Hospitais de MS vivenciam aumento das super-bactérias, como em todo o País
Elas causam infecções cada vez mais difíceis de serem controladas por antibióticos
As super-bactérias representam desafios cada vez maiores nos tratamentos de doenças. A Afip (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa) divulgou ao Estadão, na semana passada, estudo que mostra aumento no seu surgimento em hospitais de todo o País.
Esses microrganismos são chamados de "super" pela sua resistência até aos antibióticos mais poderosos, capazes de combater diversas bactérias de uma só vez. Não à toa, a OMS (Organização Mundial da Saúde) os classifica como a maior ameaça à saúde na atualidade.
Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia em Mato Grosso do Sul, Andyane Tetila confirma que esse aumento ocorre regionalmente. Ele é atestado por órgãos do próprio Estado, como a Vigilância Sanitária, e são comunicados obrigatoriamente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A infectologista explica que dados internos de cada hospital não costumam ser divulgados, por isso, análises geralmente se baseiam em números gerais.
As mais preocupantes - Em dezembro do ano passado, a Secretaria Estadual de Saúde publicou um plano para controle das infecções causadas por microrganismos super-resistentes, em que destaca o aumento da resistência de, pelo menos, quatro bactérias.
Uma delas é a Stafilococcus aureus. O ser minúsculo causa vários tipos de infecção, desde furúnculos até septicemias (sepse), endocardites (infecções no coração) e abscessos. "Ela vem demonstrando aumento da ocorrência de resistência ao uso do antibiótico referência para seu tratamento, a oxacilina, entre os anos de 2019 a 2021, levando-se em conta os dados dos principais hospitais de Mato Grosso do Sul", destaca a médica.
O documento analisa dados de 2012 a 2022, com ênfase às resistências que cresceram a partir de 2019, ano em que a Covid-19 foi identificada pela primeira vez no mundo.
Pandemia e uso abusivo - A indicação do "kit covid" contendo o antibiótico azitromicina para tratar o que, na verdade, é um vírus, pode ser relacionada aos fatores que provocaram aumento da resistência de bactérias no organismo de pacientes.
"Acelerou o avanço da resistência. Houve uso abusivo, sem respaldo nenhum. Teve um impacto grande", diz Andyane.
O uso abusivo também ocorre no cotidiano de consultórios médicos, principalmente sob indicação de alguns pediatras. "Podem se sentir pressionados pelos pais da criança a receitar um antibiótico em casos em que não se sabe se é uma infecção viral ou bacteriana, levando o paciente a adquirir essa resistência muito cedo", aponta.
Falha no ensino de médicos, veterinários e dentistas - os únicos que podem receitar antibiióticos - é outro fator que explica o crescimento, segundo a presidente da sociedade de infectologia no Estado. "A insegurança dos prescritores está associada. É por isso que os hospitais precisam ter um corpo clínico de infectologia, com chefia, para decidir sobre cada caso. Os mais potentes só podem ser prescritos com o aval de toda a equipe", acrescenta.
Soluções - A infectologista aponta como uma das principais medidas contra a super-resistência, a educação em saúde para a população, começando no ensino infantil.
Outra é o investimento dos governos em pesquisas que desenvolvam novos medicamentos e novas vacinas.
Por último, fortalecer a formação de infectologistas. "É um desafio constante na implementação do ensino, o saber prescrever", pontua.
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