"Garotos-propaganda" ou enganados: policiais são citados em ação contra pirâmide

A operação Romeu Sierra India, que coincidentemente trouxe nas iniciais o nome do principal alvo – a RSI Investimentos -, padrão nada usual nas ações da Polícia Federal, mostra que os policiais foram polivalentes.

Eles são citados como garoto-propaganda na hora de atrair clientes, também foram lesados no esquema e decisão judicial cita que policial civil intimidou vítima. Ele é esposo de Lucelena da Silva, que foi presa na operação da última quarta-feira (dia primeiro). O grupo oferecia serviços de investimento na bolsa de valores para aplicar golpe da pirâmide.

De acordo com ação contra a RSI, que tramita na 11ª Vara Cível de Campo Grande, os clientes policiais eram exibidos como vitrine para fisgar interessados.

“Foi apresentado também que tal empresa possuía milhares de clientes, estrutura física em Dourados e Ponta Porã MS e que a mesma era uma empresa idônea, pois tinham inclusive vários policiais militares, civis, federais, e pessoas do judiciário que investiam na empresa”, informa a peça processual. A ação de perdas e danos cobra R$ 134.567.

O processo é contra a empresa e oito pessoas. A lista inclui Lucelena da Silva, Clodoaldo Pereira dos Santos e Lucas Carvalho Lopes. Os dois últimos são proprietários da RSI Investimentos.  Inclusive, no ano de 2019, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) fez alerta sobre a situação.

A operação da Polícia Federal foi autorizada pela 5ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande, especializada em combate à lavagem de dinheiro. Em decisão divulgada na semana passada, consta que Lucelena é uma das pessoas mais atuantes na organização criminosa, com ligação bastante estreita com seu líder, utilizando suas contas bancárias para movimentação de valores.

“Consta, ainda, que seu marido, que é policial civil, chegou a intimidar uma das vítimas. Assim, sua segregação temporária é imprescindível para o bom termo das investigações, a fim de evitar eventual dilapidação patrimonial e intimidação de testemunhas”, informou despacho da Justiça Federal, publicado na última sexta-feira (dia 3).

Vítimas – Conforme divulgado pela PF, uma parte considerável dos investidores lesados é composta por policiais de diversas instituições de segurança pública do Estado.

A organização criminosa era composta por três grandes núcleos. Um era integrado por sócios da empresa e pelos responsáveis na aplicação dos valores no mercado de capitais, os quais se ficavam com a maior parte dos valores investidos pelos clientes.

Outro setor era formado pelos corretores, responsáveis pela captação dos recursos dos investidores, para aplicação no mercado de valores mobiliários. O último era composto pelas ações de logística. Já para enganar os clientes, a empresa montou estrutura que contava com página na internet, programas de gerenciamento de investimentos e um sofisticado manual do investidor.

A Justiça decretou bloqueio de mais de R$ 40 milhões em bens móveis e imóveis da organização criminosa, além de valores depositados em contas bancárias dos investigados.  A PF cumpriu mandados em Dourados, Campo Grande, Ponta Porã, Naviraí, Porto Murtinho e Amambai. Além de Franca (São Paulo) e Maringá (Paraná).

A reportagem entrou em contato com a defesa de Lucelena Silva e aguarda retorno. O Campo Grande News não conseguiu contato com a defesa dos demais citados.