Agonia de espera para marcar exame ou consulta supera um ano na Capital
Um dos termos que mais se repetem em histórias que envolvem o drama de pacientes dependentes da saúde pública é a espera. Se nos setores de emergência e urgência, quando muitos pacientes estão entre a vida e a morte, esperar é uma obrigação, quando o objetivo é conseguir uma consulta com especialista ou exame a demora pode durar semanas, meses e até anos.
Em Campo Grande, histórias de usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) que dependem de retornos com médicos e exames para começar ou dar sequência em tratamentos podem ser encontradas em cada esquina, cada posto de saúde ou porta de hospital.
E foi em frente de uma dessas unidades, no CEM (Centro de Especialidades Médicas), localizado no Bairro São Francisco, na Capital, que a reportagem encontrou um dos milhares de usuários que já fizeram até "aniversário" na fila de espera da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública).
Aos 60 anos, a dona de casa Evandete Baraúna caminha com dificuldade porque as pernas não têm a mesma disposição de décadas atrás. Os pés inchados e a canela com veias saltadas são indícios de que alguma coisa não vai bem. “Dói muito para andar, não consigo fazer muito esforço que já perco a força nas pernas”, conta a idosa.
O que ela precisa é de uma cirurgia de varizes nas pernas, mas a espera pelo procedimento que promete dar de volta a alegria ao rosto sofrido de Evandete é longa. Há mais de um ano ela começou a saga pela cirurgia. Tudo teve início no posto de saúde da Vila Nasser, onde ela vive há décadas. Diante dos problemas identificados pelo clínico geral da unidade básica, um encaminhamento para o especialista foi feito e a primeira consulta não demorou tanto.
“Foram algumas semanas até a consulta, mas o que me faz esperar até hoje é o exame, estou com o pedido e me disseram que tenho que esperar porque tem uma fila. Agora é esperar para conseguir”, desabafa a dona de casa que depende de um exame para conseguir a tão aguardada cirurgia.
A espera de mais de um ano pode até ser considerada normal na Capital, isso porque a Carta de Serviços de Saúde, um documento criado pela Sesau em parceria com o SUS e que disponibiliza detalhes sobre os serviços do setor, não aponta nenhum prazo para todos os procedimentos listados.
Exames como arteriografias, biópsias, ultrassonografia, raio-x e cateterismo possuem a mesma frase no local indicado para o prazo estabelecido para o procedimento. “Prazo de acordo com as vagas nos estabelecimentos”.
Um dos personagens da espera imposta pelo poder público tem apenas 3 anos e 3 meses. Guilherme Barbosa nasceu com uma má formação congênita responsável pelos dedos da mão direita grudados e o pé esquerdo com seis dedos.
Geisa Arruda Barbosa, de 28 anos, é mãe de Guilherme e conta que desde o nascimento do filho, foi avisada sobre a necessidade da cirurgia quando o pequeno completasse dois anos. “O médico disse que foi uma incompatibilidade sanguínea e que ele tinha nascido assim. Ele falou que não era grave e que a cirurgia teria que ser feita quando ele tivesse dois anos”.
No entanto, 1 ano e três meses já se passaram do prazo indicado pelos especialistas e até agora a família espera pela cirurgia. No início do ano, a demora pelos exames foi tanta que a família chegou a fazer campanha para arrecadas dinheiro e acabou custeando os R$ 500 dos exames do próprio bolso.
Tia de Guilherme e testemunha de todo o drama da família, Débora Costa, 32 anos, conta que todos aguardam pela cirurgia e que em razão de os exames pagos pela família terem sido feitos no início do ano, o temor é que quando a cirurgia for liberada os procedimentos tenham que ser refeitos.
“Não sabemos quanto tempo ainda iremos esperar, a médica falou que estamos em uma fila e que o caso dele não é prioridade. Tomara que quando a cirurgia saia esses exames que pagamos ainda tenha validade”, desabafa.
Números – Em abril desse ano, conforme números divulgados pelo chefe da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), mais de 14 mil exames estavam na fila para serem realizados em Campo Grande. Em média, a Capital realiza 2,1 mil exames por mês, o que demonstra a dificuldade em zerar a fila de espera.
Em março do ano passado, quando o programa Fila Zero foi lançado pelo então prefeito Alcides Bernal, havia 48 mil campo-grandenses esperando por consultas com especialistas na rede pública de saúde da Capital. Mutirões foram criados para diminuir a espera por consultas com oftalmologistas, endocrinologistas, psiquiatras e neurologistas.
Em abril deste ano, cerca de 20 mil pessoas aguardavam na fila por exame ou atendimento em uma especialidade médica. O Campo Grande News entrou em contato com a assessoria de imprensa da Sesau para dados atualizados da fila de espera por consultas e exames na Capital, mas os dados não foram disponibilizados até o fechamento da matéria.