ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, TERÇA  16    CAMPO GRANDE 15º

Interior

Vítimas de golpe venderam todo patrimônio para ter lucro fácil em ações na bolsa

Derrocada da RSI Negócios Financeiros começou em 2019; quatro sócios foram presos hoje

Helio de Freitas, de Dourados | 01/09/2021 17:24
Antiga sede da RSI em Ponta Porã; empresa fechou escritórios e donos sumiram (Foto: Arquivo)
Antiga sede da RSI em Ponta Porã; empresa fechou escritórios e donos sumiram (Foto: Arquivo)

Atraídos pela promessa de ganhar dinheiro fácil e se tornarem os novos milionários do século 21, vítimas da empresa RSI Negócios Financeiros Ltda. chegaram a vender todo o patrimônio e entregar o dinheiro nas mãos dos golpistas.

Para enganar seus investidores, a empresa, que mantinha sede em Dourados até 2019, disponibilizava gráficos e planilhas discriminando valores investidos e os ganhos com as supostas aplicações em bolsa de valores. Era tudo golpe.

Hoje (1º), sócios, corretores e demais integrantes da organização criminosa foram alvos da Operação Romeu Sierra India, deflagrada pela Polícia Federal. Dois mandados de prisão preventiva e dois de prisão temporária foram cumpridos, além de 19 mandados de busca e apreensão em Dourados, Campo Grande, Ponta Porã, Naviraí, Porto Murtinho, Amambai, Franca (SP) e Maringá (PR).

A reportagem apurou que os dois sócios-proprietários e fundadores da RSI são Clodoaldo Pereira dos Santos, residente em Amambai, e Lucas Carvalho Lopes, com residência oficial na Rua Monte Alegre, no Jardim América, em Dourados. Esse local que também aparecia como endereço da RSI Negócios Financeiros.

Como a Polícia Federal não divulgou os nomes dos alvos dos mandados de prisão e o processo na Justiça Federal está em sigilo, não foi possível confirmar se Clodoaldo e Lucas Carvalho estão entre os presos.

Especialista - Outra personagem importante do golpe é o baiano Diego Rios dos Santos, 28, considerado o cérebro do esquema. Para convencer potenciais investidores, Rios se apresentava como “um dos maiores day trader do País”. Day trader é o termo usado no mercado financeiro para o sistema de compra e venda de ações em um único dia.

Atualmente, pelo menos 43 processos por danos morais e materiais, pedido de restituição de dinheiro e de bloqueios de bens dos golpistas estão em andamento na área cível da Justiça de Mato Grosso do Sul. Só em Amambai, cidade natal de Clodoaldo, são 12 ações.

O Campo Grande News teve acesso a uma dessas ações, que tramita desde 2019 na 5ª Vara Cível em Campo Grande. No processo, em que figuram como vítimas cinco pessoas da Capital (empresários, veterinário e servidor público) fica evidente o bem articulado esquema montado pela quadrilha para atrair gente que se ilude com promessas de lucros exorbitantes no mercado financeiro.

Começou a ruir – Depois de meses do auge de captação de dinheiro em várias cidades brasileiras e quase dois mil investidores, começou a derrocada da RSI Negócios Financeiros.

Dezenas de clientes começaram a pedir retirada de seus capitais ou pelo menos parte do lucro apontado nas planilhas demonstrativas, mas não conseguiram sucesso.

Nesse momento, os operadores do esquema passaram a informar aos clientes que a RSI estava migrando seu operacional para o exterior e que em poucos dias o dinheiro estaria disponível.

Se os investidores preferissem, poderiam deixar o capital investido porque teriam ainda lucro ainda maior. Também ventilaram que a empresa passaria por grande expansão, mudando a sede para Campo Grande com planos de passar a trabalhar com status de banco.

Desse momento em diante a situação só piorou. Quando procuravam o dinheiro investido, os clientes ouviam que a solução ocorreria “em breve” ou “na próxima semana”. Ao mesmo tempo, a RSI e seus corretores continuavam a captar novos clientes.

Mais envolvidos - Outros nomes ligados à empresa citados no processo são Cesar Augusto Trindade Insauralde, residente em Ponta Porã; Lucelena da Silva, moradora em Campo Grande; Caique Constanci; Marco Aurélio Dias Oliveira e José Paulo Alfonso Barros, residente em Ponta Porã.

Diego Rios dos Santos, o cérebro do esquema, se apresentava aos clientes como Pedro Rios e apesar de afirmar ser especialista em day trader, ele não tinha certificação para atuar no mercado financeiro.

Em junho de 2019, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) emitiu alerta ao mercado e ao público em geral que a RSI Negócios Financeiros, bem como seus sócios proprietários Clodoaldo Pereira dos Santos e Lucas Carvalho Lopes, não estavam autorizados a exercer atividades no mercado de valores mobiliários. Foi nesse momento que a Polícia Federal começou a investigar o caso, culminando na operação de hoje.

Reino Unido – Ainda na esperança de manter o golpe e continuar tirando dinheiro dos clientes, os operadores do RSI chegaram a mandar print da tela de computador para mostrar saldo de R$ 39 milhões investidos em suposta conta bancária.

Eles também anunciaram aos investidores – que há meses tentavam reaver seu dinheiro – a suposta instalação da empresa no Reino Unido, sob o nome de RSD Invest, de propriedade de Marco Aurélio Dias Oliveira e José Paulo Alfonso Barros.

José Paulo atuava como gerente responsável por saques na RSI e cuidava da captação de novos investidores. O capital dos investidores da RSI estaria em conta no City Bank, segundo os golpistas.

As promessas de solução se repetiram semana após semana, mas sem qualquer resultado concreto. O site da empresa e as redes sociais foram desativados. Os clientes passaram a não receber mais contato dos representantes e corretores da empresa. Ao mesmo tempo em que fugiam os clientes lesados, o grupo continuava captando novos investidores.

Segundo a PF, há casos em que investidores aplicaram na empresa mais de R$ 200 mil. Pelas contas bancárias da RSI circularam pelo menos 60 milhões durante dois anos. Parte desse dinheiro foi remetida para Londres.

Nos siga no Google Notícias