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Cidades

Planilha do Galã do PCC une empresa, Hilux roubada e emprego de lavar dinheiro

Segundo a PF, modelo adotado por Galã já mostra mais “refinamento” se comparado ao de Pavão

Aline dos Santos | 09/09/2020 10:11
Elton Leonel, o Galã, foi preso no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2018.
Elton Leonel, o Galã, foi preso no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2018.

“O denunciado Elton Leonel não nasceu rico, não herdou grande fortuna, não ganhou em loteria, nem desenvolveu atividade econômica lícita que lhe permita justificar minimamente seu patrimônio. A explicação da origem do dinheiro é bastante simples: crime organizado.”

 Com expertise em tráfico de drogas e armas, a facção criminosa PCC (Primeiro Comado da Capital) tem lavagem de dinheiro considerada embrionária, ainda sem os requintes de ocultação da grana ilícita capaz de lhe conferir título de máfia.

Porém, essa modalidade criminosa, que revela a faceta contábil e mais administrativa da “firma”, encontra terra fértil no mercado imobiliário da fronteiriça Ponta Porã, como demonstra denúncia do MPF (Ministério Público Federal) contra Elton Leonel Rumich da Silva, o Galã do PCC.

Documentos apreendidos em notebook e diálogos em celulares mostram pedido de “emprego” para lavar dinheiro e planilhas em que empresa, dona de 36 imóveis, se mistura a pagamento de caminhonete roubada.

De acordo com a denúncia do MPF, já aceita pela 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande, Elton Leonel não nasceu rico, não ganhou na loteria e que a origem do dinheiro é simples: crime organizado.

Os ganhos arrecadados de forma ilícita são apontados como razão do vigor financeiro para a JB Progresso Construtora Imobiliária e Incorporadora Eireli EPP. A empresa foi aberta em 2014 para atuar no ramo de construção civil, com capital social de R$ 50 mil e com sede na Avenida Brasil,  a via com agências bancárias, hotéis e restaurantes em Ponta Porã. Os donos eram Bruna Gomes e Jameson Gomes.

Conforme o Ministério Público, o verdadeiro dono era Elton Leonel, com atuação já consolidada na fronteira do Brasil com Ponta Porã. Em 2016, o capital social foi aumentado para R$ 100 mil e as irmãs Tânia e Vânia Montania, que mantiveram relacionamento com Elton se tornaram sócias da JB Progresso. A empresa também mudou de endereço, transferida para imóvel que é, na verdade, uma residência.

Jameson Gomes é apresentado como braço-direito de Galã e solicitou função mais administrativa no PCC: lavar dinheiro. “Tenho certeza que sou mais útil para você com o meu nome limpo e fazendo algo para limpar seu dinheiro”.

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Já planilha apreendida em notebook mostra que o aluguel da JB Progresso era mantido na mesma planilha de pagamento com uma caminhonete Hilux roubada. Conforme a investigação, a planilha “Resumo de pagos 17-02-2015” mostra entrelaçamento da manutenção de atividades criminosas do PCC e a JB Progresso, usada para lavar dinheiro.

Em 2014, foram adquiridos 17 imóveis em Ponta Porã e registrados em nome da JB Progresso. E maio de 2015, nova aquisição de 17 imóveis. Atualmente, a JB Progresso ainda figura como proprietária formal de 36  imóveis localizados em Ponta Porã.  A defesa de Elton Leonel foi procurada pela reportagem e informou que vai se manifestar nos autos.

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Galã x Pavão - De acordo com a PF (Polícia Federal), o modelo de lavagem de dinheiro adotado por Galã já mostra mais “refinamento” se comparado a de Jarvis Gimenes Pavão, narcotraficante sul-mato-grossense.  No caso de Galã, foi aberta empresa para administrar os bens, enquanto o esquema de Pavão era de colocar o patrimônio diretamente em nome de parentes ou funcionários. Ambos estão presos.

Recentemente, Pavão foi alvo da operação Pavo Real, que fez prisões em Ponta Porã e também sequestrou imóveis na cidade fronteiriça, mais um demonstrativo de como o dinheiro do crime circula pelo mercado imobiliário.

A apuração da Polícia Federal também já identificou sistemas de lavagem de dinheiro mais apurado. Com a grana suja bancando empresas que existem de fato e contabilidade própria.

 Mas, no entanto, o mais comum ainda é o modelo tradicional e familiar de criar artificialmente um patrimônio “legal”, com o dinheiro de origem criminosa bancando compras de imóveis e veículos. A expectativa é de que os imóveis apreendidos de Elton Leonel sejam leiloados.

Na fronteira, um complicador é que empresas são abertas tantos em solo brasileiro quanto paraguaio.

Fronteira entre Pedro Juan Caballero (Paraguai) e Ponta Porã: terra fértil para lavar dinheiro do crime no mercado imobiliário. (Foto: Marcos Maluf)
Fronteira entre Pedro Juan Caballero (Paraguai) e Ponta Porã: terra fértil para lavar dinheiro do crime no mercado imobiliário. (Foto: Marcos Maluf)


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