Um chamado urgente para a proteção do Pantanal e os efeitos da crise climática
O Dia Internacional da Redução do Risco de Desastres, registrado em 13 de outubro, faz um chamado à reflexão. Instituído pela ONU em 1989, o dia serve como um lembrete emergencial da necessidade urgente de prevenir e mitigar os efeitos dos desastres naturais localmente. Neste ano, a atenção se volta de maneira especial aos desastres naturais e às desigualdades.
A emergência climática nos alerta para os diferentes níveis de capacidades de enfrentamento dos eventos climáticos extremos, em especial para o Pantanal, um tesouro ambiental do Brasil, que enfrenta desafios sem precedentes. Secas recordes, calor extremo e risco de incêndios florestais, como os ocorridos nos últimos anos, são motivos de grande apreensão.
Estamos cientes que o Pantanal é a maior área úmida tropical do mundo e abriga uma rica e única biodiversidade. No entanto, nos últimos anos, essa área única no planeta tem enfrentado secas devastadoras que diminuíram em mais de 60% a disponibilidade hídrica e cobertura de água na planície. Nos anos de 2019 a 2021, os incêndios afetaram mais de 30% de todo bioma. Os eventos extremos deixaram de ser esporádicos e se tornaram recorrentes e os seus efeitos ameaçam a existência de inúmeras espécies e ecossistemas.
Recentemente, ondas de calor atingiram a maior parte do Brasil e na região do Pantanal os termômetros marcaram temperaturas acima de 44º graus. A situação meteorológica, com baixa umidade, longa estiagem e rajadas de vento, aumenta o risco de incêndios florestais de grandes proporções, além de afetar o abastecimento de água e energia à diversas localidades.
Enquanto área úmida, o Pantanal tem papel essencial na regulação climática da região e, devido a sua extensão, aproximadamente 180.000km², do Planeta. As áreas úmidas, quando saudáveis e conservadas, atuam na diminuição das vulnerabilidades em situação de desastres, como barreiras naturais para inundações, reservatório de água e carbono e provisão de água limpa. Todas as ações que são realizadas nesse ecossistema, especialmente as relacionadas às mudanças no uso do solo, desencadeiam uma série de reações sistêmicas na paisagem.
Com sua vasta extensão territorial e rica diversidade de ecossistemas, o Brasil precisa estar em posição de liderança frente à crise climática global. O desmatamento e seca na Amazônia, as queimadas no Cerrado e no Pantanal, e as mudanças nos padrões de chuva são apenas algumas das manifestações alarmantes dos, já reais, impactos climáticos no país, e urgem para a necessidade de desempenhar esse papel.
Para combater esses desafios, é imperativo que haja uma mobilização coordenada e esforços concentrados para promover a redução do risco de desastres e a adaptação às mudanças climáticas.
Os esforços podem partir do fortalecimento e implementação das legislações ambientais que garantam o desenvolvimento sustentável e saudável dos biomas, em especial às áreas úmidas e ao Pantanal.
Além disso, é fundamental promover continuamente o fortalecimento de capacidades de gestores e da sociedade civil para lidar com as diferentes facetas dos efeitos das mudanças climáticas.
Conscientizar a população sobre a importância da preservação do meio ambiente e os impactos das mudanças climáticas é um passo substancial na busca por soluções sustentáveis.
Além disso, é essencial incentivar a pesquisa e a inovação que fornecem base concreta para a tomada de decisões. Apoiar estudos e tecnologias que contribuam para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e a proteção dos ecossistemas frágeis do Brasil é crucial.
Exemplo disso é a plataforma ALARMES do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA/UFRJ), que colabora com o monitoramento e previsão de incêndios no Pantanal, uma ferramenta online disponível desde março de 2023, primordial para a prevenção de desastres.
O Dia Internacional da Redução do Risco de Desastres é um lembrete da nossa responsabilidade coletiva no combate às desigualdades nos efeitos dos desastres naturais e na redução desses eventos em favor do planeta e suas preciosas paisagens naturais.
Com esforços colaborativos, podemos não apenas preservar o bioma Pantanal e outros ecossistemas vitais do Brasil, mas também fornecer condições de enfrentar a crise climática de forma mais igualitária.
Quando manejamos ecossistemas de maneira saudável e socialmente consciente, garantimos a regulação adequada do microclima, do fluxo de água e diminuição de riscos de desastres. É fundamental compreendermos a importância de conservar esses frágeis ecossistemas para mantermos o equilíbrio ambiental necessário à nossa qualidade de vida e o bem-estar da humanidade.
(*) Julio F. A. Fernandes é mestrando em Geografia Fellow da Youth Climate Leaders e membro da Youth Engaged in Wetlands – juventude engajada em áreas úmidas.