PF preso pela Omertà recebeu transferência de R$ 2,5 mil do filho de "Fuad"
Everaldo Monteiro de Assis, o "Jabá", usou sistema da PF para pesquisar três vítimas de execuções atribuídas a milícia
O policial federal Everaldo Monteiro de Assis, o "Jabá", preso desde 27 de setembro do ano passado, na primeira fase da operação Omertà, usava a estrutura e informações privilegiadas da corporação federal para prestar serviços clandestinos à organização criminosa chefiada por Fahd Jamil, 79 anos, e Flávio Correia Jamil Georges, 35 anos, sediada em Ponta Porã, cidade lado a lado com Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Pai e filho estão foragidos, com mandado de prisão expedido na terceira fase da Omertà, deflagrada nesta quinta-feira (18).
Everaldo está preso na 3ª Delegacia de Polícia Civil, no Bairro Carandá, em Campo Grande.
A investigação contra a organização criminosa conseguiu localizar, pelo menos, 1 transação de R$ 2,5 mil em benefício do policial, feita por "Flavinho", como é conhecido o filho de "Fuad", homem reconhecido há décadas como um dos mais poderosos mafiosos na região de fronteira.
O serviço de "Jabá" à milícia armada, à qual são imputadas execuções de inimigos do clã Fahd, é o mesmo prestado por ele à organização "co-irmã" de Campo Grande, alvo da primeira e segunda fases da Omertà, também por se dedicar a execução de inimigos. O PF fazia buscas nos sistemas da Corporação para montar dossiês sobre desafetos, entre eles homens mortos em situações típicas de crime de pistolagem.
Ao autorizar a prisão do policial federal, o juiz Marcelo Ivo de Oliveira, titular da 7ª Vara Criminal em Campo Grande, citou pen-drives apreendidos com o policial federal nos quais havia dados sobre três pessoas executadas, supostamente a mando de Fuad: o servidor público Alberto Aparecido Roberto Nogueira, o "Betão, que foi morto e teve o corpo carbonizado em 2016, o sargento da Polícia Militar Ilson Figueiredo, executado em junho de 2018, em Campo Grande, e de Orlando da Silva Fernandes, o "Bomba", fuzilado em outubro de 2018, no Jardim Autonomista, na Capital.
Todas são, conforme as apurações já reveladas, execuções feitas por vingança ao sumiço de Daniel Jamil Georges, o "Danielito", filho do "Rei da Fronteira".
Propina - Os dados levados à Justiça pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), com base em investigações de força-tarefa da Polícia Civil, indicam que a importância em dinheiro citada foi transferida a Everaldo em 25 de novembro de 2018, portanto um mês após a morte de Orlando Bomba.
No documento, a expressão usada para definir o repasse é pagamento de propina por levantamento de informações das vítimas.
Everaldo Monteiro de Assis é representado pelo escritório do juiz aposentado Odilon de Oliveira, ex-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul. O advogado disse ao Campo Grande News nesta sexta-feira (19) continuar depositando "total confiança" no policial, a quem conhece "há mais de 20 anos" e que, inclusive, atuou como segurança dele em várias oportunidades, incluindo a campanha eleitoral.
Oliveira afirmou que a prisão de agora repete os fatos da anterior. Essa será, informou, uma de suas alegações em pedido de habeas corpus contra a decisão.
Outros elementos - O juiz Marcelo Ivo, no despacho de mais essa preventiva para o policial federal, disse que pode ser alegado que se tratava de negócio lícito entre Everaldo e "Flavinho", mas anota ser evidente, diante das provas coletadas, o uso da condição de policial federal para as atividades de apoio à organização criminosa comandada por "Fuad" Jamil.
Ainda está escrito que "Jabá" tinha proximidade com outro preso na operação de ontem, Rodrigo Betkowiski de Paula Leite, o Rodrigo Patron. Rodrigo, junto com o irmão, havia sido alvo da segunda fase da Omertà, em março. Nesta quinta-feira, foi preso.
Ele é, segundo consta da decisão do magistrado, apontado como responsável por transportar valores em espécie, operação típica de grupos criminosos, para bancar a estrutura, incluindo compras de armas e as execuções em si.
Existe a citação, para comprovar a proximidade, de que o policial federal chegou a permitir, em 27 de outubro de 2018, que Rodrigo fizesse foto empunhando a arma cautelada ao policial pelo Estado.
Há registro também de viagens juntos a Ponta Porã, inclusive com o flagrante de fotografia tomando cerveja no Shopping China.
À organização existente na fronteira são atribuídos os crimes de tráfico de armas ou munição de uso restrito, corrupção passiva, corrupção ativa e obstrução da justiça, entre outros crimes graves, descreve o magistrado em seu despacho.