Abalada, testemunha detalha violência e mortes no Anache
Brutalidade
Ainda traumatizada por ter presenciado a morte de vizinhos em assassinatos brutais no último domingo no jardim Anache, uma testemunha, considerada pela delegada Maria de Lourdes Cano, da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), como a principal da investigação, detalha os crimes e espera recomeçar a vida longe do bairro.
Segundo a testemunha (que terá o nome preservado), era madrugada de domingo quando ouviu um tiro. “Estava tomando banho e achei que era uma bombinha da molecada. Só depois quando ouvi gritos, saí de casa para ver o que era. Era mais ou menos duas horas”, relata.
Ao sair de casa soube que um tiro havia atingido Lucas Jonathan Pereira Lopes, de 16 anos. “O pessoal correu para avisar o Paulinho (Paulo Roberto Lopes, pai do adolescente). Ele saiu correndo com a mulher e outros vizinhos e encontraram o menino”.
Enquanto Paulo tentava reanimar o filho, Daniel Delmondes, pai do adolescente que atirou contra Lucas, chegou ao local em seu carro. Ele também havia ouvido o disparo. Durante alguns minutos acompanhou as tentativas para tentar reanimar Lucas.
“Depois de um tempo chegou um moleque grandão lá e falou para os outros tacarem fogo no carro do Daniel. Começaram a ameaçar e cercar. O Paulinho dizia que se o filho morresse seria olho por olho, que ou o pai ou o filho morreriam para pagar. Eles chegaram a conversar um tempinho, mas depois começaram a brigar e o pessoal foi defender o Paulinho. Aí a molecada começou a chutar ele (Daniel)”, revela.
Daniel começou a ser agredido por cerca de 15 pessoas com chutes e pedradas. Apesar dos golpes, não desmaiou. “Nessa hora chegou o Samu e todo mundo foi ver eles atenderem o Lucas, a uns 100 metros de distância. Eu fiquei com o Daniel, pedindo para ele ficar bem. Ele estava muito mal, tinha apanhado bastante. Quando disseram que o menino do Paulinho estava morto, voltaram para matar ele”.
Segundo a testemunha, Nilson Roma, de 19 anos, preso ontem pelo crime, teria pego Daniel pelos pés enquanto ele tentava se levantar e o arrastou até a frente da casa de Paulo Roberto. “Eles foram arrastando ele até lá. Aí esse Nilson pegou a maior pedra que tinha lá, levantou e derrubou na cabeça do Daniel. Ele foi o mais violento de todos. Nessa hora o Daniel desmaiou”, detalha.
Após ser golpeado por outros adolescentes e vizinhos de Lucas, Daniel receberia 27 facadas. “O Paulinho foi buscar uma faca na casa dele. Disse que como o filho estava morto mesmo, ele ia acabar de matar o Daniel. Não vi ele esfaqueando. Vi um moleque (um adolescente que foi apreendido pela participação no crime), o líder deles lá do bairro, tirar a faca da mão do Paulinho e dizer: se você não tem atitude, eu tenho. Aí ele deu umas 4 facadas no Daniel, que já estava muito mal, nem se mexeu”, descreve.
Após dar as primeiras facadas em Daniel, o adolescente passou a arma para Nilson, que teria deferido outros 10 golpes. Segundo a testemunha, em seguida outros 2 adolescentes teriam feito o mesmo.
“É uma imagem que não sai da minha cabeça. Ele estava todo desfigurado, estava muito mal, tinha apanhado muito. Pedi para pararem com aquilo, mas o Paulinho estava transtornado com a morte do filho. Já a molecada não. Sabiam o que estavam fazendo. Quero esquecer isso e ter paz”, revela a testemunha.
De acordo com a delegada Maria de Lourdes Cano, o inquérito sobre as mortes será encerrado ainda hoje. Segundo ela, todos os envolvidos estão sendo reconhecidos. Todos os adultos envolvidos já estão presos, entre eles Paulo Roberto, pai de Lucas. Outros sete adolescentes reconhecidos pelas testemunhas serão apreendidos.