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Sobrevivemos

Heitor Rodrigues Freire (*) | 02/11/2021 07:00

Nestes tempos de pós pandemia, está se tornando comum ouvir por aí: “Sobrevivemos!” Para muitos, sobreviver ao surto pandêmico se transformou numa conquista, numa vitória. De fato, o medo se generalizou de tal forma que ficou institucionalizado universalmente.

A comunicação instantânea ajudou a espalhar mentiras e mais ansiedade, gerando ainda mais instabilidade entre as pessoas. Isso sem falar do problema concreto: o número elevado de falecimentos no mundo inteiro, deixando muitas famílias sem seus entes queridos.

Observo, no entanto, que passado o vendaval, constatou-se um percentual em torno de 3% de falecimentos entre os infectados – ou seja, o pavor foi maior do que a realidade factual. Teve mais gente entrando em pânico do que gente morrendo, e só saberemos as verdadeiras consequências disso mais adiante.

Sobretudo, compreender que nada acontece por acaso é um fator de libertação. Cada um, a seu tempo, vai colher da sua semeadura. O ensinamento obtido pelo sofrimento proporciona uma visão espiritual que não seria atingida de outra forma. Nos defrontamos com a realidade da morte.

Mas, sobrevivemos? Na realidade, continuamos como sempre, cada um na sua individualidade, fazendo o seu trabalho, vivendo sua vida, cumprindo sua missão, na continuidade, na certeza de que também um dia passaremos pela porta da morte. Isso é apavorante? Ruim? Claro que não. Faz parte.

Penso que essa condição deve dar ênfase à serenidade, na medida em que não nos encolhemos, continuando nossas vidas, sabendo que vai acontecer um dia, de um jeito ou de outro. Aceitar a realidade é uma forma de libertação também. Porque a morte em si, não é ruim. É uma possibilidade certa.

E vai proporcionar a cada um uma nova oportunidade. Por mais importante ou rica que tenha sido qualquer pessoa, essa experiência terá de ser vivida individualmente. De nada vai servir ter 50 capangas ou um trilhão de dólares. É como no tabuleiro de xadrez: quando termina o jogo, todas as peças voltam para a mesma caixa: rei, rainha, bispos, peões, etc. Com o mundo retomando sua rotina, tudo fica mais ou menos calmo.

E assim continuamos com a nossa vida. À medida que o tempo passa, acumulando experiências e vivências, vamos aprendendo a viver. A entender verdadeiramente o que significa estar encarnado, com uma missão, uma família, uma profissão, um trabalho, uma oportunidade. Entendendo que somos todos irmãos, e sempre que houver solidariedade, o mundo será melhor, teremos mais condições de contribuir para o aprimoramento de todos.

Penso que tudo isso está nos remetendo de volta à espiritualidade, a Deus, que na sua sabedoria imensurável, fez da criação do universo uma demonstração muito clara de sua inteligência infinita, da qual a humanidade é o mais perfeito exemplo. O ser humano é o principal ativo do universo e foi criado para contribuir com o projeto de Deus. Ele precisa de cada um de nós como elementos atuantes do seu trabalho.

Nos dotou do livre arbítrio e do discernimento, para que conscientemente façamos a nossa parte. Somos seres indispensáveis para a criação divina. Dentro desse contexto, a nossa sobrevivência será sempre um fato natural, porque sobreviver é a realidade fática, sempre.

Quando desencarnarmos, iremos para outro nível, mas continuaremos sendo, cada um, os seres únicos e originais que Deus criou. E também, alcançarmos a dimensão da eternidade, que é um fato natural e verdadeiro, mas depende do entendimento de cada um. Então, meus amigos, vamos sobreviver sempre.

Com consciência, será ainda melhor. Heitor Rodrigues Freire (*) – Corretor de imóveis e advogado.

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