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Vítimas de golpe venderam todo patrimônio para ter lucro fácil em ações na bolsa

Derrocada da RSI Negócios Financeiros começou em 2019; quatro sócios foram presos hoje

Helio de Freitas, de Dourados | 01/09/2021 17:24
Antiga sede da RSI em Ponta Porã; empresa fechou escritórios e donos sumiram (Foto: Arquivo)
Antiga sede da RSI em Ponta Porã; empresa fechou escritórios e donos sumiram (Foto: Arquivo)

Atraídos pela promessa de ganhar dinheiro fácil e se tornarem os novos milionários do século 21, vítimas da empresa RSI Negócios Financeiros Ltda. chegaram a vender todo o patrimônio e entregar o dinheiro nas mãos dos golpistas.

Para enganar seus investidores, a empresa, que mantinha sede em Dourados até 2019, disponibilizava gráficos e planilhas discriminando valores investidos e os ganhos com as supostas aplicações em bolsa de valores. Era tudo golpe.

Hoje (1º), sócios, corretores e demais integrantes da organização criminosa foram alvos da Operação Romeu Sierra India, deflagrada pela Polícia Federal. Dois mandados de prisão preventiva e dois de prisão temporária foram cumpridos, além de 19 mandados de busca e apreensão em Dourados, Campo Grande, Ponta Porã, Naviraí, Porto Murtinho, Amambai, Franca (SP) e Maringá (PR).

A reportagem apurou que os dois sócios-proprietários e fundadores da RSI são Clodoaldo Pereira dos Santos, residente em Amambai, e Lucas Carvalho Lopes, com residência oficial na Rua Monte Alegre, no Jardim América, em Dourados. Esse local que também aparecia como endereço da RSI Negócios Financeiros.

Como a Polícia Federal não divulgou os nomes dos alvos dos mandados de prisão e o processo na Justiça Federal está em sigilo, não foi possível confirmar se Clodoaldo e Lucas Carvalho estão entre os presos.

Especialista - Outra personagem importante do golpe é o baiano Diego Rios dos Santos, 28, considerado o cérebro do esquema. Para convencer potenciais investidores, Rios se apresentava como “um dos maiores day trader do País”. Day trader é o termo usado no mercado financeiro para o sistema de compra e venda de ações em um único dia.

Atualmente, pelo menos 43 processos por danos morais e materiais, pedido de restituição de dinheiro e de bloqueios de bens dos golpistas estão em andamento na área cível da Justiça de Mato Grosso do Sul. Só em Amambai, cidade natal de Clodoaldo, são 12 ações.

O Campo Grande News teve acesso a uma dessas ações, que tramita desde 2019 na 5ª Vara Cível em Campo Grande. No processo, em que figuram como vítimas cinco pessoas da Capital (empresários, veterinário e servidor público) fica evidente o bem articulado esquema montado pela quadrilha para atrair gente que se ilude com promessas de lucros exorbitantes no mercado financeiro.

Começou a ruir – Depois de meses do auge de captação de dinheiro em várias cidades brasileiras e quase dois mil investidores, começou a derrocada da RSI Negócios Financeiros.

Dezenas de clientes começaram a pedir retirada de seus capitais ou pelo menos parte do lucro apontado nas planilhas demonstrativas, mas não conseguiram sucesso.

Nesse momento, os operadores do esquema passaram a informar aos clientes que a RSI estava migrando seu operacional para o exterior e que em poucos dias o dinheiro estaria disponível.

Se os investidores preferissem, poderiam deixar o capital investido porque teriam ainda lucro ainda maior. Também ventilaram que a empresa passaria por grande expansão, mudando a sede para Campo Grande com planos de passar a trabalhar com status de banco.

Desse momento em diante a situação só piorou. Quando procuravam o dinheiro investido, os clientes ouviam que a solução ocorreria “em breve” ou “na próxima semana”. Ao mesmo tempo, a RSI e seus corretores continuavam a captar novos clientes.

Mais envolvidos - Outros nomes ligados à empresa citados no processo são Cesar Augusto Trindade Insauralde, residente em Ponta Porã; Lucelena da Silva, moradora em Campo Grande; Caique Constanci; Marco Aurélio Dias Oliveira e José Paulo Alfonso Barros, residente em Ponta Porã.

Diego Rios dos Santos, o cérebro do esquema, se apresentava aos clientes como Pedro Rios e apesar de afirmar ser especialista em day trader, ele não tinha certificação para atuar no mercado financeiro.

Em junho de 2019, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) emitiu alerta ao mercado e ao público em geral que a RSI Negócios Financeiros, bem como seus sócios proprietários Clodoaldo Pereira dos Santos e Lucas Carvalho Lopes, não estavam autorizados a exercer atividades no mercado de valores mobiliários. Foi nesse momento que a Polícia Federal começou a investigar o caso, culminando na operação de hoje.

Reino Unido – Ainda na esperança de manter o golpe e continuar tirando dinheiro dos clientes, os operadores do RSI chegaram a mandar print da tela de computador para mostrar saldo de R$ 39 milhões investidos em suposta conta bancária.

Eles também anunciaram aos investidores – que há meses tentavam reaver seu dinheiro – a suposta instalação da empresa no Reino Unido, sob o nome de RSD Invest, de propriedade de Marco Aurélio Dias Oliveira e José Paulo Alfonso Barros.

José Paulo atuava como gerente responsável por saques na RSI e cuidava da captação de novos investidores. O capital dos investidores da RSI estaria em conta no City Bank, segundo os golpistas.

As promessas de solução se repetiram semana após semana, mas sem qualquer resultado concreto. O site da empresa e as redes sociais foram desativados. Os clientes passaram a não receber mais contato dos representantes e corretores da empresa. Ao mesmo tempo em que fugiam os clientes lesados, o grupo continuava captando novos investidores.

Segundo a PF, há casos em que investidores aplicaram na empresa mais de R$ 200 mil. Pelas contas bancárias da RSI circularam pelo menos 60 milhões durante dois anos. Parte desse dinheiro foi remetida para Londres.

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