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Cidades

General alvo da PF em MS teve celular apreendido e nega trama para golpe

Casa de oficial, em Campo Grande, foi vasculhada ontem; ele é suspeito de planejar tomada do poder

Por Dayene Paz e Idaicy Solano | 09/02/2024 12:23
Laércio Virgílio conversou com a reportagem na manhã desta sexta-feira. (Foto: Paulo Francis)
Laércio Virgílio conversou com a reportagem na manhã desta sexta-feira. (Foto: Paulo Francis)

"Nunca teve tentativa de golpe". A afirmação é do coronel reformado Laércio Virgílio, 69 anos, que diz ser amigo do ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro (PL), ambos investigados na Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, que cumpriu ordens judiciais nesta quinta-feira (8). A ação é contra grupo acusado de disseminar mentiras sobre fraude nas Eleições Presidenciais de 2022.

Aposentado com posto de general-de-brigada, Vírgilio é natural de Adamantina (SP), mas mora no Bairro Buriti, em Campo Grande, onde recebeu a equipe de reportagem do Campo Grande News na manhã desta sexta-feira (9). Ontem, a PF apreendeu o celular e a pistola dele em buscas no endereço, mas o oficial do Exército garante: "não tenho nada a temer, ninguém fez nada de ilegal".

Segundo a investigação da PF, o "General Vírgílio", como era chamado, foi um dos responsáveis pelo “planejamento operacional" para a prisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes. Contudo, aparentemente tranquilo, o general garante que não sai de casa desde 2020 e, por isso, não tinha como planejar um golpe. "Passei por três cirurgias e estava desenganado pelos médicos. Desde então, não saio de casa", garante.

Para o general, a tentativa de golpe de Estado é uma narrativa inventada. "Por quem tem interesse justamente em dar o golpe, que foi o que nós sofremos. Nunca teve tentativa de nada, muito menos da minha parte. Não participei de nenhuma passeata".

Ele contou que "serviu o quartel" por sete anos junto com Bolsonaro, sem explicar em que local, e disse conhecer "a índole" do ex-presidente da República. "Ele jamais pensou em dar o golpe, nem ele e nenhuma das pessoas envolvidas que eu conheço, muito menos ferir a Constituição, que é nossa lei maior. Nunca se pensou em virar a mesa e nunca passou na cabeça do Bolsonaro aplicar força", pontuou.

O general comenta que se vê, agora, do lado mais fraco e que está passando por muita tensão. "A gente espera que a justiça seja feita, se não for a dos homens, a justiça divina", diz. "Eu gostaria de ter participado das manifestações pacificas e não concordo com o que aconteceu no dia 8 de janeiro, sou levado pela lei e ordem", completou.

Esquema - Um dos planos era estar atento ao golpe para prenderem o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, no dia 18/12/2022. Virgílio integrava o núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos. Junto com ele estavam o ex-ministro Chefe da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto, Almir Garnier Santos, Mario Fernandes, Estevam Theofilo Gaspar de Oliveira e Paulo Nogueira de Oliveira.

O grupo teria se utilizado do cargo que tinha nas Forças Armadas para influenciar e incitar o apoio aos demais núcleos de atuação, por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas, para a consumação do golpe de Estado.

Além de Vírgilio, outros oficiais que têm ligação com Mato Grosso do Sul são citados na investigação da Polícia Federal, sendo: o tenente-coronel do Exército, Sérgio Ricardo Cavaliére de Medeiros, e o coronel do Exército Brasileiro, Bernardo Romão Corrêa Neto.

Coronel Bernardo Romão Corrêa Neto durante palestra no Exército (Foto: Divulgaçaõ/EB)
Coronel Bernardo Romão Corrêa Neto durante palestra no Exército (Foto: Divulgaçaõ/EB)

Cavaliére fez parte do grupo empenhado em espalhar desinformação e ataques ao sistema eleitoral. Ele atuou, portanto, na “produção, divulgação e amplificação de notícias falsas e de 'estudos' quando à falta de lisura das eleições, além de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e de instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para a execução de um golpe de Estado”.

Bernardo é suspeito de ter empregado técnicas de militares com formação em Forças Especiais para direcionarem manifestações nas portas dos quartéis e nos atos voltados às invasões em 8 de janeiro de 2023.

Tempus Veritatis - O nome da operação vem do latim: "a hora da verdade". Justamente faz referência às mentiras disseminadas pelos investigados sobre fraude no sistema eleitoral.

Segundo a PF, é apurada uma "tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder".

As apurações apontam que o grupo se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito. O objetivo era viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.

O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação de mentiras sobre vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.

O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.

Foram alvos de medidas cautelares: Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República; Valdemar Costa Neto, presidente do PL; Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro em 2022; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública; General Paulo Sérgio Nogueira, ex-comandante do Exército; Almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha; General Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército; Tércio Arnaud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro e considerado um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”.

Ainda foram alvos: Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão reformado do Exército expulso após punições disciplinares; Amauri Feres Saad, advogado citado na CPI dos Atos Golpistas como “mentor intelectual” da minuta do golpe encontrada com Anderson Torres; Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército que chegou a ocupar cargo de direção no Ministério da Saúde na gestão Eduardo Pazuello; Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres; Eder Lindsay Magalhães Balbino, empresário que teria ajudado a montar falso dossiê apontando fraude nas urnas eletrônicas; Guilherme Marques Almeida, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres; e Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército.

Já os mandados de prisão foram expedidos contra: Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro; Marcelo Câmara, coronel do Exército citado em investigações como a dos presentes oficiais vendidos pela gestão Bolsonaro e a das supostas fraudes nos cartões de vacina da família Bolsonaro; Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército; e Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do Exército.

O presidente do PL (Partido Liberal), Valdemar Costa Neto, acabou preso pela Polícia Federal durante a Operação Tempus Veritatis. Ele era um dos alvos de mandado de busca e apreensão, mas, durante varredura no prédio onde mora, em Brasília (DF), onde também funciona a sede do PL, a PF o prendeu por porte ilegal de arma de fogo.

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