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Cidades

População em situação de rua cresce e governo quer ampliar casas terapêuticas

Aumento de dependentes químicos nas ruas no "pós-covid" precisa ser enfrentado, diz membro de federação

Cassia Modena | 17/04/2023 09:35
Terapia em grupo é estratégia no Projeto Simão, em Campo Grande (Foto: Divulgação/Projeto Simão)
Terapia em grupo é estratégia no Projeto Simão, em Campo Grande (Foto: Divulgação/Projeto Simão)

Vivendo em situação de rua, Cauby de Freitas Novaes, 56, morreu na semana passada em Campo Grande após ser agredido pelo guarda civil metropolitano Emerson Teixeira Barbosa. O caso provocou revolta e reascendeu o debate sobre as políticas de assistência social na Capital.

"Campo Grande grita. Você vai ao Centro e hoje não é mais incomum ver lojistas abrindo as portas dos comércios enquanto pessoas dormem à frente", alerta o membro da Fesmact (Federação Sul-Mato-Grossense de Comunidades Terapêuticas), Eliandro Simonetti.

Comunidades terapêuticas é o termo usado para se referir às casas que oferecem tratamento gratuito a pessoas com transtornos causados pelo uso de álcool e drogas. São 11 as filiadas à Fesmact em Campo Grande atualmente. Juntas, elas ofertam o total aproximado de 300 vagas para que pessoas durmam, façam refeições e higiene, além de iniciar tratamento medicamentoso e psicossocial, que também passa pelo espiritual em alguns casos.

O número de vagas hoje ofertadas é muito baixo comparado ao número de pessoas nas ruas. Segundo Eliandro, a Fesmact estima que, somente na região da antiga rodoviária da Capital, existam mil dependentes químicos circulando diariamente.

Pandemia - O momento "pós-covid" agravou o cenário já preocupante, ainda de acordo com o membro da federação. "Durante a pandemia, muitas pessoas acabaram desistindo da família e foram abandonadas. Aumentou também as pessoas de fora do Estado e imigrantes. O número de mulheres nas ruas também aumentou. Estamos tendo dificuldade de lidar com tudo isso", descreve.

Durante pandemia, muitos grupos foram às ruas assistir pessoas com refeições e oferta de abrigo (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Durante pandemia, muitos grupos foram às ruas assistir pessoas com refeições e oferta de abrigo (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Assim, a demanda hoje é a de abertura de mais vagas nas comunidades terapêuticas e maior orçamento por pessoa assistida. Entre as comunidades filiadas à Fesmact, o orçamento mensal é de R$ 1 mil para cada interno. "Sem recursos não se avança em política pública. Estamos pedindo pelo amor de Deus por ações concretas. Temos comunidades que são referência nacional no tratamento e têm toda a capacidade de contribuir nesse enfrentamento", finaliza Eliandro.

De acordo com levantamento mais recente do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, houve aumento na quantidade de pessoas que usaram drogas no mundo. Cerca de 284 milhões de pessoas na faixa etária entre 15 e 64 anos usaram drogas em 2020, 26% a mais do que dez anos antes.

No Brasil, essa realidade também preocupa. Segundo o Ministério da Saúde, o SUS (Sistema Único de Saúde) registrou mais de 400 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool em 2021.

Ampliação - Está no radar da vice-governadoria e da Sead (Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos) a ampliação do atendimento nas comunidades terapêuticas. No fim do mês de março, uma primeira reunião "iniciou processo de construção de políticas públicas mais efetivas nessa área", afirma o vice-governador José Barbosa.

Após reunião inicial, vão começar tratativas para ampliação segundo vice-governador (Foto: Divulgação/Governo de MS)
Após reunião inicial, vão começar tratativas para ampliação segundo vice-governador (Foto: Divulgação/Governo de MS)

"Ouvimos as instituições que atuam lá na ponta, e o Estado reforçou o compromisso de construir essa agenda, com transversalidade e parcerias", complementou o vice-chefe do Executivo.

Repasses - Dados da Sead apontam que foram repassadas às comunidades terapêuticas credenciadas junto ao Estado o total de R$ 1,3 milhão entre os anos de 2020 e 2022, sendo R$ 638 mil via chamamento público e R$ 685 mil via emenda parlamentar.

Algumas das instituições contempladas foram a Associação Ágape (Chapadão do Sul); Associação Assistencial Casa de Reabilitação Novo Olhar (Dourados); Associação de Reabilitação Parceiros da Vida – Esquadrão da Vida (Campo Grande); Casa de Recuperação Jeová Jiré (Dourados); Casa de Recuperação Projeto Vida Nova (Iguatemi); Associação de Recuperação e Reinserção Social Libertar (Campo Grande); Associação de Reabilitação e Reinserção Comunidade Terapêutica Peniel (Dourados); e Associação Antialcoólicos (Paranaíba).

Exemplo de comunidade - O projeto Simão é um exemplo de comunidade terapêutica atuante na zona urbana de Campo Grande. Apoiada pelo município e por doações, ela se mantém aberta desde 2016 no Bairro Amambaí, onde está localizada a antiga rodoviária.

Secretária do Projeto, Antônia Mendes afirmou à reportagem que atualmente são atendidos 25 homens, mas que há mais vagas disponíveis. A lotação máxima é de 40 pessoas.

Questão em debate na comunidade em questão não é a quantidade de vagas, estrutura ou parcerias, mas sim a recidiva dos atendidos. "Nosso índice de recuperação hoje é bem baixo. De dez que entram, apenas dois se recuperam", afirma Antônia. O tempo médio de permanência no local é de seis meses.

O Projeto Simão tem também uma casa pós-tratamento, onde os atendidos passam por ressocialização e são inseridos no mercado de trabalho.

Internos do Projeto Simão aprendem profissões em segunda etapa do tratamento (Foto: Divulgação/Projeto Simão)
Internos do Projeto Simão aprendem profissões em segunda etapa do tratamento (Foto: Divulgação/Projeto Simão)


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