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Nos tempos do Rio - parte 3

Por Heitor Freire (*) | 21/12/2020 13:34

Em pouco tempo morando no Rio, nos meus vinte e poucos anos, logo comecei a me relacionar com os mato-grossenses que moravam na cidade e costumavam frequentar o Largo do Machado. A praça era um ponto de encontro dos nossos conterrâneos. Foi ali que estreitei os laços com o Flaviano Carvalho, irmão da Mariazinha, casada com o professor Castro, que tinha sido meu professor no Ginásio Barão do Rio Branco, aqui em Campo Grande.

O Flaviano me convidou para morar na pensão em que ele vivia com o Enos Azambuja e o Haroldo Medeiros, todos mato-grossenses. A pensão ficava na rua do Catete, e pertencia a uma portuguesa, que não sei por que eles chamavam de Porcolina. Nunca vi nada de sujeira por lá, pelo contrário.

Depois que me mudei da pensão do Seu Tonico para a da dona Porcolina, o Flaviano, o Enos, o Haroldo e eu formamos um grupo bem unido. Não me lembro por que, mas os três se chamavam (entre si) de Baiano. Então eu entrei pro clube, e também passei a ser um Baiano. O Enos, que era o mais alto, era o Baianão. O Flaviano, baixinho, era o Baianinho. Então o Baianinho, que era funcionário da Air France, me convidou para trabalhar na contabilidade dessa empresa, pois eu era técnico em contabilidade. Aceitei de bom grado, com um salário bem maior do que recebia no banco.

A Air France era localizada na Maison de France, a sede do consulado francês no Rio, um local nobre. Eu me lembro que cada documento que eu tinha que preencher na Air France, ao fazer o lançamento contábil, precisava ser escrito em seis vias, todas à mão. Isso me rendeu um belo calo no dedo médio da mão direita por muitos anos. Nessa época, um dos funcionários de nome Marcos, por sua rapidez, era apelidado de Caravelle, naquela época um avião considerado dos mais velozes. Logo logo superei o Marcos e ganhei o apelido de X15, o supersônico mais veloz da época.

No período em que morei no Rio, convivi com alguns colegas que mais tarde se tornariam personalidades importantes no nosso estado: Juvêncio César da Fonseca, Josephino Ujacow (Pepito), João Leite Schimidt, Matheus Pinto da Silva, Humberto Canale Júnior – estudantes de direito –  e Obed de Souza, de medicina, entre outros.

Naquela época, existia a AME (Associação Mato-grossense de Estudantes), formada pelos estudantes do nosso estado que moravam no Rio. A presidência da AME era um posto cobiçado, porque dava prestígio.

Havia um combinado que cada mandato seria alternado entre os estudantes do norte e os do sul do estado. Quando o Canale (do sul) era presidente, o próximo candidato natural seria o Ernani, de Cáceres (norte), mas alguns conterrâneos do sul resolveram burlar a tradição, e arriscar uma eleição com o Juvêncio candidato a presidente. Perdemos feio, e tivemos que esperar a nossa vez. Só na rodada seguinte, como de costume, ele seria eleito.

Mais adiante, o Obed de Souza, também do sul, foi eleito presidente da AME. A trajetória do Obed no Rio – filho de um humilde carroceiro em Campo Grande –, foi um grande sucesso, um exemplo de superação afrontando muitas dificuldades: passou no vestibular de medicina e teve um cargo de liderança entre os estudantes. Ele se formou e depois veio exercer a profissão em Campo Grande, onde se destacou como ginecologista e obstetra.

A sede da AME ficava no bairro do Flamengo, e promovia encontros dançantes na cobertura de um prédio na Glória. Uma vez por mês nos reencontrávamos com grande alegria. Era uma farra! Belas recordações.

Logo depois, prestei concurso para o Banco do Brasil, fui aprovado e localizado em Ponta Porã, onde continua nossa saga.

(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado.

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