Campeã entre 26 universidades, UFMS expulsou 33 alunos que fraudaram cotas
Após denúncias de acadêmicos de Medicina à PF, em 2019, 18 estudantes foram excluídos por não comprovarem a condição de cotista
De 2017 para cá, a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) investigou 44 denúncias de ingresso por fraude em cotas raciais e expulsou 33 acadêmicos que usaram irregularmente o sistema.
O levantamento foi feito pela Folha de S. Paulo com 26 das 69 universidades federais brasileiras que enviaram informações para a reportagem. Conforme a pesquisa, 163 estudantes das instituições que responderam foram expulsos após descoberta de fraude. Ao todo, 729 processos administrativos foram abertos para investigar alunos destes 26 estabelecimentos de ensino, conforme a Folha.
A UFMS é a campeã em número de expulsões. Em segundo lugar, aparece a Universidade Federal do Ceará, que desmatriculou 29 alunos de 2017 até agora.
Medicina - Em 2018, a fraude em cotas para ingresso no curso de Medicina da UFMS, historicamente um dos mais concorridos na universidade, foi tema de matéria do Campo Grande News. Estudantes entregaram um dossiê á Polícia Federal denunciando 23 pessoas que não se enquadrariam nos padrões exigidos para as cotas raciais, sociais e até de pessoas com deficiência.
Vinte e um casos foram investigados e em em fevereiro do ano passado, a UFMS confirmou a exclusão de 18 acadêmicos de Medicina que não conseguiram comprovar a condição de cotista. Pelo menos sete conseguiram voltar ao curso por determinação judicial.
À época, a instituição informou, por meio da assessoria de imprensa, que uma comissão específica analisa todos os pedidos para ingresso por cotas e que os candidatos, depois de toda a documentação entregue, também são avaliados no ato da matrícula por uma comissão de servidores capacitados.
A UFMS garantiu que todos os casos em que é formalizada denúncia são investigados. “A comunidade universitária pode auxiliar nesse processo com a formalização de denúncias na Ouvidoria, noticiando fraudes, fato que, se constatado, pode gerar a exclusão do aluno”, completou a nota.
Naquele ano, 882 pessoas se inscreveram nas seleções por meio das cotas e 540 foram aceitas.
O Campo Grande News tentou dados mais atualizados, mas até o fechamento desta matéria, não conseguiu retorno da UFMS, que somente confirmou os números usados na reportagem da Folha. A UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e o IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) também não deram retorno ainda, para os pedidos feitos pela reportagem no início da manhã.
Cassação – No dia 13 de julho, a UnB (Universidade de Brasília) cassou os diplomas de dois alunos que, conforme investigação, fraudaram as cotas raciais. Foi a primeira vez no Brasil que a medida foi tomada após a conclusão do curso, disse o advogado da ONG Educafro, Irapuã Santana, em entrevista à Folha.
Para ele, uma das razões que explicariam a quantidade de fraudes detectadas é o baixo risco de enfrentar consequências no caso de descoberta.
O fraudador pode responder criminalmente por falsidade ideológica, explicou o advogado, mas ele não tem conhecimento de nenhum caso que tenha sido levado à esfera judicial.