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Capital

“Eram só favores”, dizem filha e mulher de PM preso por chefiar tráfico

As duas foram ouvidas nesta tarde na 3ª Vara Federal de Campo Grande pelo juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira

Geisy Garnes e Liniker Ribeiro | 09/08/2019 18:56
Mãe e filha deixando audiência nesta tarde (Foto: Liniker Ribeiro)
Mãe e filha deixando audiência nesta tarde (Foto: Liniker Ribeiro)

No primeiro depoimento a justiça federal Roseleia Teixeira Piovezan Molina Azevedo e Jéssica Piovezan Azevedo Molina, esposa e filha do subtenente Sílvio César Molina de Azevedo, de 47 anos, negaram envolvimento com tráfico de drogas e afirmaram que todos os fatos que ligam elas ao esquema investigado pela Polícia Federal eram “só favores” aos membros da família. Mãe e filha estão presas desde o dia 25 de junho do ano passado.

As duas foram ouvidas nesta tarde na 3ª Vara Federal de Campo Grande pelo juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira. Mãe e filha chegaram por volta das 14 horas, escoltadas pela Polícia Militar e acompanhadas do advogado Augusto de Arruda, que a todo o momento defendeu a inocência das clientes.

Para o defensor, a acusação contra as clientes é “totalmente infundada”. Para ele, há interpretações equivocadas por parte do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) na denúncia contra Rosiléia e Jéssica, baseada em conversar interceptadas pela Polícia Federal.

A audiência desta tarde apura o envolvimento das duas no transporte de 3 toneladas de maconha que foram apreendidas no dia 14 de setembro de 2016, em Guaíra, no Paraná. O tráfico, conforme as investigações da época, era organizado pelo ex-marido de Jéssica, Douglas Bodinho, líder operacional da organização criminosa.

No dia da apreensão a polícia prendeu Clodoaldo Lenzi pelo transporte da droga. Durante as apurações, foi constatado que no dia anterior Jéssica e a mãe foram buscar o suspeito na churrascaria de um posto de gasolina na cidade de Mundo Novo.

Hoje as duas afirmaram que desconheciam o crime, ou que davam suporte ao esquema, mas confessaram buscar Clodoaldo. Jéssica explicou que na época o marido cumpria medida cautelar por um assassinato, cometido em 2015, e que sempre ia naquele posto de combustível para abastecer o carro. No dia, foi ao local como de costume e apenas deu carona ao homem a pedido de Douglas.

Ela explicou que o ex-marido tinha três fontes de renda; um lava-jato, para onde ela levou Clodoaldo, um caminhão que não soube dizer para o que usado e também a revenda de carros, negócio que Douglas administrava com o irmão dele. Jéssica lembrou que inicialmente achou que daria carona ao motorista que trabalhava com o marido, mas só ao chegar no posto percebeu que era outra pessoa.

Segundo a defesa, até mesmo as mensagens interceptadas pela polícia mostram que Jéssica não conhecia o suspeito e que ele precisou as referências de Douglas para encontrar ela no local. No entanto, durante o depoimento, o juiz usou outras mensagens e até uma conversa gravada por uma escuta instalada pela polícia dentro de uma caminhonete da família que mostra a reação de espanto da jovem ao descobrir que o Clodoaldo não entrou em contradição e detalhou o plano de transporte ao ser preso.

A mesma escuta flagrou também Roseleia indignada com o fato do suspeito ter apontado o carro que buscou ele no posto, um Toyota Corolla branco, com exatidão. O carro foi vendido logo depois, o que para o MPMS é uma clara tentativa de despistar a polícia e evitar a ligação da família com o esquema. Mais uma vez, as duas negaram e afirmaram que trocavam de carro com frequência.

Jefferson dirigindo uma Ferrari em Paris. (Foto: Facebook)
Jefferson dirigindo uma Ferrari em Paris. (Foto: Facebook)

Líder do tráfico – Enquanto Sílvio Molina afirma que o filho, Jefferson Henrique Piovezan Molina, assassinado em 18 de junho de 2017, era o verdadeiro chefe da organização criminosa especializada em tráfico e lavagem de dinheiro, Rosiléia chegou pediu, emocionada, para que não fossem feitas perguntas sobre o filho. “Eu sou mãe, eu e minha filha estamos presas há mais de um ano e não é segredo para ninguém que meu filho foi assassinato. Gostaria que não fizesse perguntas sobre ele”.

Em resposta, o juiz Bruno Cezar afirmou ser impossível não lembrar de Jefferson durante a audiência, mas prometeu sensibilidade ao tocar no nome dele. Durante o depoimento, no entanto, o rapaz foi por várias vezes citado pela própria família.

Ao serem questionadas de viagens feitas para Natal, no Rio Grande do Norte, cidade apontada pela polícia como destino final da droga, mãe e filha usaram a morte de Jefferson e ainda um pagamento que ele deveria receber em vida, como a motivação para o “passeio”.

Rosileia justificou que a viagem aconteceu logo após o assassinato do filho por um pedido do marido, que temia pela segurança da família. “Ele disse que conseguiria se defender, mas não conseguiria defender ele e a família ao mesmo tempo”. Na mesma época, uma mulher procurou Jéssica afirmando que devia dinheiro a Jefferson e mesmo após sua morte pretendia pagar. Um carro séria parte do acerto, mas elas precisavam buscá-lo.

A necessidade de sair da cidade e a proposta fizeram mãe e filha viajarem para o nordeste do país. Lá Rosileia detalhou ter ido a pontos que já havia visitado com o filho. “Não sei o que de errado o meu irmão fazia, mas eu, meu pai e minha mãe nunca fizeram nada de errado”, afirmou Jéssica.

Já para o Ministério Público, como elas davam suporte para o esquema, a suspeita é de que foram a Natal do país para receber o dinheiro do tráfico. Ainda conforme a denúncia, o carro foi porte do recebimento pela carga. Outra viagem de Jéssica também foi ponto de discussão, desta vez para São Paulo, em agosto de 2015.

Ao juiz ela apenas contou que estava em São Paulo quando recebeu a ligação de Douglas e mais uma vez, atendendo a um pedido dele, recebeu um carro e voltou dirigindo para Mato Grosso do Sul.

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