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Sobre a pandemia: falta lógica e sobra polarização

Fábio Augusto Reis Gomes (*) | 29/04/2021 08:40

As discussões relativas à pandemia de covid-19 têm evidenciado como a sociedade brasileira está polarizada. Enquanto parte dela se posiciona favoravelmente às restrições que visam a conter a pandemia, outra parte se opõe a medidas como toque de recolher ou lockdown.

A polarização também é evidenciada pela postura diante do chamado “kit covid”. Enquanto alguns se opõem, em função de estudos que não comprovaram a eficácia de tal kit, outros ainda são favoráveis. Esses últimos parecem acreditar em um enorme esquema de adulteração de resultados dos mais diversos estudos científicos sobre o tema.

Eles dão mais crédito à própria imaginação, que concebe uma verdadeira teoria da conspiração, do que a estudos publicados em revistas científicas. Teorias da conspiração como essas ignoram algo que sabemos há décadas: via de regra as bactérias são combatidas com antibióticos e os vírus, com vacinas.

Alguns políticos, tanto no Legislativo quanto no Executivo, fazem uso do cargo que ocupam para incentivar a população a se opor a medidas de distanciamento social e mesmo a simples medidas como o uso de máscaras.

Ora, a oposição às instruções dos especialistas em saúde e a defesa do “kit covid” induzem a população a “enfrentar o vírus” e tudo isso resulta na maior intensidade da pandemia. Sem uso de máscaras, a chance de contaminação aumenta. Em aglomerações, a chance de contaminação aumenta. Acreditar no “kit covid” induz o indivíduo a não se precaver e, novamente, a chance de contaminação aumenta.

Quando essa chance se concretiza e o sistema de saúde entra em colapso, o que resta fazer? Adotar medidas mais restritivas, como toque de recolher e lockdown. Observe o ciclo vicioso: atacam as medidas necessárias para conter a pandemia, e quando ela sai de controle esses mesmos reclamam das medidas mais restritivas.

Alega-se: o pobre perderá o emprego com o lockdown. Mas não alegaram antes que o pobre (e qualquer pessoa) poderá perder a vida se não usar máscara, se não lavar as mãos e se não evitar aglomerações. Falta lógica! Além de uma preocupação legítima com os pobres que, inclusive, dependem do esgotado sistema de saúde público.

Aqueles que não levam a doença a sério e que fazem propaganda de soluções que não funcionam acabam induzindo a população a um comportamento que amplia a gravidade da pandemia. São esses mesmos que depois reclamam das medidas restritivas. Ora, se não houvesse tanta desinformação e tantas instruções equivocadas, a chance de a população adotar medidas simples e eficazes aumentaria e, com isso, seria reduzida a gravidade da pandemia. Neste caso, não seria necessário recorrer a medidas mais restritivas. Falta lógica!

A lógica diz que aqueles que são contrários às medidas mais restritivas deveriam ser os primeiros a explicar e a insistir para a população adotar as medidas tão propagadas pelos especialistas em saúde, como o uso de máscara. Infelizmente, não é isso que observamos. Falta lógica e sobra polarização!

(*) Fábio Augusto Reis Gomes é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP.

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