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Cidades

"Vão trazer ela de volta, me garantiram", diz marido que perdeu mulher em RO

Corpos dos pacientes que morreram fora do Estado serão transladados pelo SUS, em convênio com Pax

Paula Maciulevicius Brasil | 08/06/2021 13:14
Nice ao lado do marido Cláudio. Os dois tinham 31 anos de casados. (Foto: Reprodução/Facebook)
Nice ao lado do marido Cláudio. Os dois tinham 31 anos de casados. (Foto: Reprodução/Facebook)

"Eles vão trazer ela de volta. Não sei se é de avião ou o quê e quando será, mas vão trazer ela de volta sim, me garantiram isso". As palavras saem misturadas à dor da boca do motorista Ramão Claudionor Ximenes, de 50 anos, ao falar da despedida da esposa. De Dourados, Nice Menani, de 52, foi a primeira paciente transferida por falta de vaga em UTI em Mato Grosso do Sul que morreu.

Levada para mais de 2 mil quilômetros de distância da família, e de sua casa, Nice viajou na última sexta-feira (4) para Rondônia e morreu nessa segunda-feira (7). Uma surpresa para a família que já havia sido informada de que ela tinha saído da UTI.

"Ela foi pra lá conversando, foi bem, não foi intubada nem nada. Só foi no oxigênio, e chegando lá colocaram ela na UTI", conta o marido, que apesar do nome de registro ser Claudionor, é por Cláudio que ele costuma ser chamado.

Nice deixa marido, filhos e netos que aguardam corpo chegar para última despedida. (Foto: Reprodução/Facebook)
Nice deixa marido, filhos e netos que aguardam corpo chegar para última despedida. (Foto: Reprodução/Facebook)

Na segunda-feira de manhã, Cláudio conta que os médicos disseram que ela tinha saído da UTI e que estava andando e comendo sozinha. "Eles já tinham me orientado sobre isso, que iam retirar ela para ver a reação, e estava assim, tudo de boa", explica.

Durante à tarde, Nice teria ido ao banheiro e sentido fortes dores de cabeça e falta de ar. "Foi quando ela teve uma parada cardíaca, e não aguentou. Tentaram reanimar e ela não aguentou", narra o que ouviu pelo telefone.

A morte aconteceu 17h40 e a família recebeu a ligação 18h30 do hospital de Porto Velho, capital de Rondônia. "Pelo que dá para entender, os médicos também foram pegos de surpresa, porque a saturação dela estava boa, pressão, tudo estava bom", acredita o marido.

Cláudio e Nice foram casados por 31 anos. Ela deixa dois filhos e cinco netos.

Empregada doméstica, Nice trabalhava há 18 anos no mesmo emprego e era apaixonada pela família. Nas redes sociais, se vê o tamanho do amor em ser mãe, que era frequentemente estampado nas fotos de perfil no Facebook.

Segundo o marido, os sintomas começaram na semana passada, na segunda-feira (31). Ela chegou a ir até uma UPA, mas sem conseguir atendimento rápido, foi fazer um teste pago em uma farmácia e iniciou com as medicações.

Registro de transferência de paciente de Dourados em avião da FAB, na Base Aérea de Campo Grande. (Foto: Direto das Ruas)
Registro de transferência de paciente de Dourados em avião da FAB, na Base Aérea de Campo Grande. (Foto: Direto das Ruas)

Ao perceber piora em seu estado, a família levou Nice de volta ao atendimento e sem vaga em UTI, tiveram a notícia de que ela seria transferida para Rondônia.

"Nossa, foi um desespero, eu ainda falei que a gente tinha que conversar com ela, porque se ela não quisesse, não íamos deixar ir, mas conversamos e chegamos num acordo de que seria o melhor para ela. Nossa medo era precisar de UTI e não ter, mas ela foi pra lá e não resolveu nada", desabafa o marido.


Hoje pela manhã, Cláudio fez uma procuração para agilizar os trâmites da retirada do corpo da esposa. Sem saber ainda quando o translado virá, o motorista conta que foi ao cemitério Santo Antônio reservar o sepultamento. "O Estado me informou que não vai poder fazer o velório, vai ser só acompanhar a funerária do local até o cemitério", afirmou.

Translado pela Pax - Coronel Marcello Fraiha, assessor da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul informou ao Campo Grande News que os corpos tanto de Nice quanto do paciente Antônio de Souza Ferreira, o Toninho do Pesqueiro São Sebastião serão transladados para o Estado pela Pax, custeado pelo SUS.

"Nós temos o processo e vai ser por essa empresa que será feito o translado. Estamos usando essa estratégia de levar pacientes para as UTI's que estamos conseguindo, em outros estados, e temos essa estratégia reversa, caso haja o óbito, temos essa programação também", explicou.

Por questões sanitárias, os corpos devem ser enterrados não sendo permitido o velório. Quanto a previsão de liberação, o coronel diz que depende da tramitação documental entre empresa e hospital.

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