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Capital

Aglomeração no Serra Azul é "regra" e pessoal combina reunião em grupo de Whats

Quadrilátero ao redor da praça tem sete conveniências e é palco de aglomeração todo final de semana

Paula Maciulevicius Brasil e Bruna Marques | 14/06/2021 11:35


Quem vê as imagens acima gravadas durante o final de semana no Bairro Serra Azul, em Campo Grande, acredita que por lá a pandemia já acabou. A multidão aglomerada se reúne para beber, dançar, dar "zerinhos" e empinar moto. Para quem é vizinho da baderna, só resta se recolher em casa e esperar a segunda-feira chegar.

Na manhã de hoje, o Campo Grande News esteve no quadrilátero em torno da praça do bairro formado pelas ruas Alvilândia, Rio Dourado, Serra do Mar e Rio Brilhante. A imagem de hoje é de sujeira e vestígios da farra, mas no celular dos moradores estão os registros do último final de semana.

A bagunça começa a se formar no cair do sol, já na sexta-feira e só vai parar na madrugada de segunda. Sem toque de recolher respeitado, o pessoal bebe, não usa máscara, aglomera e chega a impedir os moradores de saírem de casa.

Por segurança, quem fala com a reportagem pede para não ser identificado. Um casal morador da Rua Rio Dourado conta que está na região há seis meses, mas já pretendem se mudar.

No asfalto, as marcas do "zerinho" que a galera insiste em fazer todo final de semana no Serra Azul. (Foto: Henrique Kawaminami)
No asfalto, as marcas do "zerinho" que a galera insiste em fazer todo final de semana no Serra Azul. (Foto: Henrique Kawaminami)

"Está insustentável. A gente chega em casa e não consegue estacionar, porque os carros estão na frente do nosso portão e não temos nem o direito de reclamar", conta a mulher de 36 anos.

Quando a Guarda Civil Municipal aparece, a moradora diz que o pessoal tira sarro e só falta partir para cima. O que intimida mesmo é a chegada da Polícia Militar. "Mas quando eles vão embora, tudo volta", diz.

Na casa da família mora o casal e três filhos que veem a farra começar ainda na sexta-feira e só terminar no domingo. "É regra. Começou o final de semana o pessoal começa a tumultuar. Só termina se a polícia vem ou se entre eles mesmos tem confusão e se dispersam", completa o casal.

Dizem que até empinar a moto o pessoal empina na frente da Polícia. "Ontem os policiais tiveram que sacar a arma, aí eles saem correndo. Isso é para você ter uma ideia de como é tensa a situação", acrescenta a mulher.

Confusão na rua acabou com porta de casa quebrada depois que pessoal arremessou uma garrafa na residência. (Foto: Henrique Kawaminami)
Confusão na rua acabou com porta de casa quebrada depois que pessoal arremessou uma garrafa na residência. (Foto: Henrique Kawaminami)

Três semanas atrás, o casal teve a porta da sala quebrada depois que alguém de fora arremessou uma garrafa portão acima. "Nos assustamos. Ficamos o tempo todo de portão fechado, justamente para ninguém entrar aqui na hora de confusão. São os quatro lados da praça. A gente liga, liga, mas ninguém faz nada. Deveria ter um efetivo da Polícia Militar aqui direto", afirma a moradora.


Para a família, a pandemia vivida está longe de terminar já que as medidas tomadas por Prefeitura e Governo no Estado nem chegam ao bairro. "Vai continuar morrendo gente se ficar essa situação. Aqui o toque de recolher não funciona. Ontem? 20h? Aqui 22h estava uma bagunça. Tem final de semana que junta 500 pessoas", denunciam os moradores.

Uma enfermeira de 48 anos, moradora da Rua Alvilândia, está há quase três décadas na região e conta que nunca viveu nada parecido. "Desde que começou a pandemia virou essa muvuca, mas de um tempo para cá tem piorado. E não é só por causa das conveniências, porque o pessoal já chega aqui com o cooler pronto", explica.

Segundo ela, há uma piora na aglomeração das 15h de sábado em diante, quando motociclistas vem empinar moto e fazer "zerinho", como é possível acompanhar nas imagens que abrem esta reportagem.

Restos de garrafas quebradas ficam pelas ruas na chegada de toda segunda-feira. (Foto: Henrique Kawaminami)
Restos de garrafas quebradas ficam pelas ruas na chegada de toda segunda-feira. (Foto: Henrique Kawaminami)

"No domingo fica bem pior. A gente liga para a Polícia e eles demoram para atender, alegam que a demanda está grande. A Guarda nem vem mais sem a PM, porque senão eles apanham", revela a moradora.

Para ela, além de espanto a cena deixa claro a falta de respeito e de humanidade, principalmente no momento tão difícil vivido hoje. "E não sabemos como agir, temos que ficar quietos e entrar para dentro. Como é recorrente, acho que poderiam deixar um camburão da polícia aí, seria mais fácil de resolver", opina.

Um tempo atrás ela teve de arcar com um prejuízo que não ficou nada barato. Um carro fazendo "zerinho" atingiu o muro de sua residência e fugiu. A enfermeira diz que chegou a chamar a Polícia Militar, mas sem identificação do motorista, nada adiantou. "Eu tive que arcar sozinha com as despesas. Caiu um pedaço do muro e abalou toda a estrutura. O consumo de álcool e de drogas é demais por aqui", enfatiza.

Sujeira que fica em frente à casa acaba sendo recolhida pelos moradores. (Foto: Direto das Ruas)
Sujeira que fica em frente à casa acaba sendo recolhida pelos moradores. (Foto: Direto das Ruas)

Uma dona de casa de 50 anos relembra que a confusão não é de hoje. Em novembro de 2020, já durante a pandemia, uma confusão na região terminou com uma criança de 10 anos baleada. A menina estava na frente de casa acompanhada da avó.

"Esse pessoal tem grupo de Whats e combinam de vir. Ontem eu cheguei a jogar creolina na minha calçada para ver se espantava, mas não teve jeito, parece que juntou até mais gente", pontua.

Ao recordar do tiro que atingiu a menina, a senhora lembra que a família estava sentada em frente de casa, mas longe da confusão, quando a criança foi atingida pelo disparo. "Tudo resultado dessa aglomeração que dá aqui, o povo briga e vem acertar as contas aqui. Não é morador daqui, a gente conhece, é pessoal que vem de fora mesmo. O que precisa melhorar é o que está todo mundo dizendo, ter mais vigilância", resume.

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