Após 2 casos, especialistas explicam o que pode levar uma mãe a matar filho
Nesta semana, dois casos no interior do Estado de mães que cometeram suicídio após matar os filhos causaram espanto e chamaram atenção das pessoas, que com certeza, se perguntaram: o que leva uma mãe a matar o filho? Especialistas na área da Psicologia e Psiquiatria dizem que casos como esses sempre existiram e, que a depressão e doenças psicóticas como a esquizofrenia, se não tratadas, podem levar a fins trágicos.
O primeiro caso aconteceu na madrugada da última terça-feira em Paranaíba. Luzia Marques de Souza Cavalcante, 38 anos, cometeu suicídio depois de matar a filha, Sara de Souza Cavalcante, 14 anos, e de ferir, com golpes de facão, a outra filha, Saila, de 8 anos, que está no hospital. A mulher, segundo depoimentos de familiares a Polícia, era depressiva, tomava medicamentos e já havia fugido de uma clínica após ser internada.
Menos de 24h depois, na manhã de quarta-feira (11), Ana Maria Mota Ramos Filha, 33 anos, matou o filho José Luis Ramos da Silva, 12 anos, e cometeu suicídio em seguida, em São Gabriel do Oeste. Os dois morreram por intoxicação de gás de cozinha. O adolescente tinha sinais de estrangulamento, provocado pela mãe. A mulher tinha cortes no pulso e no peito. Segundo a Polícia Civil, Ana Maria cortou a mangueira do botijão de gás da cozinha e foi para quarto, onde se trancou com o filho. À Polícia, os familiares relataram que o garoto estava com suspeita de câncer e o resultado do diagnóstico ficaria pronto na parte da tarde. Os parentes disseram ainda, que Ana Maria sempre dizia que preferia morrer e ver o filho morto a ter que enfrentar a doença.
O médico psiquiatra, Jony Afonso Domingues, explica que há várias formas da depressão e em alguns casos a doença pode se manifestar causando no paciente sintoma psicótico, como alucinações e delírios. Desta forma, a pessoa pode ouvir vozes que determinam a conduta do paciente, como por exemplo, o suicídio. Há também doenças psicóticas como a esquizofrenia, que também podem resultar em fins trágicos, pelos mesmos motivos da depressão.
A situação pode ser ainda pior, em caso de mães que antes de cometerem o suicídio pensam nos filhos. “Tirar a vida deles, na cabeça da paciente, seria uma forma de proteger ou poupá-los do sofrimento”, explica.
Compartilha da mesma opinião, a psicóloga Dilma Matos Caetano. Ela diz que nesses dois casos, acredita que as mães mataram por amor. “Claro que um amor distorcido e doente capaz de matar. No entanto, na cabeça dessas mulheres, a morte foi à única alternativa de livrar o filho de qualquer sofrimento”.
O médico explica ainda que essas doenças são crônicas e devem ser controladas com medicamentos pelo resto da vida. Porém, é critica a oferta pública de tratamento de doenças mentais no Brasil. “Pacientes graves e em crise devem ser tratados compulsoriamente em ambiente hospitalar”, destaca.
No entanto, a população de alguns municípios não tem acesso a esse tipo de serviço. A falta de assistência médica a esses doentes pode colocar a vidas deles e dos familiares em risco. Como nos dois casos das mães que mataram os filhos e depois cometeram suicídio.
De acordo com a psicóloga Dilma, o primeiro caso se encaixa no que se denomina filicídio psicótico e o segundo, altruísta. “No primeiro, os relatos deixam nítidos que a mãe matou a filha porque sofria de doença mental grave. No segundo, a mãe tenta livrar o filho de um sofrimento maior que poderia ser causado pelo câncer, em caso de diagnóstico positivo”, destaca a psicóloga.