Por que o gosto pela leitura está diminuindo?
O gosto pela leitura, que já foi um dos principais passatempos e formas de aprendizado da sociedade, parece estar diminuindo em um ritmo preocupante. Livros que antes despertavam a imaginação e alimentavam o conhecimento enfrentam hoje uma concorrência voraz com outras formas de entretenimento, especialmente as digitais. Mas o que está por trás dessa mudança cultural?
A Era da Imediatidade
Vivemos na era da informação instantânea. Com um simples deslizar de dedos, temos acesso a conteúdos rápidos, vídeos curtos e notícias condensadas. As redes sociais, os aplicativos e as plataformas de streaming nos condicionaram a buscar recompensas rápidas e estímulos contínuos. Ler, por outro lado, exige tempo, concentração e paciência — características cada vez mais raras em um mundo que valoriza a velocidade.
A leitura é um processo linear que requer imersão, enquanto os dispositivos eletrônicos oferecem conteúdos fragmentados, muitas vezes acompanhados de distrações constantes, como notificações. Esse contraste torna o ato de ler menos atraente para muitos.
A Falta de Incentivo
Outro fator que contribui para o declínio do gosto pela leitura é a falta de incentivo adequado. Em muitos contextos, especialmente entre jovens, a leitura é apresentada como uma obrigação acadêmica, e não como uma atividade prazerosa. Livros obrigatórios na escola, sem o devido contexto ou diálogo, acabam criando uma associação negativa com a leitura.
Além disso, a ausência de exemplos dentro de casa também tem um peso. Em famílias onde a leitura não é valorizada, é menos provável que as crianças desenvolvam o hábito de ler.
Concorrência de Outros Formatos Narrativos
As histórias não desapareceram, mas migraram para outros formatos. Filmes, séries, videogames e podcasts são alternativas modernas de contar histórias que competem diretamente com os livros. Para muitas pessoas, consumir uma narrativa em forma de vídeo ou áudio é mais acessível e menos exigente do que lê-la.
Embora essas formas de entretenimento também tenham seu valor, elas não substituem a experiência única que a leitura proporciona, como a liberdade de imaginar cenários, interpretar personagens e refletir de forma mais profunda.
A Cultura da Superficialidade
Outro problema é a crescente superficialidade no consumo de conteúdos. Textos longos são frequentemente substituídos por resumos, listas ou manchetes. A prática de leitura profunda, que estimula o pensamento crítico e a empatia, está sendo trocada por interações rápidas e superficiais. Isso enfraquece a habilidade de apreciar textos mais densos e complexos.
Como Reverter Esse Cenário?
Embora o cenário pareça desafiador, ainda há esperança para resgatar o gosto pela leitura. Algumas iniciativas podem ajudar:
1. Tornar a leitura prazerosa: Incentivar a leitura de temas que interessem a cada pessoa, sem imposições rígidas, é um bom começo.
2. Promover exemplos positivos: Pais, professores e líderes podem inspirar outros ao demonstrar entusiasmo pela leitura.
3. Incentivar a leitura digital: Livros eletrônicos e audiolivros são ótimas opções para acompanhar a tecnologia sem abrir mão da literatura.
4. Criar espaços para a leitura: Clubes de leitura, eventos literários e bibliotecas acessíveis tornam a leitura uma atividade comunitária e prazerosa.
O gosto pela leitura não está desaparecendo, mas enfrentando desafios em uma sociedade dominada pela rapidez e pela superficialidade. Valorizar a leitura é mais do que preservar um hábito; é cultivar um espaço para a reflexão, o aprendizado e a criatividade. Embora a concorrência com outras formas de entretenimento seja real, ainda podemos reverter essa tendência, redescobrindo nos livros o poder de transformar vidas.
(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.
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