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Cidades

Contra cigarro eletrônico, Vigilância apela para pais vistoriarem mochilas

Fiscal da vigilância sanitária alerta sobre consumo entre estudantes e fala de apreensões em escolas

Por Jéssica Fernandes | 15/07/2024 13:36
DEFs apreendidos em ação de fiscalização no Estado. (Foto: Vigilância Sanitária)
DEFs apreendidos em ação de fiscalização no Estado. (Foto: Vigilância Sanitária)

Denúncias e ações educativas estão entre as principais ferramentas que o Sistema Estadual de Vigilância Sanitária utiliza para tirar o Mato Grosso do Sul das estatísticas que o colocam na 2ª posição no ranking nacional de consumo de cigarro eletrônico. Com o público jovem entre os mais afetados pelos DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar), a vigilância sanitária faz o seguinte apelo: “Pais vasculhem as mochilas”.

A frase em questão não é de nenhum material educativo vinculado pelo órgão nas escolas e sim do fiscal de vigilância sanitária da SES (Secretaria Estadual de Saúde), Matheus Moreira Pirolo. Em entrevista ao Campo Grande News, ele fala que o produto é feito especialmente para esse público-alvo e que o mesmo é facilmente confundido com material escolar.

“Nós da vigilância fazemos um apelo para que os pais vasculhem a mochila, estojo, material escolar, porque o formato do cigarro eletrônico é facilmente confundido com pen drive, borracha”, ressalta.

Ação educativa da Vigilância Sanitária de Fátima do Sul em escola estadual, em maio. (Foto: Vigilância sanitária)
Ação educativa da Vigilância Sanitária de Fátima do Sul em escola estadual, em maio. (Foto: Vigilância sanitária)
Na mesa, coleção de vapes dados por alunos após palestra educativa. (Foto: Vigilância sanitária)
Na mesa, coleção de vapes dados por alunos após palestra educativa. (Foto: Vigilância sanitária)

Apesar de ser proibida a comercialização, importação, armazenamento, transporte e propaganda, o consumo segue correndo solto, inclusive nas escolas de Mato Grosso do Sul. Para tentar minimizar os efeitos dos DEFs entre os menores, a SES tem apostado na conscientização. “A ação mais eficaz é trabalhar a conscientização porque o cigarro eletrônico tem como público-alvo os jovens. Ele é atrativo, colorido”, afirma Matheus.

Além do visual, o sabor é outro ponto que acaba contribuindo para a adesão. Pêssego, melancia, chiclete de morango, baunilha cremosa, frutas tropicais, hortelã, uva são alguns dos sabores inseridos no dispositivo que tem teor de nicotina mais elevado do que o encontrado no ‘cigarro normal’.  Um refil de vape, por exemplo, tem 100 miligramas de nicotina para 0.7 miligramas do cigarro Marlboro vermelho, por exemplo.

Com tanto sabor disponível, para parte dos alunos, conforme o fiscal de vigilância sanitária, o cigarro eletrônico ficou no lugar do chiclete ou da bala.  “O cigarro eletrônico está substituindo a bala, o  drops, no paladar desses jovens. Ele é produzido para qualquer público, mas o alvo são os jovens. O objetivo da indústria do cigarro eletrônico é o público jovem”, comenta.

Ação de apreensão de cigarros eletrônicos no comércio da Capital pela Vigilância Sanitária de Campo Grande (Foto: SESAU)
Ação de apreensão de cigarros eletrônicos no comércio da Capital pela Vigilância Sanitária de Campo Grande (Foto: SESAU)

Ações educativas - Nas escolas públicas do Estado, a SES tem feito campanhas através do órgãos de controle de tabagismo que tem conscientizado os jovens sobre as consequências que os DEFs trazem.

Segundo Matheus, alguns diretores das redes municipais já contataram a vigilância sanitária com dispositivos eletrônicos que estavam rodando entre os alunos. Além disso, durante palestras, já ocorreu de alguns estudantes entregarem por vontade própria o vape.

Paralelo às palestras feitas pelos órgãos de controle de tabagismo, a Vigilância Sanitária tem levado adiante protocolo criado para o enfrentamento da comercialização. Em abril deste ano, o Sistema Estadual de Vigilância Sanitária em conjunto com as vigilâncias sanitárias intensificou as ações após a deliberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que manteve a proibição dos cigarros eletrônicos.

O protocolo vai desde conscientização a ações repressivas no comércio. No caso de estabelecimentos que comercializam, fazem propaganda, armazenem e até mesmo permitam o consumo dos  DEFs, as consequências incluem apreensão do produto, cassação do alvará, multa de R$ 26 mil e interdição de até 90 dias.

Nesse contexto, Matheus fala que os donos de comércio devem ficar atentos. Embora a sensação seja de ‘liberação total’, ele reforça que não é assim. “O comerciante tem que ser orientado, saber que se enveredar por esse tipo de negócio está sujeito a multa e apreensão do produto. A sensação é de liberação geral, mas pela lei é proibido”, pontua.

Por enquanto ainda não dá pra saber os efeitos das ações mais firmes iniciadas em abril. A previsão é que o balanço de apreensões sai no próximo quadrimestre. Nesses dados também será possível saber como está o cenário nas escolas públicas.

O fiscal de vigilância sanitária da SES reforça que é fundamental a participação da sociedade em relação às denúncias. “As denúncias são muito importantes e temos um número baixo, pedimos para a população auxiliar. Temos recebido denúncias de comercialização por Instagram e Facebook e encaminhamos para a Policia Civil para fazer apuração por envolver crime de contrabando”, explica.

Efeitos a longo prazo - A previsão é que nos próximos 10 anos, os jovens de hoje tenham problemas na saúde antes dos 30 anos. Parte dos atuais consumidores podem apresentar doenças pulmonares, cerebrovasculares e cancerígenas.

A longo prazo, o fiscal de vigilância sanitária, diz que no Brasil o sistema de saúde público pode ficar sobrecarregado. “O que está em jogo é a saúde, o adoecimento, o custo que a utilização desse dispositivo vai gerar no sistema público no futuro. [...] Isso  vai aumentar o gasto com a reparação desse tipo de adoecimento. [...]  Vão chegar muitos jovens na rede pública que vão disputar a vaga com aquela pessoa que teve adoecimento natural”, declara.

Ele também enfatiza que na leitura da Anvisa, o consumidor não é visto como infrator. “A Anvisa trata o usuário como doente, ele não infrator, por isso o uso individual não é proibido, mas você fazer uso para fumar em ambiente fechados ou parcialmente fechados ainda que individual é proibida”, esclarece.

A expectativa é que, principalmente entre os jovens, os  DEFs sejam deixados de lado.  “O cigarro eletrônico é a febre do momento e a gente espera que tenha um declínio sim em função das campanhas que temos feito”, finaliza.

Para denunciar, o telefone é 0800 647 0031.

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