Na luta pela vida, a pressa é amiga
Dizem que a pressa é inimiga da perfeição. Não para quem tem fome. Não para quem tem sede de justiça. Não para quem precisa de vacina. Para esse Brasil, a pressa é amiga. Mais, é vital.
Enquanto as reformas tributária e administrativa necessitam de mais alguns meses para o necessário amadurecimento, porque carregam em si o tom da controvérsia, existem questões do aqui e do agora. Questões de vida ou morte.
Duas, em especial: o tratamento, preventivo e curativo, às vítimas da pandemia e a busca de soluções para suas consequências mais imediatas. No primeiro caso, a vacinação e a oferta de leitos equipados com o necessário material hospitalar. No segundo, uma nova rodada do auxílio emergencial, observados os limites fiscais, para aplacar os efeitos econômicos e sociais do coronavírus sobre milhões de brasileiros, como desemprego, miséria e fome. Tal medida pode avançar, com a votação da PEC Emergencial, que abre espaço fiscal para o auxílio.
A despeito da experiência histórica do Brasil em campanhas de vacinação, o número de brasileiros vacinados contra a Covid-19 está longe do percentual de dois dígitos. Mais distante ainda dos 70% necessários para alcançar a imunidade de rebanho e surtir o efeito desejado, segundo especialistas.
Parte significativa do atraso no cronograma nacional de vacinação se deve à negação e à politização do processo, e também às falhas no planejamento para a compra de vacinas e insumos para sua produção em laboratórios nacionais.
As mortes a que seguimos assistindo em todo o Brasil, em muitos casos, como na Região Norte, por asfixia provocada pela falta de oxigênio, refletem a negligência do poder público. E confirmam, ainda, que o papel fiscalizador do Legislativo fez muita falta durante o recesso parlamentar.
Negaram a pandemia. Negaram a vacina. Negam o auxílio emergencial. Negam a vida.
O Senado Federal deverá contribuir, por meio da instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), não somente nas investigações para apurar responsabilidades, por atos e omissões, recomendadas pela Procuradoria-Geral da República e autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal, como para levantar elementos de diagnóstico e de propostas para que cenas como as a que assistimos ultimamente não se repitam.
Quanto à necessidade do auxílio emergencial, é ele que pode estabelecer se a pandemia sanitária se tornará ou não, no Brasil, uma pandemia humanitária, com consequências imprevisíveis.
Segundo a Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite), além dos impactos sociais, o auxílio emergencial teve impacto econômico surpreendente. Em 79% dos municípios, o valor injetado na economia local superou a arrecadação com os impostos e taxas de competência municipal.
Por isso, causam estranheza as vozes que atribuem ao auxílio emergencial um cunho eminentemente quantitativo ou, mais ainda, as que o veem como um custo. Essa quantificação demonstra falta absoluta de sensibilidade. Aliás, sensibilidade que anda em falta, principalmente, na política.
Essa é uma das principais razões que me levam a defender uma maior participação da mulher na política brasileira. O timbre masculino de voz ainda impera em todos os níveis de governo, na contramão do que ocorre em muitos outros países.
Por isso, a bancada feminina do Senado acaba de apresentar um projeto de resolução para que seja implantada a Liderança da Bancada Feminina no Senado, que garantirá, de imediato, um assento no Colégio de Líderes, com direito a voz e voto nas deliberações sobre a pauta prioritária do país.
Em vez de focarmos no que nos divide, a bancada feminina terá oportunidade para investir em pautas que unam as senadoras. Seja no combate à pandemia e seus efeitos, seja também em pautas universais de enfrentamento a todos os tipos de violência sofrida por mulheres: dos alarmantes índices de feminicídio no país até os mais chocantes casos de violência política.
Mais mulheres na política, mais sensibilidade e empatia. Aqui, a pressa será amiga da perfeição.
(*) Simone Tebet é senadora (MDB-MS)