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O que é a vida?

Por Gilberto Verardo (*) | 29/12/2023 08:30

Pergunta que Marcelo Tas faz no fim de seu programa "Provocações" a todos os seus entrevistados. E para você, o que é a sua vida? Em certo sentido, essa questão é, para muitos, parecida com entrar no carro e não saber para onde ir. Estamos claramente num desses momentos.  Então melhor evitar palavras rebuscadas.

Silenciosa e anonimamente, qualquer que seja a resposta proposta no título, além de colocá-la no plano filosófico, também quer provocar seu autor a assumir o “destino” dela. Mas, destino é coisa de tarólogo, cartomante e adeptos da religiosidade cega. Entregam sua vida futura a adivinhos bem intencionados, porém insalubres. É um mecanismo de transferência, desvendado por Sigmund Freud, mas ignorado.  De propósito ou não, cerceia o livre arbítrio das pessoas.

Não é difícil perceber que mesmo em uma roda de amigos, no boteco ou não, esse tema é merecedor de chacota. Também não é para menos. Num modelo social em que a prosperidade material é ícone, este assunto, além de desnecessário, é inútil para os materialistas convictos, exceto para o pessoal da filosofia,  que fala da angústia existencial ou de certa sensação de vazio que acometem as pessoas em momentos de dúvidas existenciais. Acredito que estamos num desses momentos.   Daí, na minha opinião, a pertinência do título para encerrar este difícil ano de 2023.

Em tempos estranhos e ameaçadores, como este em que a humanidade está passando, dois extremos aparecem. A solidariedade, mesclada com sentimento de culpa, e o egocentrismo exacerbado. O primeiro é um sentimento coletivo e civilizado. O segundo, um sentimento pessoal que, para parâmetros civilizados, além de inadequado é quase patológico. Depende do tamanho da gula pecadora. Mas é um paradoxo próprio de crises. Em especial, para a dos poderes constituídos. Mais um parâmetro coletivo indo pro ralo. Ano Novo se aproximando, com eleições a vista, uma boa chance para melhorar seu sentido de vida coletivo. Ninguém é feliz sozinho.

Muitos falaram em "novo normal", após a Pandemia. Mas, talvez uma das boas maneiras de desenhar um futuro plausível, é pensar sobre o sentido de tudo o que fizemos e construímos até aqui. É como um confessionário existencial. Dar sentido às coisas, além de um significado, é colocar uma direção e dar objetivos em meio a tantos conhecimentos  e informações disponíveis a todos. Afinal, este é um dos nobres exercícios do pensamento e do raciocínio.  Porque não aproveitá-los?

“Cada ser humano tem sua própria liberdade de escolha, ainda que possua a consciência de que não lhe é permitido fazer apenas o que deseja; sabe que pode escolher até mesmo não escolher, que é também uma escolha”. (Sartre, 1997). Nesse momento de crise da sociedade de consumo, climática/ambiental e civilizatória, dar-se a liberdade de escolher um sentido para sua vida daqui para frente, não deixa de ser uma nova provocação para uma vida que só poderá ser construída coletivamente. Tempo e glamour da individualidade bem-sucedida, estão fora de moda, diante da crise global, disfarçada por um véu oferecido pelas novas tecnologias de comunicação. Não me sai da memória aqueles dias de Pandemia.

As pessoas confinadas, voluntária ou involuntariamente, não eram mais consumidores, contribuintes, cristãos ou ateus, mas pessoas em busca do valor da sua vida. Daí a importância de assegurar, por esforço próprio, a busca de um novo sentido que quer dar à sua existência, que é finita. Do contrário, fatalmente irá sentir na alma o tal do vazio existencial. Poderá até substituí-lo por uma angústia cardíaca ou outras causas médicas, mas não há remédio que substitua este encontro entre você e o sentido da sua vida.  Então, apenas responda a si mesmo: O que será a vida para mim neste Ano Novo?

(*) Gilberto Verardo é psicólogo humanista.

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