Acampamento de sem-terra na Capital é o 1º do país a ter luz elétrica

O acampamento Estrela I, localizado na estrada da Gameleira, em Campo Grande, é o primeiro do Brasil a contar com energia elétrica e poço artesiano. A luz foi inaugurada hoje pelo governador André Puccinelli (PMDB), pela secretária estadual da Produção, Tereza Cristina da Costa Correia Dias, e pelo superintendente estadual do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Celso Cestari.
Cerca de 600 famílias sem-terra foram contempladas com a chegada da energia elétrica há 10 dias, que foi oficialmente entregue hoje. Elas fazem parte do MAF (Movimento Sul-mato-grossense da Agricultura Familiar). A entidade conta com três acampamentos na Capital e Dois Irmãos do Buriti, que contabilizam 1,2 mil famílias.
Segundo um dos coordenadores do acampamento, Vilmar Morais Echeverria, 27 anos, o grupo está há quatro meses na estrada da Gameleira. Antes, eles estavam em uma via perigosa e sob fios de alta tensão próximo da Avenida Gury Marques, na saída para São Paulo.
Além da energia elétrica, os sem-terra do local também passam a contar com água, retirada de dois poços artesianos construídos pelo Governo estadual e pelo Incra. Segundo Vilmar, eles vão pagar uma taxa mensal pela luz.
O superintendente estadual do Incra explica que a medida faz parte das ações para evitar o surgimento de mais um foco de conflito no campo, já que os índios estão em pé de guerra com os produtores rurais. Há quatro anos, o Incra não assentava nenhuma família no Estado.

Como não há previsão de ter novos assentamentos, o Incra buscou apoio do governador para instalar luz no acampamento. A obra custou cerca de R$ 10 mil, segundo Cestari. Ele disse que não haverá a instalação de energia elétrica em outros acampamentos porque não quer incentivar a propagação de sem-terra no Estado.
Durante a inauguração, o governador reforçou a parceria com o Incra para implementar ações voltadas para os assentados e acampados em Mato Grosso do Sul. Ele ofereceu técnicos do Estado para ajudar o instituto no cadastro das famílias sem-terra.
Puccinelli também se comprometeu a ajudar o Incra na busca de recursos para retomar a reforma agrária em Mato Grosso do Sul. Cerca de 14 mil famílias estão cadastradas no Incra e esperam a distribuição de um lote.
A postura do governador reflete uma mudança em relação aos movimentos sociais no Estado. Em outubro do ano passado, ele compareceu à posse do novo presidente da Fetagri (Federação dos Trabalhadores em Agricultura), Valdinir Nobre de Oliveira.

O caminhoneiro aposentado Messias Nunes, 61 anos, tornou-se sem-terra há dois anos. Atualmente, divide um barraco com seis pessoas da mesma família. Ele ainda vai fazer o cadastro do Incra, apesar de ser acampado há dois anos.
"Quando era novo, fui criado na lavoura. Agora, quero um pedacinho de terra para dar continuidade", justificou-se. Ele quer o lote para plantar e criar gado e galinha. Faceiro com a chegada de água e luz, disse que a comunidade vai ter melhor qualidade de vida.
Além de sem-terra, Renata Martins, 25, tem um "mercadinho" no acampamento Estrela 1. Ela reside no Jardim Bálsamo, em Campo Grande. Durante as reuniões dos sem-terra, ela chega a vender R$ 200 em salgados. O sonho é montar um mercado no futuro assentamento, quando for contemplada.