Em MS, só 10% das rodovias estaduais são planejadas; projeto prevê segurança
Engenheira explica como funcionam os projetos e chama atenção para a importância dos acostamentos nas rodovias
Mato Grosso do Sul contabiliza 145 rodovias estaduais com extensão total de 15.215,1 quilômetros, porém apenas 1.557 quilômetros são de rodovias "planejadas". Além do índice pequeno, nem essas “MS” têm acostamento, meio-fio ou guard-rail.
Elaborado pela Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), o documento “Sistema Rodoviário do Estado de Mato Grosso do Sul” traz dados de 2024 a respeito da rede rodoviária, divisão de trechos, acessos, contornos e outros detalhes que não especificam quais e quantas rodovias têm ou não os itens de segurança.
A reportagem procurou a Agesul para encontrar dados nesta quinta-feira (26). Em resposta, a agência diz que existe um estudo em andamento que propõe a construção de acostamentos em novas rodovias e nas obras de restauração de pavimentos, mas sem indicar onde e quanto isso dignifica.
O órgão informa apenas que, com foco em aumentar a segurança viária, o estudo também inclui a implementação de acostamentos em rodovias já pavimentadas por gestões anteriores.
Rodovias que não tem acostamento em toda extensão, como a MS-306 e MS-112, devem ganhar em breve o aparato em toda sua integralidade, de acordo com a Agesul. “O mesmo se aplica à MS-040, também na sua integralidade, que está incluída no pacote da Rota da Celulose, que prevê também a concessão das rodovias MS-338, MS-395 e das BR-262 e BR-267”, completa a nota.
Outro esclarecimento da agência é em relação às rodovias onde se faz necessário a construção de sistemas de drenagem e reforço de segurança. "A Agesul considera essencial a instalação de meio-fio e guard-rail. Além disso, mantemos um serviço de manutenção ativo e eficiente para garantir reparos constantes nesses dispositivos, assegurando a segurança dos usuários.
Desenhando rodovias - Engenheira aposentada do antigo Dersul (Departamento de Estradas de Rodagem de Mato Grosso do Sul), Sueli Santos Teixeira é especialista quando os assuntos são as rodovias do Estado.
De primeira, ela explica que o motivo de algumas rodovias estaduais não terem acostamento e os outros componentes para reforçar a segurança viária é devido ao período em que as obras foram executadas. "A maioria dessas rodovias que não tem acostamento são da época da divisão do Estado, muitas delas não tinham tráfego suficiente para que fossem melhor elaboradas", diz.
Para dar um exemplo de como o cenário era outro há décadas, Sueli compartilhou dados de 1979 da Dersul sobre o sistema rodoviário do Estado. Naquele ano, Mato Grosso do Sul tinha apenas 194 quilômetros das vias estaduais pavimentadas.
Para mudar essa realidade, conhecer o tráfego, conforme a engenheira, é essencial na definição de um projeto para poder definir espessura de pavimento, largura da faixa e também a sinalização. Ela cita outros pontos que são levados em consideração na elaboração de um projeto.
“As rodovias são classificadas em classes e a função da situação dela. Nesta situação conta topografia de terreno, locais de passagem, todos os elementos que vão ser analisados na elaboração de um projeto. Tem determinados parâmetros que são obrigatórios e outros não”, diz.
A relevância da implementação desses elementos, como o guard-rail e acostamentos, varia. “A importância da implementação de cada um deles vai depender da geometria e das características do local de passagem da rodovia. Com essa lei, rodovias estaduais novas terão que dispor de acostamentos em seus projetos”, destaca.
Sobre a lei aprovada hoje, a engenheira declara que a obrigatoriedade de incluir o acostamento é uma medida técnica importante para a redução de acidentes. Agregado aos outros componentes, as rodovias estaduais podem se tornar mais seguras e controladas.
“Esperamos que as demais rodovias nas quais as estatísticas mostram um grande número de acidentes venham a passar por uma avaliação detalhada dos seus locais de passagem e que com isso os gestores estaduais incluam nos seus planos de manutenção a avaliação e identificação de pontos críticos para a instalação desses componentes, que são essenciais”, fala.
Além de rodovias bem planejadas contribuírem para um tráfego seguro, Sueli reforça que para maior eficácia desses projetos é fundamental a conscientização dos condutores. “Principalmente motoristas e pedestres, quanto ao respeito a sinalização e aos limites de velocidade”, pontua.
Segurança nas estradas - O inspetor Fábio Sodré da PRF (Polícia Rodoviária Federal) destaca que as rodovias que contam com acostamento, meio-fio e guard-rail garantem mais segurança aos condutores e fazem a diferença em diversos cenários.
“Quando a gente analisa a segurança viária nós temos três aspectos importantes que são a parte de infraestrutura e engenharia, legislação e fiscalização e a parte da educação. Os itens (meio-fio, acostamento e guard-rail), principalmente no caso das rodovias, estão atuando no pilar da infraestrutura”, explica.
Independente de ser federal ou estadual, a rodovia bem planejada, segundo o PRF, é capaz de oferecer proteção de diversas formas. Ele cita alguns exemplos. “O acostamento é importantíssimo porque ele vai dar apoio para os condutores em casos de emergência, uma situação inesperada, um pane mecânica, ele vai conseguir retirar seu veículo do fluxo sem atrapalhar a circulação do trânsito”, diz.
Em casos de ultrapassagens mal sucedidas, o acostamento pode ser usado como uma válvula de escape. “O acostamento é fundamental, principalmente, para as questões emergenciais”, frisa. O guard-rail, conforme o inspetor, também desempenha função importante, sendo uma delas que veículos avancem para pista contrária.
Feito de aço moldado, o material também é capaz de minimizar a gravidade de alguns acidentes e proteger os ocupantes do veículo. “O guard-rail fica naquelas regiões oferecendo uma proteção para que caso o veículo perca o controle ou numa dinâmica de sinistro não caia, por exemplo, na ribanceira, rio. [...] No impacto, ele absorve e dissipa aquela energia como uma forma de minimizar os danos para o veículo e seus ocupantes”, esclarece.
O meio-fio também tem seu valor quando se trata da dissipação de energia, além disso, ele também garante manutenção da própria rodovia. “O meio-fio exerce a função da proteção da estrutura viária. Para que o acostamento fique em boas condições, o meio-fio é o que vai fazer a canalização da chuva, escoamento, evitar que haja efeito da erosão”, comenta.
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