$ 88 do ano passado. No boi, a arroba era negociada a quase R$ 300. Mantemos a visão que preços mais altos em Chicago, que podem compensar uma eventual valorização do real.

Os cinco fatos do agro para acompanhar diariamente em fevereiro são:

a) Com as chuvas praticamente consolidadas na primeira safra, agora é na segunda que reside a preocupação principal, com ênfase no milho e em suas produtividades e produções;
b) As importações na Ásia e outros países em carnes, grãos e outros produtos;
c) Movimentos pró-reformas com a eleição de candidatos apoiados pelo presidente, tanto no Senado quanto na Câmara, e a influência sobre o otimismo, crescimento e principalmente taxa de câmbio;
d) A segunda onda da covid-19, o processo de vacinação, os mecanismos de apoio e a garantia de renda e a performance do mercado consumidor;
e) As expectativas de plantios, áreas e produtividades da megassafra norte-americana. Qualquer problema climático será grave aos preços.

Temos que agradecer a janeiro, uma coleção de bons números!

(*) Marcos Fava Neves é professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP

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