Os avanços da tecnologia e as formas de brincar na atualidade
Em tempo de modernidade e avanços tecnológicos, a vida cotidiana passou a ter muitas facilidades. O ser humano como ser histórico, tem transformado seu dia a dia criando e inovando o seu trabalho, sua rotina, facilitando a locomoção, construindo novos conceitos e valores, e inovando seu processo de aprendizagem. Esses avanços tecnológicos têm modificado até o jeito de nossas crianças brincarem.
Em um mundo de acesso fácil e rápido às informações, as crianças não brincam como as de antigamente, tanto que a própria concepção de infância evoluiu. Sendo assim, as formas de brincar também sofreram a influência das novas tecnologias. Mas será que o que fez parte do passado pode ser simplesmente descartado por causa do “novo tempo”? Seria melhor deixarmos o velho e abraçarmos o novo como se não importasse o processo histórico de transformações sofridas em nossa sociedade.
A criança como sujeito histórico tem em suas brincadeiras, em seus jogos, uma forma diferente de enxergar o mundo. Por meio dos jogos, dos brinquedos e da brincadeira, ela explora ao máximo a realidade que a cerca e proporciona a si um mergulho no mundo adulto. Criam conceitos por meio da imitação da rotina dos pais em suas brincadeiras, e recriam formas de realizar um jogo, relacionando a sua vivencia com o meio social a qual pertence.
Uma das críticas atuais está atrelada aos brinquedos. Pode-se constatar que com o advento da tecnologia os brinquedos muita das vezes, com suas luzes, motores, pilhas e controle remoto deixam a criança em sua criatividade um pouco inertes, pois alguns brinquedos fazem com que a ação criativa não seja o principal foco, tornando-os meros expectadores, porque o brinquedo brinca sozinho. Entretanto, vale ressaltar que muitos brinquedos tecnológicos que os pais e avós de hoje não possuíam, proporcionam e muito o desenvolvimento de seus filhos e netos.
O uso excessivo das telas, como televisores, tablets e smartfones, também é um ponto relevante que precisa de atenção. Não se propõe aqui a negação do uso desses objetos, mas o controle e a intervenção do adulto no uso dessas tecnologias. Com o acesso a informações e jogos ao alcance das mãos, a criança assiste e interage com um mundo repleto de informações, socializando de forma virtual os conhecimentos que adquire nas mídias sociais. Mas, será que a forma de brincar da atualidade proporciona conhecimentos que levem a criança a ser autônoma, crítica, promotora de modificações do seu meio social, ressignificação de ideias e questionadora das informações a qual lhes são impostas?
Os jogos simbólicos, as brincadeiras de faz de conta, as cantigas de roda e o contato direto com a natureza, proporcionam às crianças a vivencia da realidade de seus pais e avós. Essas brincadeiras apresentam à criança novas possibilidades de criar, recriar e resignificar os sentidos sendo, ela mesmo, atuante efetiva na ação sobre o brinquedo. A criança brinca com o brinquedo e ela não se torna só a expectadora do brinquedo ou de suas ações limitadas. Ela explora o mundo, compreende as regras sociais, cria seus próprios valores e atribui significado às informações que recebe e socializa, tornando-as conhecimento.
Por fim, brincar é uma ferramenta muito poderosa no processo de aprendizagem dos pequenos, pois amplia a sua visão de mundo, promovendo a criticidade, questionando as regras impostas e as adaptando conforme surgem novos desafios. A criança brinca não só pelo prazer da diversão que o ato proporciona, mas para compreender o mundo a sua volta. Em datas comemorativas em que se espera ganhar um brinquedo, o que os pais podem dar a seus filhos? Brinquedos que acalmem as crianças depois de um dia cansativo de atividades, ou que lhes proporcione questionar o mundo? Estamos proporcionando as nossas crianças aprender por meio das brincadeiras ou apresentando um mundo digital cheio de informações que, se mal mediadas, não possuem significado? As informações em excesso, sem mediação e significado, não geram conhecimento e, sem conhecimento, nossos filhos não serão, como diria o educador Paulo Freire, agentes de transformação social.
(*) Rodrigo Ribeiro dos Santos é pedagogo e professor de Educação física do Colégio Marista Criciúma.