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Pintadinho

Heitor Rodrigues Freire (*) | 26/02/2022 09:00

O professor Lourival Martins Fagundes, maçom ilustre, escritor de mais de uma dezena de livros sobre variados assuntos sempre com uma abordagem filosófica, escreveu, ou melhor reescreveu, seu derradeiro livro sobre a Funlec – Fundação Lowtons de Educação e Cultura –, criada pela Grande Loja Maçônica de Mato Grosso do Sul em 1982, da qual foi um dos mentores e o seu primeiro presidente.

Nesse novo livro, o professor Fagundes conta como foi incentivado a escrever seu primeiro livro sobre a Funlec – do qual participei ativamente e tive a honra de fazer o prefácio. E aqui, peço licença para deixar a modéstia de lado e transcrever uma passagem desse novo livro, na qual ele, com muita generosidade, fala da minha persistência ao persuadi-lo para levar adiante o projeto: “Muitos que conhecem o Irmão Heitor Rodrigues Freire sabem de suas habilidades para convencer pessoas a fazer o que ele quer. Essas habilidades funcionaram comigo.

 Em certo momento de sua terceira ou quarta visita, para conversar sobre o mesmo assunto, ele me questionou, e abatido pela força de seus argumentos, e àquelas alturas também espiritualmente motivado por toda aquela insistência, entreguei os pontos e lhe pedi para redigir a “Apresentação”, daquele documento que, como pode ser visto, ele o fez com a sua conhecida competência, objetividade e elegância.” Esse fato me fez lembrar um apelido que me foi dado – “Pintadinho” – por uma amiga de infância da minha mulher, Rosaria – a Lygia Casanobas Nascimento –, que acompanhou de perto toda a minha saga para conquistar a Rosaria quando éramos mais jovens.

Realmente não foi fácil, ela me deu muito trabalho, mas como sou um cara persistente, quando meto uma ideia na cabeça vou até o fim, consegui por fim levá-la ao altar. Quando o padre nos concedeu a bênção nupcial, um amigo vidente que assistia à cerimônia nos disse, depois, que nesse momento ele viu o Espírito Santo descendo até nós. E esse momento sagrado abençoou a nossa união que, neste ano completará 59 anos de uma bela e rica convivência.

A história do “Pintadinho” é a seguinte: Numa cidade do interior, daquelas de antigamente em que todos se conheciam, o padre da paróquia tinha um passarinho. Um belo dia, um menino, vendo o passarinho, foi até o padre e disse: “Seu padre, me dá o passarinho?”, E o padre respondeu: “De jeito nenhum, esse passarinho eu ganhei do bispo”. Mas o guri não desistia.

 Sempre que via o padre, já vinha pedindo: “Seu padre, me dá o passarinho?” E, assim, o padre não aguentava mais o menino. Naquele tempo, a missa era celebrada com o padre voltado para o altar, de costas para os fiéis que acompanhavam a missa – penso que quando a Igreja inverteu a posição do padre oficiante, voltando-se para os fiéis, quebrou a egrégora da cerimônia, mas esse é outro assunto.

Pois bem, quando o padre voltava-se para o povo, dizendo “Dominus vobiscum”, lá estava o guri imitando com as duas mãos as asas do passarinho, e com isso desconcentrava o padre, que ao término da missa pegou o passarinho e finalmente deu ao guri, dizendo: “Some da minha frente e não volte nunca mais!” Tempos depois, estava o padre no confessionário quando uma menina da cidade veio se confessar: “Padre, tem um guri querendo me namorar, o que eu devo fazer?” E o padre: “De jeito nenhum, você é muito nova. Reze dez Pais Nossos e vinte Ave Marias”.

No domingo seguinte, a menina entrou no confessionário com o mesmo assunto, e o padre continuou enfático na penitência que passou para aquela pobre alma atormentada. Mais uma vez, ela disse: “Padre, esse guri não larga do meu pé”. E o padre teve um estalo: “Me diz uma coisa, esse menino tem umas sardas, é todo pintadinho?”, e ela confirmou: “É esse mesmo!”.

E o padre, então, disse: “Minha filha, namora logo, porque esse guri não vai te deixar em paz”. Daí o meu apelido de pintadinho. Trago um pouco desse guri no peito. Hehe.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

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