Maníaco será julgado só em 2021 por latrocínio de 4 anos atrás
João Leonel da Silva, 40 anos, atacava casais na região norte da cidade e já tem 28 anos de pena a cumprir
No dia 26 julho de 2021, quando o assassinato de Diego Sá Barreto, aos 28 anos, completar exatos 2002 dias, ou cinco anos e meio, a Justiça vai dar início, se nada mudar até lá, às audiências da ação criminal para responsabilizar o homem acusado do crime. Está marcada para essa data a primeira sessão de instrução do processo por latrocínio contra João Leonel da Silva, 40 anos, réu por matar Diego. Serão ouvidas as testemunhas de acusação.
Talvez o nome não leve o leitor a se lembrar de pronto, mas a alcunha sim. João Leonel é o “Maníaco do Segredo”, conhecido assim por atacar casais em bairros vizinhos à reserva ambiental da região norte de Campo Grande, quando eles procuravam lugares ermos para namorar.
Foi assim que Diego foi morto, em noite de sexo casual dentro do carro com mulher de 26 anos que acabara de conhecer em bar na Mata do Jacinto, na noite de 31 de janeiro para 1º de fevereiro de 2016..
Ambos estavam em crise em seus relacionamentos e a suspeita chegou a recair sobre os parceiros da época. Enquanto isso, o assassino seguia livre, morando a menos de 2 quilômetros do local.
Criminoso em série - Demorou para João Leonel ser responsabilizado pelo fato, assim como havia levado tempo para ele ser tirado das ruas por outras acusações. O criminoso agiu por mais de 10 anos até ter ser preso, pouco mais de quatro anos atrás.
Ele tem pena a cumprir até 2032, nas condenações já determinadas, por estupro e roubo. Todos os ataques seguiam mesmo padrão: havia violência, roubo, abuso sexual, sempre contra um homem e uma mulher.
Armado de revólver, o maníaco atacava as vítimas, as roubava, estuprava as mulheres, obrigava o casal a fazer sexo, se masturbava olhando cena. Às vezes, filmava as cenas com o celular. Amarrava os homens e fazia as namoradas andarem pelo mato, por vezes ajoelhadas, sem olhar para ele.
O processo pela morte de Diego Sá Barreto é a primeiro na qual o maníaco vai responder por assassinato, embora ele também seja suspeito do desaparecimento do casal de namorados Nayara, 17 anos, e Wellington, 14, no ano de 2012, no Bairro Nova Lima. O celular das duas vítimas foi encontrado no quintal da casa de João Leonel na época, mas a apuração policial nunca avançou.
Vai e vem – A investigação sobre a morte de Diego de Sá Barreto exemplifica o quanto as autoridades tiveram dificuldade de tirar o “Maníaco do Segredo” das ruas e provar a autoria de por ilícitos penais que hoje ao serem comparados evidenciam lógica de crimes em série.
O corpo dele foi encontrado na tarde de 1º de fevereiro de 2016, depois de a mulher com quem estava, de 26 anos, conseguir fugir e acionar o socorro. Ela foi ouvida na fase policial, mas depois desapareceu. Nem a Justiça está conseguindo localizá-la para informar sobre o encaminhamento do assunto.
João Leonel continuou solto por meses, fora de suspeita sobre esse crime. Foi preso em agosto daquele ano, por fato diferente, e reconhecido como a pessoa que feriu a tiros outro rapaz, cuja namorada relatou horas de pavor sob ameaça de homem com as características do criminoso em série.
Era tudo muito parecido.
Ainda que houvesse relatório da investigadora Wanusa Alves Macedo mostrando a similaridade do ataque com pelo menos mais meia dúzia de relatos feitos à Polícia Civil desde 2009, foi o roubo de notebook o responsável pela prisão do "Maníaco do Segredo".
Na Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos), para onde foi essa ocorrência, ele foi reconhecido pela vítima do último ataque a casais de que se tem notícia.
Não saiu mais da prisão. Acabou sendo condenado por esse caso de 2016 e também por outros episódios criminosos investigados pela Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Somada, a pena é de 28 anos. João Leonel foi para ala dos “jacks”, como são chamados os estupradores no IPCG (Instituto Penal de Campo Grande).
Até aí, a morte de Diego Sá Barreto seguia sem responsável formal. O inquérito policial primeiro ficou na 2ª Delegacia de Polícia Civil e depois passou para a condução da DEH (Delegacia Especializada de Homicídios). Sem conclusão, os pedidos de aumento de prazo iam se seguindo.
Há relatos no processo de quebra de sigilo telefônico essencial para os trabalhos sequer ter sido localizada por policiais da DEH.
Em maio deste ano, a peça investigatória foi concluída, tendo João Leonel como indiciado por homicídio qualificado por recurso que dificultou a defesa da vítima, no caso atirar pelas costas e com o alvo de pés amarrados, como descrito.
Na Justiça, demorou mais um tempo ainda até o inquérito se transformar em acusação. O entendimento tanto do primeiro juiz a receber o caso, Carlos Alberto Garcete, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, quanto do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) foi de se tratar de caso para outra unidade do judiciário, 1ª Vara Criminal Residual.
Dessa forma, os autos que chegaram ao Judiciário em maio, e tiveram a denúncia recebida dois meses depois, em julho, pelo juiz Roberto Ferreira Filho.
Instada a se manifestar, a representação de João Leonel, a cargo da Defensoria Pública, foi breve e não abordou a acusação principal.
O mérito da pretensão acusatória será debatido após o exaurimento das questões de fato, ao término da instrução criminal, em alegações finais, por meio de debates ou memoriais”, escreveu o defensor Guilherme Cambraia de Oliveira.
Pelo andamento do processo, há audiências marcadas para 26 de julho do ano que vem e 28. Na primeira data, será ouvida a acusação. Na segunda, as testemunhas de defesa. Nesse dia, também será feito o interrogatório do réu. Ele sempre negou os crimes, nas poucas palavras que proferiu das vezes em que foi ouvido a respeito.