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Cidades

Mães de crianças autistas reclamam de demora em mutirão de saúde mental

Sesau aponta que a demora foi causada por demanda espontânea, mas que o atendimento foi humanizado

Por Ketlen Gomes e Mylena Fraiha | 15/03/2025 19:12
Mães de crianças autistas reclamam de demora em mutirão de saúde mental
Parte das pessoas que esperavam por atendimento no Caps Infantojuvenil. (Foto: Paulo Francis)

O mutirão realizado neste sábado (15) pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) gerou diversas reclamações de mães e responsáveis que buscaram atendimento para os filhos no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Infantojuvenil. A iniciativa tinha como objetivo atender crianças e adolescentes e reduzir a fila de espera na saúde mental. No entanto, mães relataram ao Campo Grande News que não foram informadas de que se tratava de um mutirão.

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Mães de crianças autistas enfrentaram dificuldades durante mutirão de saúde mental em Campo Grande, organizado pela Sesau. A ação visava reduzir a fila de espera, mas gerou reclamações devido à falta de comunicação sobre o evento e à longa espera. Algumas crianças passaram mal devido ao calor e à falta de alimentação. A Sesau justificou a demora pelo processo detalhado de triagem e garantiu que todos seriam atendidos. A secretária de Saúde destacou a divulgação do mutirão e as medidas para amenizar o calor. O evento contou com 162 profissionais e apoio do Samu.

Kátia Amorim Figueiredo, de 44 anos, tem dois filhos autistas e foi ao local para tentar atendimento para o mais novo, de oito anos. Ela contou que chegou às 8h30 e saiu às 14h15 sem atendimento, pois a espera era longa e os filhos, que têm seletividade alimentar, estavam sem almoço.

O filho mais velho, de 16 anos, ficou sob os cuidados de uma vizinha. No entanto, quando passou do horário habitual do almoço, ele teve uma crise, pois só consegue se alimentar na presença da mãe. Por ter um grau mais severo de autismo, ficou agitado e agressivo, causando preocupação tanto para a cuidadora quanto para Kátia.

A dona de casa disse que tentou falar com os responsáveis pelo mutirão para explicar a situação dos filhos, mas afirmou não ter recebido atenção e ouviu apenas que deveria aguardar. Enquanto o mais novo sentia fome, os médicos residentes interromperam o atendimento para almoçar. “Chegava marmita para os médicos, comida para todo mundo, e as crianças lá, esperando”, reclamou.

Kátia também disse que a mensagem recebida não informava que seria um mutirão, apenas um atendimento comum. “Me mandaram mensagem dizendo que meu horário seria às 10h”, afirmou. Ela relatou ainda que, até o meio-dia, estavam distribuindo pipoca, mas depois a oferta foi interrompida. Sobre a água, contou que acabou por volta das 11h e que não havia copos nos bebedouros. Uma nova remessa chegou às 13h, mas, segundo ela, estava quente.

A mãe espera há quatro anos por atendimento com neurologista para o filho mais novo e, desde 2024, também aguarda consulta com psiquiatra. “Ele estava sendo atendido no ano passado, mas precisou fazer três cirurgias de hérnia e ficou internado. Por isso, perdeu a consulta. Se falta uma vez, volta para o fim da fila”, lamentou.

No mutirão, Kátia passou por uma triagem, onde forneceu dados como o cartão do SUS (Sistema Único de Saúde), e depois recebeu outra senha. Nesse momento, tentou falar com a coordenação, mas não encontrou um responsável. “Faziam a gente de boba e ninguém resolvia nada”, criticou.

Daiana Magalhães da Silva, de 38 anos, também enfrentou dificuldades. Mãe de duas crianças, de sete e 11 anos, ela chegou às 12h e, até as 17h, quando a reportagem esteve no local, ainda não havia sido atendida, passando apenas pela triagem. Para ela, a maior dificuldade foi a demora. “Muitos foram embora. A gente realmente precisa. Eu creio que há grandes profissionais aqui para atender nossos filhos bem, mas mandaram muita gente no mesmo dia e horário. Está superlotado, tem gente passando mal”, desabafou.

