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O futuro será sociobiodiverso, ou não será

Janaína Deane de Abreu Sá Diniz (*) | 09/06/2022 08:30

O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado no dia 5/6 e foi instituído em 1972 durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, para chamar a atenção da população mundial para os problemas ambientais e para a importância da conservação da natureza. Iniciou-se então uma mudança na maneira de ver e tratar questões ambientais, além da adoção de princípios para orientar a política ambiental no planeta.

Em 1992, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro, foi outro marco quando os países participantes se comprometeram em promover um desenvolvimento econômico e social alinhado à proteção da biodiversidade e ao uso sustentável dos recursos naturais.

Vinte anos depois a Conferência Rio+20, em 2012, num contexto de muito mais problemas socioambientais, continuou a reforçar a dimensão econômica com a proposição de uma economia verde. Nesse mesmo período também é resgatada na Europa a noção de bioeconomia. A ideia não é nova, pois, como no caso do Brasil, está na origem dos primeiros ciclos econômicos do país, com a extração exaustiva de sua biodiversidade.

Em 2019 o Relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre a Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) confirmou a acelerada velocidade de deterioração da biodiversidade global, causada principalmente pelas alterações de uso do solo, exploração direta dos organismos (como a caça e a pesca predatórias), mudanças climáticas, poluição e introdução de espécies invasoras. Particularmente no caso do Brasil, os principais fatores do declínio da biodiversidade são o desmatamento e o avanço da fronteira agropecuária, uma ameaça à diversidade biológica e sociocultural mantida ao longo de séculos por povos e comunidades tradicionais.

Não conseguiremos alcançar a conservação e o uso sustentável da natureza se continuarmos com o modelo e o ritmo atual das ações de destruição do meio ambiente. São necessárias mudanças profundas em termos econômicos, sociais, políticos e tecnológicos. É importante que essas mudanças sejam construídas de forma territorialmente contextualizada e com a participação de representantes diversos das sociedades locais. Nesse sentido, é interessante mencionar algumas iniciativas e eventos recentemente propostos, que buscam reforçar as especificidades territoriais com toda a sua diversidade sociocultural, biológica e de paisagens.

O I Fórum Virtual sobre o potencial dos produtos florestais não madeireiros para uma bioeconomia da América Latina e Caribe (BioForestALC)1, organizado entre 23 e 26 de maio, reuniu representantes de mais de 100 instituições ligadas à conservação e valorização da sociobiodiversidade em 13 países para propor uma bioeconomia que dialogue melhor com a realidade da região.

No dia 1º/6 ocorreu o lançamento do Observatório da Economia da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio)2, uma iniciativa de organizações da sociedade civil ambientalistas e de movimentos sociais dos povos do campo, das águas e das florestas, para pensar opções transformadoras mais disponíveis, acessíveis e atraentes para a tomada de decisões diárias pelas pessoas e para tornar nossas economias e sociedades mais inclusivas, justas e conectadas com a natureza.

Nos dias 6, 10 e 13 deste mês, ocorrerá o Seminário “Bioeconomia e Sociobiodiversidade do Cerrado”3, que pretende agregar às discussões e propostas das duas iniciativas anteriores, a diversidade existente nos povos e paisagens do bioma Cerrado para estimular a valorização da biodiversidade nativa.

Junho chega no meio do ano, para nos lembrar que para continuarmos a ter meio ambiente o nosso futuro tem que ser diverso, ou seja, sem biodiversidade e sociobiodiversidade não há futuro para a vida neste planeta. O título deste artigo é uma adaptação da frase do líder indígena Ailton Krenak, recentemente nomeado Doutor Honoris Causa pela UnB: “o futuro será ancestral, ou não será”.

(*) Janaína Deane de Abreu Sá Diniz é doutora em Logística e Estratégia (Université Aix-Marseille) e em Desenvolvimento Sustentável (Universidade de Brasília).

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