Uma nova condição civilizatória
Além de título de livro que não publiquei, ainda, parece que poucos querem pensar sobre esta inevitável novidade para a humanidade. Sob as mais diversas explicações ou motivos intelectuais, a nossa humanidade caminha entre reconhecer ou virar o rosto para uma nova condição civilizatória que se avizinha inexoravelmente.
Ontem, com início da COP28 em Dubai, uma das maiores produtoras de combustível fóssil e ausência da China e dos EUA, que respondem por 40% das emissões de gases de efeito estufa, havia certa esperança nas decisões necessárias para tentar amenizar os efeitos da crise climática com a presença do Papa Francisco.
Por motivos de saúde, não poderá estar lá para sensibilizar os insensíveis governantes globais. Satanás está a solta mesmo, como diria os bíblicos convictos. O que esperar de mais esta COP da ONU, envolvendo 168 países simpatizantes do capitalismo selvagem?
As guerras do passado e do presente demonstram que as porções primitiva e civilizada no homem continuam a competir. As promessas de igualdade, qualidade de vida, respeito ao meio ambiente, entre outras, não foram cumpridas por este modelo social. Os projetos originais perderam-se nos devaneios ideológicos. Mais do que atribuir culpas, é importante procurar compreender os motivos.
Precisamos avançar para um modelo social maturado pelas experiências do capitalismo e do socialismo. Não adianta negar! Ambos construíram realidades insustentáveis. Será possível um modelo sem relação de dominação sobre a natureza e com a participação efetiva das pessoas?
Ao pretender ser o centro da vida no planeta Terra, o homem desestabilizou seu ambiente. As leis fundamentais da ciência positivista – a regularidade e a previsibilidade dos fenômenos, estão desafiadas. O mundo está provisório. Logo, o aclamado futuro se torna uma possibilidade intangível. Será seu paradoxo final?
Já nos idos anos de 1997, o jornal The New York Times publicou uma prospecção climática global com base em pesquisas médicas e científicas. Doenças e mortes crescentes, derivadas do calor excessivo e da poluição atmosférica - em especial nas áreas urbanas, com riscos principalmente para idosos, crianças, pobres e portadores de moléstias cardíacas e pulmonares. Aumento de lesões e mortes por ocorrências climáticas extremas.
Difusão de doenças infecciosas transmitidas por mosquitos, vírus e bactérias, entre as quais a encefalite virótica, a dengue, a febre amarela e a malária. Propagação de doenças provocadas por água contaminada, como diarreias infantis e cólera-morbus. Diminuição da água potável, por conta de secas, inundações e aumento no nível dos mares. Efeitos prejudiciais aos animais na terra e nos oceanos, afetando a produção de alimentos e o funcionamento do ecossistema que torna plausível a vida no planeta. Portanto, duas décadas de informação científica foram ignoradas pelos governantes.
As políticas de mitigação e adaptação recomendadas pelo Painel Intergovernamental da ONU parecem reconhecer a dificuldade de agir em conjunto e de forma rápida para minorar os efeitos da degradação da biosfera. Diante disso, os comportamentos do homem frente aos problemas da crise climática podem ser reunidos em três tipos:
1. Há os que têm consciência das causas e das consequências, com fundamento científico, econômico e social. Apesar de amparar-se na democracia representativa, o conhecimento não é suficiente para conseguir um consenso participativo. Esta é a atitude de parte de uma casta de dirigentes políticos e econômicos.
2. Há aqueles que têm discernimento para participar de mobilizações, mas ele é utilizado para agir dissimuladamente. Pode ser resumido na frase "de que adianta fazer, se o vizinho não faz". É uma postura presente nas classes A/B/C.
3. De consciência superficial e nebulosa, este grupo não dispõe de tempo para engajamento e articulações em movimentos civis. A prioridade maior é garantir a sobrevivência. Presentes nas classes D/E.
Neste panorama contemporâneo, usar os mesmos ingredientes conceituais e filosóficos para buscar nova receita socioambiental, é malhar em ferro frio, como diria nossos antepassados. E agora José? Que esperança de futuro temos?
(*) Gilberto Verardo é Psicólogo.