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Cidades

Suspensão de transplantes barra chances de quem sonha com o fim da hemodiálise

Contrato com laboratório não foi renovado e exames necessários para cirurgias estão suspensos

Gabrielle Tavares | 13/08/2022 11:10
Máquina realiza procedimento de hemodiálise em paciente renal. (Foto: Divulgação/IESPE)
Máquina realiza procedimento de hemodiálise em paciente renal. (Foto: Divulgação/IESPE)

A paciente Carla Patrícia Falcão, de 26 anos, faz parte das 145 pessoas que precisam de um transplante de rim no Estado. Ela mora em Bonito, cidade localizada a 297 km de Campo Grande, e precisa se deslocar três vezes por semana para a Capital, para fazer hemodiálise.

Toda segunda, quarta e sexta-feira ela acorda 1h30 para fazer as sessões necessárias para filtrar o sangue, capacidade que seu organismo perdeu. Essa é a rotina dela nos últimos quatros anos e, no momento, seu maior desejo é se ver livre da máquina, mas só um transplante de rim poderia tornar o sonho em realidade.

Nesta semana, o irmão de Carla topou fazer o exame de histocompatibilidade para saber se podia doar o órgão para ela, mas quando foi contar para a enfermeira do setor responsável, recebeu a notícia que os exames estavam suspensos.

"Eu perdi a função renal e o transplante é a chance que eu tenho de sair da máquina, sem ele não é possível e eu vou continuar nessas viagens extremamente cansativas, nesses desgastes que são as sessões”, lamentou.

Impasse suspendeu transplantes – Cirurgias de transplantes de órgãos continuam suspensas em Mato Grosso do Sul com o vencimento do contrato com a empresa responsável pela realização de exames pré e pós operatórios em Campo Grande. O impasse contratual pode afetar a vida de 473 pacientes no Estado, que aguardam na fila a oportunidade de uma nova chance.

O laboratório Bio Molecular tinha contrato com a Prefeitura de Campo Grande para prestar os serviços, mas o documento venceu no domingo (7) e desde segunda-feira (8) não há empresa credenciada.

A prefeitura alegou que avisou o governo do Estado sobre a necessidade de abrir uma nova licitação em março deste ano e aguarda retorno desde então. A SES (Secretaria Estadual de Saúde), por sua vez, disse que houve um acordo mediado pelo MPE  (Ministério Público Estadual), mas partiu do município a decisão de não fazer novo contrato com o Laboratório Biomolecular.

Outra paciente que espera pela cirurgia é a estudante Anne Raissa Roberto Ferro, de 29 anos, que foi diagnosticada com uma doença rara em 2020, chamada Síndrome Nefrótica com Glomerulonefrite C3.

Anne Raissa durante sessão de hemodiálise. (Foto: Arquivo Pessoal)
Anne Raissa durante sessão de hemodiálise. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por haver poucos estudos sobre a doença, ela precisou trocar de medicamento por três vezes, processo invasivo que danificou o funcionamento de seu rim e a obrigou a também realizar as sessões de hemodiálise três vezes por semana.

Ela ainda precisou passar por duas cirurgias nos últimos dois anos, uma para retirada de um tumor benigno no coração, e outra para drenar um líquido que se acumulou em seu cérebro. Só neste ano ela conseguiu se estabilizar no tratamento da doença e entrar para a lista do transplante.

“Quando soubemos da notícia que nossa oportunidade nos foi tirada por questão de não renovação de contrato, isso me deixa muito triste e frustrada. Pois eu os demais que aguardam na fila somos os mais prejudicados  por essa falta de responsabilidade com nossa saúde”, lamentou.

“Nós já enfrentamos a dificuldade que a doença nos traz e quando finalmente conseguimos alcançar esse passo que é estar na fila para o transplante, que é o caminho para a salvação, vem essa notícia”, completou.

“A hemodiálise para a nossa vida né. Conseguimos caminhar com ela, mas a passos bem curtos. Ela nos impede de estudar, nos impede de trabalhar. Quando descobri a doença foi muito triste porque tive que parar de trabalhar e parar de estudar, e com a hemodiálise achei que conseguiria voltar, mas é muito difícil achar uma empresa que aceite que o funcionário não esteja lá três vezes na semana”.

Impasse - A Santa Casa de Campo Grande, hospital referência neste tipo de cirurgia na Capital, alegou que não é parte envolvida no processo de negociação, mas que espera que a situação e espera que ela seja regularizada o quanto antes .

A unidade enviou no dia 10 de agosto um ofício para a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), SES (Secretaria Estadual de Saúde) , CRM (Conselho Regional de Medicina) e MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) pedindo uma solução para o problema.

Além disso, a unidade garantiu que o Ambulatório do Serviço de Diálise da Santa Casa está funcionamento normalmente, mas reforçou que sem a garantia dos exames de compatibilidade é impossível inserir pacientes no sistema para doação e na lista de espera pelo órgão.

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