Com R$ 100 milhões em imóveis, quadrilhas viraram alvos por excesso de dinheiro
A lavagem de dinheiro era para “limpar” o lucro com o tráfico de cocaína, descoberto em operações da PF
A movimentação excessiva de dinheiro em Ponta Porã (fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai) foi o começo da derrocada de três organizações criminosas, alvos das operações Sordidum e Prime, deflagradas pela PF (Polícia Federal) no último dia 15. Somente em imóveis, incluindo fazendas, a avaliação é de patrimônio de R$ 100 milhões.
A lavagem de dinheiro era para “limpar” o lucro com o tráfico de cocaína, que por meio dos modais aéreo e rodoviário abastecia tanto grandes centros no Brasil quanto o mercado internacional, com remessa para países da América Central.
“A operação começou acompanhando um grupo que movimentava bastante dinheiro em Ponta Porã. Empresas de fachada que cediam as contas para doleiros paraguaios. Era no patamar de milhões de reais. Sempre exageram”, afirma o delegado Lucas Vilela, que coordenou as operações e integra o Gise (Grupo de Investigações Especiais Sensíveis) da PF em Mato Grosso do Sul. As operações descapitalizam os grupos.
As empresas eram de ramos diversos, como lojas de confecções e revendedoras de alimentos. Nessa etapa, do crime de lavagem de dinheiro, entra em cena os doleiros. O traficante não pode movimentar os valores diretamente nas próprias contas, o que automaticamente despertaria a atenção dos órgãos de fiscalização. Então, o pagamento pela carga de drogas entra em contas de laranjas indicadas pelos doleiros.
Para dificultar que se encontre o rastro do dinheiro, as contas são substituídas após poucos meses.
Estratégias - O primeiro grupo tentava esconder a origem ilícita dos valores com aquisição de fazendas, movimentação em contas de terceiros e empresas de fachada.
A atuação era no tráfico pelo modal aéreo. Modificadas, as aeronaves ganhavam tip tank (tanque extra) para permitir voos acima de 30 horas. Os pilotos que partiam de forma clandestina para a América Central voltavam em voo comercial, ou seja, a entrada no Brasil era registrada, mas a saída não.
O segundo grupo alvo da operação Sordidum ocultava patrimônio em empresas na região de Maringá (Paraná), principalmente com garagens de veículos. A organização explorava a rota do tráfico com a cocaína saindo de Pedro Juan Caballero (Paraguai) e Ponta Porã com destino a grandes cidades brasileiras.
Alvo da Prime, o terceiro grupo, com base em Dourados, mesclava capital licito e ilícito por meio de loja de material de construção e construtora. “São dois irmãos de Dourados. Um era mais dedicado ao tráfico e o outro à lavagem de dinheiro”, diz o delegado.
A cocaína seguia pelas rodovias em direção a Curitiba, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
De Norte a Sul – Num tour por 11 Estados, as operações cumpriram as ordens judiciais em 27 cidades, de Norte a Sul. Os alvos estavam em MS (Campo Grande, Dourados, Ponta Porã, Caarapó e Bonito), Bahia (Lauro de Freitas), Alagoas (Boca da Mata), Rio de Janeiro (Duque de Caxias), Santa Catarina (Itapema, São José e Palhoça), Goiás (Minaçu e Goiânia), Pará (São Félix do Xingu, Xinguara, Tucumã e Redenção), Paraná (Cruzeiro do Sul, Ibaiti, Maringá e Curitiba), Mato Grosso (Confresa, Barra do Garças, Guiratinga e Tesouro), São Paulo (Santa Fé do Sul) e Paraíba (João Pessoa).
A ramificação por tantas cidades é por causa que vários alvos são pilotos do tráfico, com bastante deslocamento, além das teias e relações pessoais e patrimoniais.
O principal alvo do grupo um, por exemplo, é natural de Goiás, tem propriedades no Mato Grosso e foi preso na Bahia. Com mandado de prisão em aberto por homicídio, Ronildo Chaves Rodrigues ainda tentou escapar da prisão apresentando documento falso.
Ao todo, 273 policiais federais cumpriram 64 mandados de busca e apreensão, 25 mandados de prisão preventiva, 11 mandados de prisão temporária, sequestro de cerca de 90 imóveis identificados e bloqueio de bens e valores contra 80 pessoas e empresas.
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