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Mais combustíveis fósseis para adiantar o fim do mundo?

Por Janaina Freitas Calado e Flávia Guedes (*) | 15/12/2023 13:30

A ausência de ações efetivas contra as mudanças do clima é uma confirmação de que é mais fácil falar sobre Amazônia do que agir. Durante a 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 28), o Brasil recebeu o prêmio “Fóssil do Dia” após a divulgação que o país entraria na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) com uma fala de que convenceria a organização a reduzir a exploração de petróleo.

De forma contraditória, o Brasil vem da COP 28 com discursos que exigem compensações ambientais internacionais enquanto a Agência Nacional de Petróleo (ANP) abre leilão para 603 blocos de exploração de petróleo, incluindo 21 na região da foz da bacia Amazônica. Importante lembrar que em relação a blocos já leiloados anos atrás na mesma região, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negou a licença para a Petrobras iniciar a fase de prospecção por falta de dados e incertezas no estudo de impactos ambientais.

O relatório da Organização Meteorológica Mundial registra o ano mais quente desde o início das medições. Intensificado pelo El Niño, presenciamos o ápice do verão amazônico engolidos pelas queimadas e pela fumaça. Em comunidades da foz do Amazonas, os rios antes barrentos e volumosos estão salgados e esverdeados, e outros se tornaram apenas filetes de água, incapacitando as pessoas de comerem, trabalharem e se transportarem.

As comunidades indígenas vêm perdendo seus marcadores do tempo, e os sinais ambientais que sempre avisaram sobre diversos acontecimentos na cosmologia indígena já não são tão precisos como antes. As mudanças climáticas são reais e castigam de forma mais acentuada exatamente quem menos as causaram.

O Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa aponta que as principais fontes de emissão desses gases no Brasil estão relacionadas à agropecuária e a mudanças no uso da terra. Precisamos com urgência de políticas de desmatamento zero, mas não podemos continuar com um modelo que gera mais queima de combustíveis fósseis.

Qualquer plano que busque tirar mais carbono da terra e jogar na atmosfera é um plano que vai adiantar o fim do mundo, então esse plano não deveria fazer sentido em nenhuma agenda, nem nacional, nem global. As comunidades já estão migrando seja pela erosão, pela seca extrema, pelas inundações, pelas queimadas ou pela água salgada do mar que avança rio adentro. Precisamos de políticas públicas de adaptação aos efeitos das mudanças do clima especialmente para populações mais vulneráveis.

Ainda durante a COP 28, a ativista indígena Luene Karipuna questiona: “Faz sentido estar aqui e continuar comunicando para nós mesmos?” Em seu amparo, respondemos: faz sentido, sim! Enquanto a emergência climática não resvalar na vida dos tomadores de decisões, cabe à sociedade se organizar e denunciar a negligência que atinge o povo que luta pela Amazônia.

(*) Janaina Freitas Calado é docente, pesquisadora e extensionista da Universidade do Estado do Amapá e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento da Amazônia Sustentável.

(*) Flávia Guedes é formada em Ciências Naturais, mobilizadora da frente de bacias hidrográficas e oceanos do Instituto Mapinguari.

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