“Eu já previa que isso ia acontecer” diz presidente de associação de motoristas
Motoristas de aplicativos pedem regulamentação e mais segurança em face ao medo e à revolta após a morte de Rafael Baron
Rafael Baron, 24, fez sua última corrida como motorista de aplicativos de transporte urbano em Campo Grande, na noite de segunda-feira (13). Foi atingido por tiros durante um assalto, em uma corrida, e não resistiu aos ferimentos. Deixa pra trás um filho pequeno, e a falta de assistência para a família e segurança aos motoristas é o que revolta associações e sindicatos que representam a categoria.
Presidente da Applic (Associação de Parceiros de Aplicativos de Transporte de Passageiros e Motoristas Autônomos de Mato Grosso do Sul), Paulo Cesar Teodoro Pinheiro declarou “já não aguentar mais pedir regulamentação e proteção aos motoristas”. Durante audiência pública, diz, foi vaiado “mas tudo que disse que ia acontecer, aconteceu”.
“A Applic não aguenta mais, tanto que a gente pediu, pro judiciário, já pediu em audiência pública, e fui vaiado. Tudo que eu falei aconteceu, está agora na conta desse vereadores, a Applic sempre esteve certa. O que eu falei infelizmente acontece, eu já previa isso. Já está na hora, nosso pessoal tem que ter proteção. Isso é insuportável. Chega, deu”, comentou.
Paulo declarou que o momento, na manhã desta terça-feira (14), é de muita tristeza, mas também de revolta. “Eu tenho muita tristeza no meu coração. A gente não tem seguro, o aplicativo nem liga para o motorista para dar uma nota de pesar. O liberalismo tem limite, tem um lado ruim. Esses políticos precisam fazer lei, nossos motoristas são tratados como zé ninguém, temos que ser valorizados como qualquer profissão”, opinou.
“É insuportável, pode acontecer com qualquer um de nós. É um trabalhador, tem filho criança. Fico imaginando como está a sua mãe, como está sua família. Os aplicativos tratam os motoristas como cachorro, como lixo”, diz.
Além de pedir regulamentação, a associação bate de frente com a forma como se organizam empresas como a Uber, que desafia juristas em todo mundo pela mudança nas relações trabalhistas. Paulo pede que os motoristas sejam assalariados.
“Queremos tudo coberto, seguro, que a família possa ser assegurada, que o motorista tenha salário, que na hora de contratar faça entrevista. Os aplicativos ganham horrores de dinheiro e os motoristas ganham aquela merreca”, disse.
Segundo o presidente, em Campo Grande já foram registradas mais de 50 situações de assalto e sequestro, mas não soube detalhar a quantidade, em números, da violência contra os motoristas.
Rastrear os carros – Presidente do sindicato que representa os motoristas em Mato Grosso do Sul, Lohan Maycon afirma já ter dialogado com o prefeito Marquinhos Trad (PSD) e aguarda regulamentação federal para que a prefeitura edite novo decreto para a categoria. Enquanto a proteção por parte da empresa e do poder público não vem, os motoristas se organizam, criam grupos de comunicação e Lohan afirma que o sindicato está negociando com uma empresa de rastreamento. Rafael, disse, dirigia sozinho.
“Ele não participativa de nenhum grupo, rodava sozinho. A insegurança é muito grande, estamos buscando uma empresa de rastreamento, fechando uma parceira, para todos os motoristas terem um rastreador em cada carro para ajudar na segurança, porque se depender da polícia eles não aguentam, eles não tem como dar esse suporte. E quando você está ligado a um grupo, tem um botão do pânico. Principalmente quem trabalha a noite, não pode trabalhar sozinho”, comentou.