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Número 13: sorte ou azar? Depende de nós

João Guilherme Sabino Ometto (*) | 19/06/2021 10:30

Dentre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável/Agenda 2030 das Nações Unidas, o 13 refere-se à "Ação Contra a Mudança Global do Clima". Ante o fato de alguns ficarem ressabiados, como se diz no campo, com o estigma apocalíptico do número e sua identificação mundial com o azar, cabe salientar que conter o aquecimento da Terra não depende do acaso, mas sim das ações e atitudes de cada cidadão, da sociedade, dos governos e do respeito aos acordos internacionais sobre o tema.

Assim, é gratificante e animador constatar ser crescente a consciência global sobre a questão, conforme demonstra a pesquisa "O Mundo em 2030", que acaba de ser publicada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). As mudanças climáticas e a perda da biodiversidade foram apontadas por 67% dos entrevistados como os desafios mais preocupantes. Obviamente, vencer a pandemia da Covid-19 é meta mais premente e pontual, mas o novo coronavírus também enfatizou a necessidade de melhoria ambiental e do estabelecimento de espaços mais favoráveis à saúde pública.

A amostragem da pesquisa é significativa, pois foi respondida, via digital, por mais de 15 mil pessoas de todos os continentes. É interessante notar que os participantes eram em especial jovens: 57% tinham menos de 35 anos e 35% estavam abaixo de 25. Os resultados, também analisados de acordo com a região, gênero, idade e outros parâmetros demográficos, confirmam o alerta da Unesco de que são necessários maiores esforços para abordar e atender às preocupações específicas dos indivíduos.

Cabe acrescentar, nesse contexto, a importância da opinião das pessoas, que se multiplica na sociedade, fazendo com que os governos, como cabe nas democracias, atendam aos anseios da população. E a proteção ambiental, redução da emissão de carbono e contenção do aquecimento terrestre são prioridades incontestáveis. É de se esperar, portanto, que a opinião pública mundial influencie uma postura multilateral sinérgica dos países em torno desses desafios fundamentais para o presente e o futuro da humanidade. Essa é uma expectativa da Unesco.

Os entrevistados também destacaram que a educação sobre sustentabilidade, promoção da cooperação internacional e construção de confiança na ciência são as melhores maneiras para enfrentar o problema ambiental. Violência e conflitos, discriminação, insegurança alimentar e falta de comida, água e moradia são outros grandes desafios. Registrou-se um grande consenso entre os respondentes: o ensino universal e de qualidade é a síntese da solução para cada um dos desafios.

Neste último aspecto, o Brasil tem imensa dívida, acumulada desde os primórdios de sua história. Não tratamos a educação com o cuidado proporcional à sua relevância como fator decisivo de transformação da História e da inclusão socioeconômica. Portanto, também não podemos atribuir ao azar o fato de a consciência ambiental não ser amplamente disseminada em nossa sociedade. A demanda do ensino público de excelência é mais premente do que nunca, como se observa neste triste momento de pandemia, nos episódios de desrespeito aos protocolos sanitários.

Em contrapartida, nosso país tem respostas positivas para algumas questões também relevantes colocadas na pesquisa na Unesco: somos grandes produtores de alimentos e já contribuímos para abastecer os mercados globais e reduzir a insegurança alimentar; fabricamos biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, em grande volume, ajudando na queda da emissão de carbono pelas frotas de veículos; e nas 5,07 milhões de propriedades rurais constantes do último Censo Agropecuário (2017), que ocupam 351,28 milhões de hectares, ou 41% de nosso território, há imensa área de matas nativas e mananciais hídricos preservados, conforme determina o Código Florestal.

Do mesmo modo que a precariedade do ensino não é azar, não devemos atribuir à sorte todo esse potencial do Brasil para atender a algumas prioridades da humanidade, mas sim à capacidade de trabalho e resiliência do agronegócio. Ou seja, a maneira como o País irá inserir-se e o seu grau de protagonismo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, inclusive no de número 13, não são uma questão de fortuna ou infortúnio, mas de competência e vontade de fazer a diferença.

(*) João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos - EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).

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