“Talvez a simpatia tenha lhe custado a vida”, diz sogro de jovem assassinado
Corpo de Rafael Baron foi velado em igreja na Coophamat antes de seguir para Curitiba
O velório do motorista de aplicativo Rafael Baron, 24, foi marcado por novos protestos de colegas de trabalho e pela indignação de familiares e amigos, ainda atônitos com o crime ocorrido na noite desta terça-feira (13) e cuja motivação foi considerada “banal” pelas autoridades que investigam o caso. Entre as avaliações, está a de que a vítima perdeu a vida por conta da sua simpatia.
Foi o que disse ao Campo Grande News o sogro de Rafael, Honorato Pereira da Silva, 58, durante a despedida ao genro na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, na Coophamat, sul da Capital. O velório seguiria até as 19h, antes de o corpo do jovem seguir para Curitiba (PR), onde vive sua família –o motorista morava na Capital com a mulher, os sogros e o filho de 2 anos.
“Ele era uma pessoa muito boa, um filho”, desabafou Honorato. “Um rapaz muito trabalhador”, prosseguiu, relatando ainda que Rafael trabalhava no Hospital de Câncer Alfredo Abrão das 7h às 17h e depois, das 18h às 23h, cumpria expediente na venda de espetinhos da família na Avenida Rachel de Queiroz, no Aero Rancho. Quando saiu do hospital, o jovem quis preencher horário, começando a trabalhar como motorista de aplicativo em um veículo alugado há poucos dias para “preencher horário”.
“Ele queria construir algo para a família e acabou preenchendo o horário livre com o aplicativo, teve a ideia de alugar o carro e trabalhar”, disse. Segundo ele, com base nos relatos do crime, o comportamento de Rafael se repetia no novo trabalho. “Ele era muito aberto, simpático, conversava com todo mundo e sempre estava pronto para ajudar. Talvez a simpatia tenha sido entendida e maneira errada e custado a vida dele”, complementou o sogro. “Talvez praticar a bondade tenha sido a causa”.
O crime – Rafael havia atendido a uma corrida em direção a um condomínio no Jardim Campo Nobre, região sul de Campo Grande, por volta das 23h30. Ele levava como passageiros Igor César de Lima de Oliveira, 22, e a mulher deste. O passageiro teria ficado com ciúme da conversa do motorista com sua esposa durante o trajeto entre a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Leblon e o condomínio Reinaldo Buzanelli.
Rafael tentara conversar com o casal, puxando assunto com a garota por conta da tipoia que ela usava no braço, a causa do ferimento e se estava sozinha no acidente que ela relatara ter sofrido. Igor teria permanecido quieto e, ao chegarem ao destino, o suspeito desceu do carro sem falar, voltando em seguida com a arma e atirando à queima-roupa. Ele responderá por homicídio duplamente qualificado, sendo informado ainda que foi condenado por roubo a mão armada em 2015.
Lamentos – Sogra de Rafael, Brandina Lopes da Silva, 59, também reforçou que o genro era uma pessoa “muito atenciosa, simpática e dedicada”, revelando ainda ter se preocupado quando ele começou a atuar como motorista de aplicativo. “Aconselhei ele a tomar cuidado, e quando começou a fazer corrida a noite sentiu o coração apertado, pediu para ele não ir”.
Brandina, como seu marido, considerava Rafael “o quarto filho, do coração”. Ela pediu mais segurança para os trabalhadores e clamou que, caso o autor do assassinato seja preso, “que ele não saia, que pague e seja punido devidamente por tirar a vida de um homem de família”.
Nair Batista Benitez, 52, conheceu Rafael há cerca de um ano, quando ele começou a congregar naquela igreja. “Era uma ótima pessoa, que frequentava aqui com toda a família. Tranquilo, honesto e dedicado a família”, disse, confirmando também que a vítima era uma pessoa comunicativa. Ela disse que ficou sabendo da morte pelo grupo do WhatsApp da igreja. “Foi um choque para todos nós”.
Motorista de aplicativo há dois anos e dois meses, Gunder Santos, 32, foi ao velório ao lado de cerca de 70 motoristas que prestavam homenagens a Rafael e pediam por mais segurança. “Fica o sentimento de revolta e de insegurança explícita. É uma pena que isso aconteça não apenas com motorista, mas que esteja enraizado em toda a sociedade”, afirmou, apontando que há associados aos apps que trabalham por 14 horas ou mais “para sustentar a família e não tem certeza de que vão voltar para casa” –a queixa, aqui, envolveu também condutores alcoolizados ou que não respeitam as leis de trânsito, frisou.
Outros motoristas de aplicativos também ajudaram a carregar o caixão para o velório, assim como enviaram três coroas de flores em homenagem ao colega morto. Igor seguia sendo procurado pelas autoridades até a veiculação desta matéria.