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Cidades

Investigação do Gaeco aponta que 15 advogados prestavam serviços ao PCC

Gaeco desvendou como atuam em MS os “gravatas” do PCC, facção criminosa que age dentro e fora dos presídios

Dayene Paz e Anahi Zurutuza | 29/03/2022 11:41
Bruno Ghizzi deixando condomínio acompanhado de promotor do Gaeco (de terno azul marinho), delegado do Garras e policiais, no dia em que foi preso. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Bruno Ghizzi deixando condomínio acompanhado de promotor do Gaeco (de terno azul marinho), delegado do Garras e policiais, no dia em que foi preso. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Investigação apontou que 15 advogados fazem parte da "Sintonia dos Gravatas", grupo que prestava "serviços" ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que age dentro e fora dos presídios brasileiros. Quatro deles foram presos na Operação Courrier, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), na última sexta-feira (25).

A participação de cada um no esquema ainda é investigada pela polícia, pois não há provas suficientes para incriminar a todos. Alguns deles apenas são citados em conversas telefônicas pelos advogados presos Bruno Ghizzi, Inaiza Herradon Ferreira, Paula Tatiane Monezzi e Thais de Oliveira Caciano.

Para a investigação, não resta dúvida de que os quatro citados integrem a organização criminosa do PCC. Isso porque, interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça revelaram como cada um agia no esquema, atendendo à ordens de presos e faccionados.

Investigação - Conforme o Gaeco, o esquema dos "gravatas" foi descoberto quando, estranhamente, dados sobre autoridade policial do Estado foram consultadas no Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional), logo após depoimento do servidor da segurança pública em ação penal. Apurações preliminares levaram a polícia até Rodrigo Pereira da Silva Correa, o então chefe de cartório da 1ª Vara de Execuções Penais de Campo Grande, e ao advogado Bruno Ghizzi.

Foi levantado que existiam dois “tipos” de advogados contratados pela organização, os “de processo” e os “de recados”. Estes últimos foram alvos da investigação, não só por terem a função fazer fluir a troca de informações entre presos e levar as ordens (ou "salves") das lideranças ao universo “extramuros”, mas também por viabilizarem o cometimento de crimes. Os “gravatas” são ainda responsáveis pela disseminação dos “salves” – mensagens coletivas enviadas pelo PCC – e também administram contas bancárias ligadas à facção.

Atentados - Ghizzi revelou à polícia nomes de advogados que fariam parte da “Sintonia dos Gravatas” em Mato Grosso do Sul, mas rapidamente, passou de delator a investigado. Ele revelou à polícia que havia tido contato com Marco Antonio Arantes de Paiva, advogado Marco Willians Herbas Camacho, conhecido como “Marcola”, um dos principais líderes do PCC e responsável por comandar o “braço jurídico” da facção.

O narcotraficante, condenado a centenas de anos de prisão, supostamente, estava intrigado com as transferências de presos da Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira, a “Supermáxima” da Capital, para outras unidades penais com regras “mais brandas” e queria detalhes.

Dentre os outros planos do PCC que vieram à tona ao longo das investigações, estão, por exemplo, as ordens para o cometimento de atentados contra promotores de Justiça de Goiás e Mato Grosso do Sul. Isso, supostamente, por causa da insatisfação de “Marcola” com transferências de membros da organização a presídios federais. Em diálogos trocados entre Rodrigo e Bruno, também foram encontradas ordens do PCC para o assassinato de promotores e juízes de Minas Gerais.

A análise das mensagens interceptadas e conversas por telefone grampeadas é extensa e revela ainda rede de pagamento de propinas para, no fim, beneficiar integrantes da facção. Os valores variam muito. Há citações de depósitos de R$ 2 mil, R$ 10 mil, R$ 40 mil, pagamentos em serviços, viagens e até "em droga", além da menção a honorários “específicos” cobrados pelos “gravatas” pelas atuações “extras”.

A operação – Na sexta-feira, dia 25, Gaeco e Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), além de policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário) foram às ruas da Capital, Dourados, Jardim e Jaraguari para cumprir um total de 38 mandados judiciais.

Além de prender os quatro advogados, a operação também levou para a prisão, o agentes penitenciários Jonathas Wilson Moraes Cândido, Rodrigo Pereira da Silva e Kamila Mendes de Souza. Há ainda servidores da Defensoria Pública suspeitos de envolvimento no esquema. Os alvos são investigados por integrarem organização criminosa, violação do sigilo profissional, corrupção passiva e ativa.

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