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Cidades

Por dia, mais de 2 mulheres são vítimas de stalking

Universitária de Campo Grande sentiu o terror de ser perseguida no fim do ano passado

Por Clara Farias e Gabi Cenciarelli | 05/02/2025 09:13
Por dia, mais de 2 mulheres são vítimas de stalking
Tentativas incessantes de contato são consideradas como perseguição (Foto: Paulo Francis)

Mensagens e ligações constantes, espera na saída do trabalho ou faculdade, tentativas de contato por e-mail, redes sociais e até mesmo pelo Pix são algumas das características que se enquadram no crime de "stalking", estabelecido por lei em 2021. Conforme dados da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, no último ano, foram registrados 741 casos de perseguição a mulheres, sendo 48% deles na Capital.

Universitária de Campo Grande sentiu o terror de ser perseguida no fim do ano passado. Namoro de seis meses acabou em janeiro de 2023 e, desde então, ela não tem sossego. Ele bebia muito, era usuário de drogas, recorrente em violência verbal e quase dois anos depois do término ainda a perseguia.

Como é clássico, antes do stalking, chegou a fazer chantagens e ameaças. Sem comover a moça, passou a ir ao condomínio da jovem, mas sempre era barrado. Então, começou a mandar entregar fotos dos dois juntos, lanches, presente e a aparecer nos lugares que a ex frequenta.

"Em várias situações eu ia a festas da universidade e ele aparecia do nada, sem ser convidado. Em outras situações, ela ia a alguns eventos de trabalho e do nada ele escrevia no twitter coisas minhas naqueles eventos que só quem estava presente sabia", contou à polícia, ao registrar boletim de ocorrência e solicitar medida protetiva.

Ele passou a ameaçar seus amigos, até que no dia 9 de dezembro de 2024, o medo cresceu. Ele enviou mensagem no Instagram para uma amiga dela, dizendo o quanto a jovem estava linda numa foto que nem sequer a vítima havia compartilhado.

"Foi uma mistura de sentimentos, por um lado eu tinha medo do que poderia acontecer depois de fazer o B.O, por outro eu sentia que deveria fazer justamente para me sentir segura e amparada por lei Eu decidi registrar porque é uma forma de eu me sentir mais segura, sabendo que estou protegida de alguma forma", disse ao Campo Grande News.

Mesmo assim, o medo não passa. "Por mais que eu tenha feito o registro, o medo de acontecer alguma coisa não passou e sinto que vou viver para sempre com essa sensação."

Por dia, mais de 2 mulheres são vítimas de stalking

É crime - A delegada titular da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Elaine Benicasa, em entrevista ao Campo Grande News, explica que a perseguição ocorre quando a liberdade da vítima é ameaçada de alguma forma, constantemente. "A perseguição também ocorre quando ele vai nas redes sociais da vítima ou de conhecidos difamar, ou tentar se comunicar com ela", detalhou a delegada.

Apesar do número de registros do crime de stalking terem reduzido em Mato Grosso do Sul com o passar dos últimos anos, ainda é uma problemática, visto que faz parte de um ciclo de violência doméstica. É mais um sinal de que o ciúme pode acabar em feminicídio.

"Às vezes, no passado, já tiveram xingamentos no término, ofensas físicas, verbais e depois o stalking, porque ele percebe que não tem lastro de que aquele relacionamento será reatado. Então ele passa a persegui-la", explicou ela.

Por dia, mais de 2 mulheres são vítimas de stalking
Delegada Elaine Benicasa, titular da Deam, em entrevista ao Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)

Neste ciclo de violência, a experiência da delegada mostra que a maioria das perseguições "deságuam" no feminicídio, e relembra o caso da Karolina Silva Pereira, que foi assassinada junto com o amigo Luan Roberto de Oliveira pelo ex-namorado.

Karolina foi baleada na cabeça pelo ex-namorado, na madrugada do dia 30 de abril de 2024, um domingo, na porta da casa dela, no Jardim Colibri, em Campo Grande. Luan, que estava com a moça, morreu no local.

As duas vítimas eram apenas colegas de trabalho. Ele era motoentregador de uma pizzaria, localizada no Bairro Guanandi, onde ela havia sido contratada uma semana antes do crime. O rapaz se ofereceu para levar a moça até a casa dela e acabou assassinado por ciúmes.

Antes do crime, o assassino Messias Cordeiro da Silva passou dias stalkeando e fazendo ameaças à ex-namorada.

Karolina foi ferida por dois tiros, um deles quando estava de costas, correndo do assassino. Ela foi atingida no crânio, chegou a ser intubada na viatura de socorro e levada à Santa Casa em estado grave, onde morreu dois dias depois.

Em 2021 o stalking virou crime. Com mudança na lei, a punição para esse tipo de perseguição se tornou mais severa para quem comete “perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet (cyberstalking), que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima”. A pena em caso de condenação pode variar de seis meses a dois anos.

Nos últimos comparativos nacionais, Mato Grosso do Sul ocupava a quarta posição no ranking de estados com maior taxa de perseguição contra mulheres. A taxa aumentou de 64,4 para 96,3, representando um crescimento de 42% entre 2021 e 2022. Embora esses dados sejam anteriores a 2025 e estejam decaindo, eles fornecem contexto sobre a prevalência do stalking na região.

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