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Cidades

Croda acredita que pandemia pode caminhar para o fim ainda no 1º semestre do ano

Pesquisador e professor da UFMS diz que covid poderá ter caráter "endêmico"

Guilherme Correia | 23/02/2022 09:36
Pesquisador e professor da UFMS, Julio Croda. (Foto: Agência Brasil/Reprodução)
Pesquisador e professor da UFMS, Julio Croda. (Foto: Agência Brasil/Reprodução)

Uma das maiores referências brasileiras quando o assunto é a pandemia da covid-19, o pesquisador da Fiocruz e presidente da SBMT (Sociedade Brasileira de Medicina Tropical) Julio Croda acredita que o período pandêmico pode estar chegando ao fim.

Em entrevista ao jornal O Globo, o infectologista e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) explicou que ainda no primeiro semestre deste ano, a doença possa ter caráter "endêmico".

Croda avalia que a covid poderá ser registrada de tempos em tempos, mas com letalidade e incidência em menor escala, assim como ocorre em doenças como a gripe ou dengue. “Eu diria que estamos caminhando para o fim da pandemia e vamos entrar numa fase endêmica, com períodos sazonais epidêmicos, como já acontece com a gripe e a dengue, por exemplo.”

“Passar da pandemia para a endemia não significa que a gente não vai ter o impacto da covid-19 em termos de hospitalização e óbito. Significa que esse impacto vai ser menor a ponto de não ser necessário medidas restritivas tão radicais e eventualmente até a liberação do uso de máscaras, que é uma medida protetiva individual.”

Segundo ele, isso só é possível por conta do avanço da vacinação - que reduz, em geral, casos mais complexos da doença. “Isso se deve justamente pelo avanço da imunidade coletiva da população mundial. Estamos avançando muito mais às custas de vacinação do que da infecção. Ela foi a grande mudança de paradigma, que reduziu a letalidade da covid-19 de um número 20 vezes maior que o da influenza para duas vezes maior nesse momento.”

Segundo o pesquisador, o que define o fim da pandemia e o início da endemia da covid-19 seria o quão letal o vírus é. “O grande marcador é a letalidade. Ou seja, quanto a covid mata. Esse vírus só vai matar menos se tiver alta cobertura vacinal. As pessoas que morrem, atualmente, fazem parte de três grupos: idosos muito extremos mesmo vacinados, pessoas com muita comorbidade e pessoas não vacinadas.”

“À medida que avançamos na vacinação, a tendência é reduzir essa letalidade. Foi assim com a influenza H1N1, quando surgiu a pandemia em 2009. Partimos de uma letalidade de 6% e isso foi reduzido para 0,1%.”

Tempo da pandemia - Croda ressaltou que cada local terá um tempo diferente para haver flexibilização. “Será diferente em cada região e cada país, pois depende da cobertura vacinal, da letalidade e da dinâmica da transmissão. Diversos países começarão, de alguma forma, a diminuir as medidas restritivas, cancelando a obrigatoriedade do uso de máscaras, de manter distanciamento, de evitar aglomeração.”

“Isso já acontece na Europa. Depois da onda de Ômicron, todos os países flexibilizaram. Muitos deixaram de exigir o uso de máscara. Se não existem medidas restritivas, se a recomendação eventualmente seja a vacinação e doses de reforços anuais, não faz sentido eles continuarem mobilizados em uma resposta pandêmica, de emergência em saúde pública."

No Brasil, diz ele, é possível que no primeiro semestre, a situação se torne “mais favorável”, o que implicaria em “declarar que não estamos mais em emergência de saúde pública, por exemplo”.

O número de hospitalizações e óbitos é que vai determinar o impacto sobre o serviço de saúde.”

Segundo ele, que esteve à frente do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, durante a gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta, a Europa caminha para ter mais da metade que a população com três doses e quase 80% com duas doses. "No esquema da Ômicron, três doses é o esquema básico de vacinação.”

Ainda em 2020, o ex-secretário de Saúde de Campo Grande foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), e Croda deixou de exercer cargo público no governo federal.

Vacinação - Julio Croda defende que a população busque a imunização e que autoridades de Saúde reforcem campanhas para incentivo - atualmente, novos grupos têm sido incluídos na quarta dose, mas o Estado tem menos que a metade já com a terceira dose.

As diferentes vacinas aplicadas ao longo do esquema vacinal têm capacidade de ampliar a imunização e mantê-la por mais tempo. “A quarta dose é importante principalmente para os idosos e pessoas com comorbidades. Essas pessoas foram as primeiras a receber o esquema básico com duas doses e muitos receberam essa terceira dose em setembro, no máximo em outubro.”

Então, já tem quatro meses dessa terceira dose. Como a gente sabe que existe uma queda de proteção ao longo do tempo, seria importante eles receberem um novo reforço. As vacinas foram perdendo a sua efetividade e proteção principalmente pelo surgimento de novas variantes.”

Em relação à Coronavac, Croda ressalta que há “imunológica menor” em grupos idosos, ainda que esta patente tenha sido “fundamental para iniciar a vacinação”.

No País, ainda vive-se aumento de infecções e casos graves, mas a tendência é que haja redução a partir de março. “A gente ainda vive o pico da Ômicron. Ainda não podemos adotar as medidas europeias. A nossa cobertura vacinal é diferente, a dinâmica da pandemia aqui é diferente, ela chegou mais tardiamente.”

“Temos que observar nossos indicadores. O mês de fevereiro ainda vai ter muita transmissão, muita hospitalização, muito óbito. Em algum momento teremos que fazer essa discussão, mas provavelmente isso será a partir do meio de março.”

Em nível nacional, os casos já têm reduzido - ainda que no Estado, a média móvel continue em alta. “Quando tivermos uma situação favorável, os gestores vão começar a copiar as medidas que foram implementadas na Europa, principalmente no que diz respeito às flexibilizações. Isso deve acontecer à medida que a média móvel de óbitos, que é o último indicador a cair, chegue nos períodos pré-Ômicron. A curva de novos casos já começou a cair e a de mortes deve começar a diminuir em breve.”

Em relação ao Carnaval - ao qual vários municípios sul-mato-grossenses decidiram não realizar neste início de ano -, o infectologista avalia que o impacto ainda seja indefinido. “O que pode acontecer, a depender da cidade e do estado, é a redução da velocidade de queda do número de casos, mas não uma retomada.”

"Mas a dinâmica da onda epidêmica vai ser a mesma. Mesmo com um evento de massa, que eventualmente esteja associado a aglomeração e transmissão, não haverá suscetíveis suficientes para uma nova onda. A não ser que surjam novas variantes, que sejam mais transmissíveis que a Ômicron e tenham um escape da resposta imune do que a Ômicron.”

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