Em 2 hospitais da Capital, diagnósticos de doença que leva à cegueira aumentaram
Santa Casa e Humap-UFMS possuem ambulatórios de oftalmologia para pacientes SUS
Silencioso e responsável por causar cegueira irreversível, o glaucoma está sendo cada vez mais diagnosticado em Campo Grande. Neste domingo (26) é o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma e especialistas alertam para a importância dos exames periódicos.
O Campo Grande News analisou os registros da doença em apenas dois ambulatórios de oftalmologia, que recebem pacientes SUS (Sistema Único de Saúde), normalmente regulados após passarem pelas Unidades de Saúde da Família.
Em 2022, Santa Casa de Campo Grande e Humap-UFMS (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), juntos, diagnosticaram 401 novos pacientes com a doença. Enquanto no ano de 2023 foram 551, o que representa um aumento de 37,4%. E este ano já são 59 novos casos na Santa Casa.
Para o chefe da disciplina de oftalmologia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Luiz Taranta, a principal causa desse aumento é a demora na procura por um atendimento especializado. “O paciente deveria se preocupar com glaucoma especialmente acima dos 40 anos, em que deveria fazer consultas de rotina anuais. Nessas consultas, o médico mede a pressão ocular e pode diagnosticar glaucoma nas fases mais precoces”, destaca o professor.
Ele estima que 3% da população brasileira tenha a doença, o que representa 24 mil pessoas em Campo Grande. “É muito preocupante, pois é a doença que mais cega no Brasil e no mundo”, alerta.
Com o objetivo de levar mais conscientização, o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) promoveu a campanha “24h pelo Glaucoma”, realizada no Shopping Campo Grande. No Mato Grosso do Sul, o Conselho é representado pelo Arthur Resende, que se especializou na doença pelo Wills Hospital dos Olhos, da Filadélfia (EUA).
“Nós recomendamos que os exames sejam feitos anualmente, pois é uma doença silenciosa que ganha território muito rápido quando há demora no diagnóstico, que causa cegueira irreversível”, reforça Arthur.
É importante esclarecer que o glaucoma é uma doença crônica que atinge o nervo óptico, estrutura responsável por conectar o que o olho enxerga com o cérebro para formar a visão. A pressão intraocular, suficientemente elevada, lesiona o nervo óptico progressivamente e, infelizmente, não é possível recuperar as partes do nervo que foram lesadas. Assim, o glaucoma não tratado corretamente pode levar a perda permanente da visão.
Após o diagnóstico, a pessoa precisa fazer uso de colírios, que podem chegar a custar mais de R$ 200, com uso diário, acaba em menos de um mês. Arthur lembra que o Mato Grosso do Sul é pioneiro no fornecimento gratuito deste medicamento a qualquer pessoa diagnosticada com a doença, seja SUS ou particular.
“Como a maioria dos pacientes são idosos e possuem outras doenças, acabam priorizando as outras e dão menos importância para o colírio, vindo a perder a visão. Na pandemia o Estado rompeu essa barreira econômica e agora todos podem ter acesso, inclusive dos mais bem avaliados, basta ter a receita e procurar a Casa da Saúde”, orienta.
Mas há casos em que o medicamento diário não é suficiente. A artesã Viviane Soares Monteiro, de 39 anos, foi a terceira filha a herdar o glaucoma juvenil do pai e precisou passar por cirurgia para não perder mais ainda a visão. A pressão ocular normal fica em 15, na família delas, podendo ultrapassar de 30 a medição.
“Descobri depois que minha irmã gêmea já estava sendo atendida no HU, sendo que meu irmão tinha passado pela cirurgia anos antes e meu pai quando tinha aproximadamente 30 anos. Nosso caso é diferente, é agravado pela genética, mas acho que nem os recém diagnosticados têm noção dos riscos, pois não sentem nada e acabam não usando o colírio. É aí que podem ficar cegos”, compartilha a artesã.
Embora tenha diferentes tipos e manifestações, na maior parte dos casos o glaucoma é assintomático: não dói, não coça, não arde, não causa qualquer incômodo. Ainda assim, continua danificando o nervo óptico e, somente quando a doença está avançada, o paciente começa a perceber dificuldade de enxergar. O tratamento consegue manter a visão do paciente, mas os danos ao nervo não podem ser revertidos.
O paciente submetido a tratamentos a laser ou cirúrgicos ainda precisam de acompanhamento frequente com o oftalmologista, pois esses procedimentos podem ser insuficientes ou perder o efeito com o tempo. Cada caso deve ser avaliado individualmente pelo médico oftalmologista, para que se possa definir a abordagem de tratamento mais adequada.
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