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Os negros vão ganhando espaços na educação

Por José Adriano Custódio Ferreira (*) | 04/07/2024 08:09

A desigualdade social e educacional no Brasil, especialmente a étnico-racial, é uma realidade persistente. A conscientização sobre a negritude e a participação ativa dos negros na educação são processos que exigem atenção ao contexto histórico e social dessas reivindicações.

Se a presença de jovens negros nas universidades já é baixa, a situação é ainda mais crítica quando se examina a representação negra no corpo docente, com menos de 0,2% de professores negros, segundo o IBGE. Essa disparidade ressalta a necessidade de se debater a inclusão dos negros no sistema educacional brasileiro.

Entre 2016 e 2018, os indicadores educacionais da população preta ou parda melhoraram, fruto de políticas públicas iniciadas na década de 1990. No entanto, a desigualdade em relação aos brancos permanece evidente. Desde a abolição da escravatura em 1888, a educação dos negros tem sido alvo de discussões e controvérsias.

Petronilha Silva destaca o valor da educação para os negros, não como um abrigo, mas como um instrumento de reconhecimento e luta. Ela também comenta que os escravizados recriaram sua humanidade e contribuíram para a construção da nação brasileira, apesar de serem vistos apenas como mão de obra.

O sistema escravocrata criou hierarquias sociais que perpetuaram desigualdades e discriminações, reservando a educação para os mais abastados. Ao serem trazidos da África, os negros passavam pelo ritual da “Árvore do Esquecimento”, que simbolizava o apagamento de suas memórias e identidades.

Laurentino Gomes narra como, ao chegarem ao Brasil, os negros eram privados da educação, tratados como objetos pelo Império. O tráfico negreiro, proibido apenas em 1850, trouxe milhões de africanos ao Brasil, onde foram submetidos a um sistema econômico que os via como animais, reforçando a ideia de raça.

Mesmo com a abolição, a liberdade dos negros era fictícia, sem perspectivas e muitas vezes continuavam trabalhando para os brancos em troca de comida. A luta pela educação só começou após a abolição, com movimentos sociais e intelectuais negros lutando por reconhecimento e melhores condições de vida.

A escolarização formal dos negros é vista como um marco para a emancipação e transformação social. A população negra, porém, foi historicamente excluída do processo educacional. Políticas afirmativas recentes, como a Lei de Cotas, têm promovido o acesso dos negros à educação superior, mas a desigualdade ainda é grande.

A presença de negros no ensino superior está crescendo, mas eles ainda estão atrás dos brancos. A melhora nos indicadores educacionais é resultado de políticas públicas, mas a desvantagem racial persiste. A Lei de Cotas de 2012 foi um marco, ampliando a presença negra nas universidades, mas ainda há necessidade de aprimoramento e novas políticas de permanência estudantil.

Movimentos sociais históricos, como a Frente Negra Brasileira, sempre lutaram pela inclusão dos negros na educação. As cotas têm sido fundamentais para aumentar o número de estudantes negros no ensino superior, contribuindo para a autoestima e novas oportunidades sociais e econômicas.

A imprensa também teve um papel crucial, como o jornal “O Exemplo”, em Porto Alegre, que combateu o preconceito e foi voz da comunidade afrodescendente. A educação é vista como uma forma de resistência e afirmação da identidade negra. As mudanças no sistema educacional brasileiro, apesar de ainda não ideais, estão em andamento e são essenciais para uma educação que respeite a diversidade étnico-cultural.

(*) José Adriano Custódio Ferreira é doutorando no Programa de Pós-graduação em Educação da UFRGS.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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