Venda de cabelos e até vaquinha online: por que os hospitais nunca têm dinheiro?
O Hospital de CâncerAlfredo Abrão está vendendo cabelos e a Santa Casa lançando uma vaquinha online
Hospitais de Campo Grande parecem ter chegado ao fundo do posso para tentar equilibrar as contas diante da insuficiência de recursos públicos. A prática ficou evidente nos últimos dias com o Hospital de Câncer Alfredo Abrão vendendo cabelos naturais e a Santa Casa lançando uma vaquinha online para reformar o pronto-socorro. Para especialistas, o fenômeno não é isolado: reflete o descompasso entre a alta demanda da saúde e o financiamento público e privado no Brasil.
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Hospitais de Campo Grande enfrentam dificuldades financeiras e recorrem a iniciativas emergenciais para equilibrar as contas. O Hospital de Câncer Alfredo Abrão está vendendo cabelos naturais, enquanto a Santa Casa lançou uma vaquinha online para reformar o pronto-socorro. Especialistas apontam que o problema reflete um descompasso entre a demanda por serviços de saúde e o financiamento disponível no Brasil. Fernando Nogueira, da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, destaca a importância do planejamento na captação de recursos e da profissionalização do setor para garantir a sustentabilidade das instituições.
Fernando Nogueira, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), explica que o principal desafio enfrentado por hospitais filantrópicos e públicos é eficiência contra o desequilíbrio estrutural entre a necessidade de atendimento e a capacidade de financiamento. "A demanda por saúde é maior do que a oferta de serviços e maior também do que a oferta de recursos, seja via SUS, parcerias com o governo, empresas, fundações ou doações", afirma.
No caso do Hospital de Câncer, a venda de cabelos — doados pela Receita Federal — busca levantar R$ 1,2 milhão para garantir a compra de um novo acelerador linear de radioterapia. Já a Santa Casa quer arrecadar R$ 1,8 milhão com doações pela internet para modernizar a estrutura de seu pronto-socorro. Segundo Fernando, ações emergenciais como essas são importantes, mas precisam estar inseridas em um planejamento maior.
"A questão do planejamento da captação é fundamental. As organizações precisam ter um diagnóstico de como têm sustentado suas atividades e traçar estratégias com eficiência, transparência e prestação de contas", defende o especialista. Ele reforça que a "inteligência da captação" deve estar dentro dos próprios hospitais, por meio de departamentos estruturados e profissionais especializados.
Além da falta de dinheiro, Fernando aponta outro fator positivo das campanhas alternativas: o fortalecimento da relação das instituições com a sociedade. "É muito positivo que hospitais estejam sempre em contato com a população, com voluntários e doadores. Isso fortalece a presença da instituição na comunidade e gera engajamento contínuo", analisa.
O diretor da ABCR também afastou o risco de que campanhas como a venda de cabelos ou a vaquinha prejudiquem a imagem dos hospitais, desde que haja transparência na comunicação. "Se a organização compartilha com clareza seus objetivos, presta contas dos recursos e celebra a conquista das metas, não vejo risco de abalar a confiança pública", disse.
Sobre o ambiente legal para a captação de recursos, Fernando ressalta que ainda há entraves. "A legislação brasileira ajuda em alguns pontos, como benefícios para organizações sociais, mas também dificulta com problemas como o imposto sobre doações e a insegurança jurídica. É um campo em que o Brasil ainda precisa avançar bastante", afirma. Ele acredita que a regulamentação da reforma tributária pode corrigir parte desses obstáculos.
Exemplos de sucesso no país mostram que a profissionalização da captação de recursos é o caminho mais seguro para a sustentabilidade de longo prazo. Hospitais como o de Amor, Pequeno Príncipe, Albert Einstein e Sírio-Libanês são referências citadas por Fernando. "Não dá para deixar a captação nas mãos de voluntários ou dividir entre funcionários sobrecarregados. É preciso ter equipes especializadas, bem alinhadas com a alta gestão", resume.
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