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Cidades

Passado 1 mês, investigação sobre professora baleada não avançou

Atingida com um tiro na lombar, Anderci foi deixada no hospital dia 23 de fevereiro e morreu ontem

Paula Maciulevicius Brasil | 22/03/2021 13:59
Professora, Anderci da Silva também se candidatou à vereadora em Dourados, no ano passado. (Foto: Reprodução/Facebook)
Professora, Anderci da Silva também se candidatou à vereadora em Dourados, no ano passado. (Foto: Reprodução/Facebook)

A investigação sobre a morte da professora Anderci da Silva, de 44 anos, deve ser retomada só na semana que vem, quando o expediente volta ao normal na Polícia Civil. O caso começou a ser investigado pela 3ª Delegacia de Polícia da Capital depois que Anderci foi deixada no Hospital da Cassems, área de atuação do distrito policial, no dia 23 de fevereiro.

Baleada na lombar, nas primeiras diligências a polícia chegou ao local do fato, uma rua próxima ao seminário, na região do Bairro São Francisco. O tiro teria sido disparado de fora do veículo.

A primeira suspeita caiu sobre o namorado, no entanto, segundo a polícia, tudo indica que foi uma terceira pessoa. Como a região onde o crime aconteceu é de cobertura de outra delegacia, o caso foi repassado à 2ª Delegacia de Polícia, que informou que a investigação não chegou até agora por lá. Também não há movimentação na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).

Nesta semana, por causa do feriadão em Campo Grande, só as delegacias de pronto atendimento e Deam estão funcionando, em regime de plantão.

Abandonada - Anderci morreu na noite desse domingo (21), quase um mês depois de ser deixada na porta do hospital. O veículo onde ela estava quando levou o tiro chegou a ser apreendido pela polícia.

Com quadro gravíssimo, a professora ficou internada durante todo o tempo no CTI e teve uma piora infecciosa, febre persistente e baixa pressão arterial, na noite de ontem. O óbito foi atestado por volta das 19h30.

Quatro dias após o crime, uma das filhas de Anderci procurou à Polícia Civil e informou que a mãe era concursada em Dourados, mas passou a morar na Capital com um namorado, em agosto do ano passado.

Desde a mudança, a filha tinha dificuldades de manter contato a mãe e a última vez que as duas teriam se falado foi em dezembro. Segundo ela, o namorado da professora era usuário de drogas. Anderci possuía um veículo Voyage, prata, que não havia sido localizado até o dia 27 de fevereiro, data em que a família foi até à delegacia.

Homenagens - Nas redes sociais, as mensagens de carinho revelam parte de quem foi Anderci. De Dourados, a morte da professora e militante comoveu amigos de causa e familiares.

"Se a senhora soubesse a dor que eu to sentindo, ta doendo tanto mãezinha, porque você me deixou, uma parte de mim está gritando de dor, como eu vou sentir saudade de você, da sua voz do seu cheiro do seu toque, cuida de mim daí de cima, não me deixe fraquejar e por favor nunca solte a minha mão, eu sempre carregarei na lembrança todos os momentos que eu vivi ao seu lado, eu nunca vou deixar de te amar minha estrelinha de brilhante", disse uma das filhas no Facebook.

Uma outra filha também descreveu Anderci como a melhor pessoa que Deus poderia ter lhe dado como mãe. "Essa mulher me ensinou qual é o meu lugar dentro dessa sociedade opressora e machista, ela me ensinou sobre o empoderamento da mulher, ela me ensinou a ser uma mulher de luta!"

Nas diversas publicações com mensagens de luto, amigos definem a professora como "guerreira", mulher com "M maiúsculo" e "companheira de luta". Militante, muitas fotos de Anderci em passeatas e movimentos pedindo por justiça foram publicadas.

Sindicalista, a professora tentou uma cadeira na Câmara dos Vereadores da cidade de Dourados em 2020. À época das eleições, na página do Facebook, a candidata se descreve como "sindicalista desde criancinha". "Essa é uma das frases que literalmente definem Anderci, mulher de muitas lutas que iniciou sua trajetória sindical ainda pequena, quando a mãe, na época, metalúrgica em São Paulo, a levava para atos em defesa dos trabalhadores", diz a publicação.

Ainda no perfil, a página fala que a professora foi criada na periferia e por isso conhecia a dura realidade de jovens que não encontram oportunidades nas comunidades em que vivem e a necessidade de construir uma nova realidade. Sob o lema "chega de patifaria!", Anderci convocava eleitores a comparecerem às urnas.

Anderci também foi vice-presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul) regional de Dourados de 2014 a 2017. Em nota de pesar, a federação diz que registra a tristeza pelo falecimento da companheira. "A Fetems e os 74 Simteds (Sindicatos Municipal dos Trabalhadores em Educação) enaltecem a história de lutas da companheira, assim como reconhecem a mulher forte e guerreira que sempre esteve presente nas mobilizações e movimentos da categoria".

Velório - O corpo da professora ainda está no Imol (Instituto Médico e Odontológico Legal) da Capital, a previsão é de que seja levado para Dourados na noite de hoje ou na manhã desta terça-feira (23). O velório será na Capela Bom Jesus, em frente ao cemitério municipal, ainda não há informações sobre o sepultamento.

A família não quis conversar com o Campo Grande News. O caso será investigado pela 2ª Delegacia de Polícia Civil da Capital. Sobre a retomada das investigações.

Segundo a assessoria da Polícia Civil, a última movimentação  sobre o caso foi pra 2ª DP, mas não esclarece se o crime continuará a ser investigado nessa delegacia. Mesmo assim, garante que "não haverá qualquer tipo de suspensão da investigação uma vez que, apesar do feriado determinado, os policiais continuam realizando as investigações mesmo atuando em home office".

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