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Não podemos perder Bonito

Por Leonardo Avelino Duarte (*) | 27/02/2019 06:31

Em um domingo de sol, sem chuva, fui surpreendido com um vídeo enviado por um amigo que estava passando o fim-de-semana em Bonito, e se surpreendeu ao perceber que água do rio Formoso estava turva. “Não é mais como antigamente”, falava ele no vídeo, “A água não é mais transparente. Não dá para ver nada”.

Quando o turismo descobriu Bonito, no final dos anos 1990, logo percebeu o potencial inacreditável do lugar: grutas misteriosas, rios de águas cristalinas, formações rochosas de tirar o fôlego e vida selvagem abundante.

Não demorou e a cidade cresceu e prosperou, ganhou fama mundial e recebeu diversos prêmios internacionais, se tornando a número um em Mato Grosso do Sul em número de turistas recebidos, efetivamente incluindo o Estado no roteiro do turismo de aventura e de contemplação no Brasil.

Agora, justo quando Bonito entra em sua maioridade turística, enfrenta o seu maior desafio – seus rios cristalinos estão morrendo.

O que se percebe é que os rios Formoso e Prata, só para citar os dois, já há algum tempo apresentam águas turvas sempre que chove e, o que é ainda mais preocupante, mesmo quando não chove.

As razões da erosão e do turvamento são as de sempre: destruição das matas ciliares; agricultura sem curva de nível adequada; estradas e obras públicas e privadas edificadas perto demais dos rios e descaso.

O potencial de dano para a economia da cidade e do Estado é verdadeiramente desastroso. Ninguém que conheceu os rios transparentes de Bonito - que mesmo em dias de chuva forte mantinham a sua clareza e beleza - aceitará com facilidade o que está acontecendo na região.

E Bonito agora receberá milhares de pessoas para o Carnaval. Será que elas irão embora querendo retornar e falando bem da preservação da beleza local?

Mato Grosso do Sul não tem um bom histórico na preservação dos seus rios. O Taquari, tido no passado como um dos rios mais piscosos do mundo e hoje totalmente assoreado, é o maior exemplo. O rio Aquidauana encontra-se em situação crítica.

Os rios Miranda e Negro também apresentam problemas. Por outro lado, nosso Estado também praticamente só possui rede de esgoto na Capital, o que significa, na prática, que a sujeira de nossas cidades do interior, inclusive a de Bonito, é despejada na rede fluvial local.

Todas essas coisas não se apresentam positivamente para um Estado que se quer se apresentar como possuindo uma economia agropecuária verde, e com forte apelo turístico. É preciso agir, e é preciso fazê-lo de maneira rápida.

A prefeitura de Bonito, sua Câmara Municipal, o governo do Estado, o Ministério Público e demais instituições, além da população local, juntos, precisam enfrentar e solucionar a questão, antes que seja tarde.

Há exemplos de sucesso. Há vinte anos, alguém recuperou o Buraco das Araras, transformando um depósito de lixo em um verdadeiro viveiro de araras vermelhas, e criando mais um incrível ponto turístico local.

Se uma pessoa pôde fazer isso com o buraco das araras, certamente a comunidade, unida e assumindo a sua responsabilidade, poderão salvar os rios cristalinos da região. Não podemos perder Bonito.

(*) Leonardo Avelino Duarte é advogado e professor universitário, fundador da ecorede BIOFACES.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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