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Cidades

Auxílios do governo pagam pouco mais da metade de uma cesta básica

Famílias no Noroeste vivem apenas com renda proveniente de programas sociais do Governo

Beatriz Magalhães | 20/11/2021 12:18

Em um barraco no Jardim Noroeste, Solange Marques Silva, de 44 anos, vive com seis netos, dois filhos e o marido. A renda que sustenta a família corresponde a R$ 230, proveniente de programa social do Governo. A família da Solange é mais uma de muitas que tem como renda apenas o que recebe com programas sociais.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de famílias que vivem exclusivamente de algum tipo de auxílio ou seguro-desemprego mais que dobrou no ano passado, um reflexo da pandemia.

Solange Marques Andrade Silva, moradora do Noroeste que vive apenas com auxílio do Governo (Foto: Kísie Ainoã)
Solange Marques Andrade Silva, moradora do Noroeste que vive apenas com auxílio do Governo (Foto: Kísie Ainoã)

“Meu esposo não pode trabalhar. Ele é diabético, quase perdeu uma perna por causa da doença e também não consegue se aposentar“, conta Solange, acrescentando que um advogado está tentando ajudar o marido a conseguir a aposentadoria.

Analisando o caso, a economista comportamental Andreia Saragoça afirma que em situações como essa não existe nenhum tipo de orientação e que problemas de atraso de contas básicas, como energia, não pode de forma alguma ser classificado como desorganização financeira.

“O valor que essa família recebe para sobreviver não compra uma cesta básica e quando falamos sobre uma situação como essa, sabemos que essa é uma questão de extrema pobreza", ponta Andreia, seguindo.

"É mais uma questão social do que economia comportamental, não dá para orientarmos economizar de alguma forma porque a pessoa precisa, no mínimo, se alimentar”, pontua a economista.

Pobreza - Ainda no Noroeste, o cenário se repete. A jovem de 21 anos Natielly Quirino é mãe de três filhos. O mais velho tem quatro anos, o do meio três e o caçula apenas nove meses de vida. Natielly vive com os três filhos em uma peça emprestada da casa da mãe. Isso porque o vendaval levou o barraco dela.

“Eu conseguia trabalhar, mas precisei sair do serviço para ficar com as crianças. Sou mãe solteira e cuido dos meus filhos com o bolsa família de R$ 250. Agora consegui o vale renda e vou ganhar mais R$200, só que ainda assim a situação é muito difícil. Não recebo pensão do pai das crianças e até entrei na Justiça para conseguir”, afirma a jovem.

Natanielly Barbosa, de 24 anos, com o filho mais novo (Foto: Kísie Ainoã)
Natanielly Barbosa, de 24 anos, com o filho mais novo (Foto: Kísie Ainoã)

Caridade - O que ameniza  o sufoco das famílias são as doações. De acordo com Natanielly Barbosa, 24 anos, as doações de cesta básica são muito bem vindas.

Mãe solo de três crianças ainda pequenas, Natanielly recebe R$ 350 do bolsa-família, mas conta que precisa fazer alguns bicos para poder completar renda. Segundo ela, está difícil encontrar um trabalho.

“Eu faço o que aparece. Minha prioridade é sempre as crianças. Fico sem comer para poder dar o que as crianças precisam. O leite é muito caro e aqui a gente compra em pó para fazer render mais. Fralda também é muito caro, e as crianças precisam usar”, relata.

A maioria das casas visitadas pela reportagem do Campo Grande News, tem mais de três crianças que vivem apenas com a mãe e o cenário, que antes já era preocupante, se tornou ainda mais grave com o advento da pandemia.

“Além do desemprego, a pandemia também provocou a impossibilidade de trabalhar. Acredito que essa situação foi a principal razão desse aumento no número de procura por algum tipo de programa social”, pontua Andréia Saragoça.

A economista ainda completa que situações como essas são muito tristes. "Como economista de mercado, eu analiso o comportamento das pessoas quanto a renda que elas têm, mas encontramos casos muito mais relacionados a problemas sociais, do que realmente de ajuste de renda. Isso escancara a desigualdade social do nosso país”.

 Cesta básica - De acordo com as pesquisas realizadas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), divulgado no início do mês, em Campo Grande o preço da cesta básica apresentou um aumento de 25,62% nos últimos 12 meses. Segundo o instituto, essa é a quarta alta consecutiva no preço dos itens básicos - o aumento apresentado no mês de outubro foi de 3,58%.

Hoje, o valor médio gasto para adquirir alimentos essenciais chega a R$653,40, na Capital, o sexto maior do país. O preço da cesta campo-grandense representa cerca de 64% do  salário mínimo vigente. Dentro da variação do ano, Campo Grande aparece em terceiro, com 13,34%, atrás apenas de Florianópolis (13,83%) e Curitiba (18,42%).

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