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Cidades

Sem falar em salário e escala, Sejusp prevê ações pela saúde mental à polícia

Capital terá prédio para Centro Biopsicossocial e interior vai receber "carreta da saúde", com vários serviços

Por Cassia Modena | 24/04/2024 11:35
A "carreta da saúde" que vai oferecer atendimentos diversos aos agentes de segurança em MS (Foto: Divulgação/Sejusp)
A "carreta da saúde" que vai oferecer atendimentos diversos aos agentes de segurança em MS (Foto: Divulgação/Sejusp)

Por trás da farda, policiais, bombeiros e outros agentes da segurança pública lidam com sofrimento mental alimentado pelo alto nível de estresse da profissão e pelos riscos à própria pele que driblam diariamente. Essa discussão não é nova, mas ressurge após dois serem encontrados mortos em suas casas no último fim de semana, em Campo Grande.

Em resposta a isso, a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) ainda não fala em reajuste de salários e revisão de escalas de trabalho, que poderiam ajudar a evitar ou a não piorar o adoecimento dos servidores, na opinião da Aspra/MS (Associação dos Praças da Polícia e do Corpo de Bombeiros Militar).

O que está confirmado é o lançamento de um "combo" de atenção à saúde mental e física dos servidores fardados a partir de julho deste ano, entendendo que problemas como depressão e ansiedade podem ter fonte em diferentes áreas, não só nas condições de trabalho e na remuneração.

Consultório que fica dentro da "carreta da saúde" (Foto: Divulgação/Sejusp)
Consultório que fica dentro da "carreta da saúde" (Foto: Divulgação/Sejusp)

Tudo será coordenado pelo Centro de Atenção Biopsicossocial, um setor criado dentro da Sejusp em 2020, mas ainda sem estrutura e sem muitos serviços disponíveis. Segundo o secretário da pasta, Antonio Carlos Videira, um prédio será alugado em Campo Grande para coordenar o que será oferecido de forma fixa.

No interior do Estado, a previsão é que uma "carreta da saúde" circule entre as principais cidades para os agentes de segurança pública terem sessões com psicólogos e consultas para cuidarem da audição, dos dentes e visão. O veículo já foi comprado.

"Durões" - O centro tem um coordenador, o major da reserva Ivan Gibim Lacerda. Ele reconhece que o servidor da segurança sofre uma pressão muito maior em comparação às demais ocupações e que a atenção a isso é urgente.

Ivan fala do desafio que será vencer a cultura do policial e bombeiro "durões", que não têm outra escolha a não ser "enfrentar dificuldades diariamente e lidar com a morte". O coordenador já espera uma resistência inicial da própria categoria ao cuidado com a saúde integral, especialmente a psíquica. "Porque é sinal de fraqueza, porque vão achar que sou 'mole'", cita entre os argumentos que vão precisar ser vencidos.

Não só policiais, mas também bombeiros acabam impactados pela cultura de ser fortaleza (Foto: Alex Machado/Arquivo)
Não só policiais, mas também bombeiros acabam impactados pela cultura de ser fortaleza (Foto: Alex Machado/Arquivo)

O que existe hoje em assistência psicológica aos agentes da segurança pública são núcleos dentro de corporações como a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, por exemplo, mas nada muito robusto. "Nós vamos coletar dados do que eles já fazem, para trazer ao centro", diz o major.

Questionado se o Centro Biopsicossocial já mapeou dados sobre afastamentos por sofrimento mental e quantidade de desfechos trágicos como o suicídio, Ivan cita que há cerca de dois anos a Sejusp fez pesquisa sobre a saúde mental dos agentes de segurança pública na fronteira de Mato Grosso do Sul, uma região sensível, e que os resultados serão considerados para dar norte ao que será feito a partir do próximo semestre.

Escalas, pressão e salários - O Campo Grande News falou sobre o assunto com o presidente da Aspra/MS (Associação dos Praças da Policia e do Corpo de Bombeiros Militar), Cláudio Benites.

Ele afirmou que o "modelo de fortaleza" que os militares precisam seguir atrapalha a busca de cuidado com a saúde mental, num cenário em que escalas de serviço, pressão interna e salários abaixo da média acabam contribuindo para a piora.

O que podemos fazer é buscar soluções institucionais, para minimizar os risco de que novos episódios se repitam, tendo essas relações institucionais como gatilho. Isso começa pela valorização destes militares. Seja através de bons salários, de suas promoções em dia, pois hoje temos quase 1.000 com as promoções atrasadas, seja através do reconhecimento do seu trabalho com a consagração de medalhas de honra e reconhecimento público", sugere Benites.

A Aspra possui atendimento psicológico entre seus serviços, mas, segundo o presidente, não há procura. Nenhum militar recebe atendimento, no momento.

Guarda Municipal - Uma das mortes do fim de semana foi de um guarda civil metropolitano que ficou afastado do serviço após um acidente e enfrentava depressão.

A reportagem questionou a Secretaria Municipal Especial de Segurança e Defesa Social sobre a saúde mental dos agentes municipais de segurança e as medidas que são tomadas ou serão tomadas quanto a isso.

A pasta respondeu que oferece atendimento no setor biopsicossocial, da Guarda Civil Metropolitana, que está localizado no Horto Florestal, atrás da Biblioteca Municipal. "Podendo ser acionado [inclusive] fora do horário de expediente, como à noite, aos sábados, domingos e feriados, em casos de emergência, sempre priorizando a discrição nos atendimentos, local escolhido para manter o sigilo e respeito com a não exposição dos servidores", detalhou.

Outra medida citada é a campanha “Cuidando de quem Cuida”. "Percorrendo as unidades da Guarda Civil Metropolitana, nas sete regiões urbanas de Campo Grande, visitando  as guarnições com trabalhos humanizado de conscientização da importância da saúde mental, da valorização da vida e prevenção ao suicídio, auxiliando na identificação de sintomas, bem como incentivando os servidores a buscarem ajuda", finalizou.

Matéria editada às 07h56 de 25/04 para acrescentar resposta da Secretaria Municipal Especial de Segurança e Defesa Social.

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