Mães de crianças autistas reclamam de demora em mutirão de saúde mental
Daiana Magalhães estava na espera por atendimento ao filho. (Foto: Paulo Francis)

A única mãe ouvida pela reportagem que conseguiu atendimento foi Débora Aline, de 35 anos. Ela chegou às 14h15, com consulta marcada para as 15h. Ao chegar, encontrou muitos responsáveis criticando a demora. Nesse tempo de espera, o filho de 11 anos, que tem autismo severo, teve uma crise.

“Meu filho tem laudo de autismo, déficit cognitivo intelectual e retardo mental, porque eu consegui no particular. Ele começou a ter uma crise, e eu falei para a funcionária: ‘Olha, ele está passando mal, o que eu faço?’. Aí, me passaram na frente”, relatou Débora.

No entanto, a mãe alega que o atendimento, na verdade, era uma reavaliação para verificar se as crianças e adolescentes realmente precisavam do serviço e para uma reclassificação na fila de espera. Porém, como já possuía um laudo e uma receita de medicamento emitidos por um médico da rede particular, ao passar pela consulta, a profissional que a atendeu agendou o retorno do filho para dali a dois meses e apenas refez a mesma prescrição que Débora já tinha.

Todas as mães ouvidas pela reportagem, assim como outras pessoas que entraram em contato com o jornal, mas preferiram não se identificar, relataram que havia muitas pessoas e crianças na unidade. Segundo elas, várias passaram mal devido ao calor, ao longo tempo de espera e à falta de alimentação adequada. Afirmam ainda que não foram preparadas para um mutirão, pois acreditavam que se tratava de consultas com horário marcado, conforme a mensagem que receberam do Sisreg (Sistema de Regulação).

“Tinha muita gente que chegou mais cedo que eu. Falta coordenação, falta uma estrutura melhor. Se vão fazer um mutirão para atender autistas e outras comorbidades, não é assim que se faz. Tinha que ter sido avisado”, criticou Kátia.

Mães de crianças autistas reclamam de demora em mutirão de saúde mental
Mensagem que mães receberam para marcar o atendimento. (Foto: Reprodução)

Sesau - Para a secretária municipal de Saúde, Rosana Leite, a demora estava dentro do esperado, motivo pelo qual a pasta disponibilizou atividades lúdicas, além de sorvetes e pipoca para as crianças. Ela também reforçou que a realização do mutirão foi amplamente divulgada na mídia.

Julio Ricardo França, assessor técnico e enfermeiro da Coordenadoria da Rede de Atenção Psicossocial, informou que, ao todo, 162 pessoas trabalharam da ação. O mutirão foi organizado com uma preocupação especial em relação a possíveis crises que as crianças e adolescentes poderiam ter, contando, por isso, com o apoio do Samu e da Coordenadoria de Urgência para atender casos emergenciais.

Sobre a demora no atendimento, França apontou vários fatores, como a triagem psicossocial, que exige mais tempo por ser um processo detalhado, a procura de pacientes adultos e do interior do Estado e a demanda espontânea. Ele afirmou ainda que, mesmo que o horário previsto para o atendimento fosse até as 19h, se fosse necessário estender um pouco para atender a todos, isso seria feito.

O enfermeiro destacou também que o mutirão foi planejado e estruturado com diversas capacitações para os profissionais envolvidos, que passaram por quatro etapas de treinamento. “Conseguimos atender toda a nossa fila com êxito, acolhendo de forma familiar, envolvendo toda a família e integrando essa rede”, afirmou.

França acrescentou que os pacientes estão sendo encaminhados para atendimento e acompanhamento nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e em outras instituições que fazem parte da rede de saúde mental da Capital.

Em nota, a Sesau informou ainda que a equipe do Caps adotou medidas para amenizar o calor e garantir um atendimento humanizado às pessoas que aguardavam.

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