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Mato Grosso do Sul na política nacional

Wagner Cordeiro Chagas (*) | 31/10/2020 08:30

O ex-deputado federal e ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, sul-mato-grossense de Campo Grande, ganhou fama nacional e internacional neste ano por sua atuação firme frente à terrível pandemia de Covid-19, enquanto o presidente da República a tratava como uma “gripezinha”. No entanto, em pesquisas que desenvolvo desde o ano de 2007 sobre história política de Mato Grosso do Sul, pude verificar que nosso estado, desde seus primeiros anos de existência, destacou-se a nível nacional por meio de suas lideranças, as quais ocuparam importantes espaços no cenário político.

O primeiro deles foi o senador José Fragelli (PMDB), eleito, em fevereiro de 1985, presidente do Senado Federal e consequentemente do Congresso Nacional. Ele foi governador de Mato Grosso uno pela ARENA, entre 1966 e 1971. Em 1978 ficou em segundo lugar na disputa pelo Senado, vindo a assumir o cargo em fins de 1980, quando o então senador Pedro Pedrossian (ARENA/PDS) renunciou ao Parlamento para governar Mato Grosso do Sul. Anos depois, filiado ao PMDB, o corumbaense José Fragelli foi um dos responsáveis pelas articulações que levaram o partido a lançar Tancredo Neves candidato a presidente da República na última eleição indireta da ditadura militar, em janeiro de 1985. Tancredo não tomou posse, pois ficou doente e faleceu. Como presidente do Congresso Nacional, José Fragelli deu posse ao vice-presidente José Sarney no cargo. Por alguns dias, o político sul-mato-grossense chegou a assumir a chefia da nação devido a viagens de José Sarney pelo exterior.

Tempos depois o destaque coube ao senador Ramez Tebet (PMDB). Político três-lagoense, ele foi prefeito de sua terra natal, deputado estadual, vice-governador e governador de Mato Grosso do Sul, entre 1986 e 1987. Eleito senador em 1994, tornou-se ministro da Integração Nacional do governo Fernando Henrique (PSDB), por 3 meses, no ano de 2001. Naquele mesmo ano, num momento de grave crise política no Senado, foi eleito presidente daquela Casa. Em janeiro de 2003 deu posse ao primeiro operário eleito presidente da República do Brasil.

Outro corumbaense, Delcídio do Amaral, senador eleito em 2002 pelo PT, ganhou sua primeira fama nacional entre 2005 e 2006 ao presidir a CPI dos Correios e denunciar membros de seu próprio partido no período do escândalo do Mensalão que marcou o primeiro governo Lula (PT). Em 2015 voltou a ganhar destaque por liderar o governo Dilma (PT) no Senado e, no fim daquele ano, ao ser preso pela operação Lava Jato suspeito de tentar atrapalhar investigações. Teve seu mandato cassado em 2016. Contudo, em 2018 foi absolvido pela Justiça Federal.

O ex-deputado federal Carlos Marun (MDB), político de Campo Grande, mas natural do Rio Grande do Sul, ganhou fama ao defender o presidente Michel Temer (MDB) na Câmara dos Deputados, entre 2016 e 2017, em momentos turbulentos que aquele governo viveu devido às graves denúncias de corrupção. No final de 2017 foi escolhido para ser ministro da Secretaria de Governo da Presidência. Com o encerramento daquele governo foi nomeado para um cargo na estatal Itaipu Binacional.

Teresa Cristina Corrêa da Costa, de família tradicional da política do antigo Mato Grosso uno, ex-secretária de Produção e Desenvolvimento Agrário do governo André Puccinelli (PMDB), deputada federal eleita em 2014 pelo PSB, e reeleita em 2018, pelo Democratas, foi escolhida ministra da Agricultura do governo Jair Bolsonaro (sem partido). No entanto, antes disso ficou conhecida nacionalmente como deputada pela defesa de mudanças na lei sobre uso de agrotóxicos no Brasil, assunto muito criticado pelos ambientalistas. Nos últimos dias seu nome tem sido lembrado para disputar a presidência da Câmara dos Deputados, no ano que vem.

Filha do senador Ramez Tebet, Simone Tebet (MDB) foi deputada estadual, prefeita de Três Lagoas, vice-governadora de MS e, em 2014, conquistou a vaga no Senado. Sobressaiu-se nacionalmente no início de 2019, ao tentar ser candidata a presidente do Senado, desafiando o senador alagoano e ex-presidente do Congresso, Renan Calheiros, também do MDB. De lá para cá vem se destacando na presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

Nelsinho Trad Filho (PSD), primogênito do deputado Nelson Trad, iniciou sua carreira como vereador em Campo Grande, deputado estadual, prefeito da Capital, candidato a governador de MS, em 2014. Elegeu-se senador no ano de 2018. Logo no primeiro ano de mandato foi escolhido para presidir a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. Sua família tem se destacado nos últimos anos no estado por eleger representantes para diversos cargos políticos: Marquinhos Trad (atual prefeito da Capital), Fábio Trad (deputado federal/PSD-MS) e Otávio Trad (vereador no Legislativo campo-grandense).

Assim, apesar de ser um estado jovem, com 43 anos completados neste mês de outubro, Mato Grosso do Sul conseguiu ao longo desse período ter figuras públicas que contribuíram de variadas formas com a história política brasileira, o que demonstra que não são somente estados como São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais que podem ter influência na política nacional.



(*) Wagner Cordeiro Chagas é professor de História em Fátima do Sul e pesquisador da História Política de MS, desde 2007.

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