O verde que queremos
A paisagem pode ser vista e admirada diferentemente por pessoas urbanas ou rurais que passam por um lugar, urbano ou rural. Nessa paisagem muitos elementos têm peso diverso para quem o olha como um passante ou algum admirador da natureza. O que anda próximo a ambientes naturalmente preservados não observa se houve novos plantios de árvores ou se algum machado ou motosserra fez o que lhe cabe fazer – cortar ou decepar. Por isso, não se encanta com o verde exuberante proporcionado por algumas décadas por pessoas comuns ou das autoridades executivas que deveriam manter e o dever de ampliar o que das alturas de um voo parece ser um tapete verde.
Ele tem um valor extraordinário para os ecologistas, um dos quais, o socioambientalista Eugênio Giovenardi, dedica um livro à exaltação dos ecossistemas e do que eles representam para o meio ambiente de Brasília, de sua área metropolitana e do Centro-Oeste brasileiro. A obra À procura da Brasília perdida – cidades e ecossistemas é obrigatória para profissionais ligados ao ensino médio e às universidades. Os escritos nela contidos são fundamentais para conhecer as inter-relações dos ambientes socionaturais e do meio ambiente em Brasília e de sua área metropolitana.
De fato, ao percorrer o Distrito Federal (DF), nota-se que os núcleos urbanos possuem coberturas verdes bem diversas. Isso é notório em mapas ou em fotografias aéreas e de satélite. Nelas, a tonalidade da imagem do Plano Piloto é muito mais esverdeada do que a da Ceilândia, por exemplo. Nesse núcleo, o tom acinzentado indica pouca vegetação, isto é, em 50 anos, o grande centro – geminado a Taguatinga – não desenvolveu um ambiente vegetal compatível com seu enorme território, de 230km².
Outros centros urbanos são mais cuidadosos com o verde, tendo ruas e avenidas com boa vegetação. Há plantas exóticas em todo o DF, mas há árvores centenárias que a natureza deixou como legado ambiental desde sempre. Nos núcleos urbanos – mesmo no Plano Piloto – sempre cabem mais árvores e gramados bem cuidados. As vantagens do verde são inúmeras – e não apenas para os olhos de quem tem preocupação ecológica: asseguram um aquífero mais pródigo que alimenta nascentes, riachos, rios, lagos e córregos. E mais ainda, que o futuro não nos negue água para os fins alimentares e de limpeza urbana (embora seja questionável que um síndico de prédio determine a limpeza de seu estacionamento com essa água potável – verdadeiro desperdício que deveria ser severamente combatido desde já).
Nossa natureza estará melhor daqui a 50 ou cem anos se tivermos a capacidade de reflorestar o que foi destruído para implantar asfalto, cimento e tijolos, estes utilizados na grande quantidade de casas e prédios construídos no DF. Hoje têm-se mais espaços urbanos e menos território para as árvores, o verde que anima a natureza, o homem nela contido. Com o passar dos anos ou décadas, os governantes do DF deverão se cientificar da necessidade de manter a capital abastecida de água potável para o consumo humano.
Em Brasília, há mais do que três milhões de habitantes ou consumidores do precioso líquido. A esses milhares de moradores deve-se agregar o morador vindo da periferia metropolitana do DF para trabalhar ou obter serviços. Muitos desses trabalhadores já moravam no DF, mas uma exclusão socioeconômica os fez migrar para o sul, oeste e norte da capital para ter menores dispêndios com moradia e serviços.
O futuro poderá modificar esse cenário se uma grande ação descentralizadora for realizada para que a periferia metropolitana conte com a dispersão de serviços e facilidades que a grande massa populacional conseguir atrair e manter. De fato, mais de um milhão de habitantes dessa região, ao longo dos anos, poderá atrair os serviços urbanos básicos e tornar possível que se instalem as indústrias não permitidas no DF.
De fato, os maiores municípios entre os 12 componentes da área metropolitana de Brasília possuem volume de trabalhadores que se habilitam como mão de obra industrial. Aliás, a questão industrial é pouco debatida nesta região, pois basicamente Anápolis se capacitou para abrigar em seu distrito industrial as empresas que encontraram um nicho importante de consumidores com altos salários no funcionalismo e setor privado do DF, de Goiânia e do Planalto Central.
Finalmente, é desejável que todos queiram manter e ampliar a vegetação no DF e em sua área metropolitana. Deseja-se que as autoridades e instituições de Goiás e do DF passem a estimular a revegetação nos locais em que houve desflorestamento. Só assim teremos um futuro em que não faltará água, e as pessoas possam usufruir de bem-estar com o ecossistema regenerado. As futuras gerações agradecem.
(*) Aldo Paviani é professor emérito da Universidade de Brasília e pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (Neur/Ceam/UnB).