Além do HR, Santa Casa improvisa na falta de sedativo para entubar pacientes
Medicamentos são necessários para ventilar pacientes de covid e outros doentes e dificuldade na compra atinge mais hospitais de MS
Além do Hospital Regional Rosa Pedrossian em Campo Grande, a Santa Casa também corre contra o tempo para conseguir adquirir anestésicos e sedativos essenciais ao tratamento de quadros graves da covid-19. Motivado pela imensa pressão no SUS (Sistema Único de Saúde), com a falta de isolamento social, e pela falta de matéria prima no Brasil, as compras são feitas, mas os produtos não chegam. Agora, o hospital improvisa com outros métodos e restringem atendimento.
Nota enviada pela Santa Casa a pedido da reportagem afirma que os estoques das medicações “estão com uma baixa muito importante”. O hospital disse ter pactuado com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) uma medida para restringir a permanência de casos urgentes no hospital para não comprometer os novos atendimentos.
Ou seja, agora, a Santa Casa só atende pacientes que realmente precisem de intervenção cirúrgica, com destaque às vítimas de politraumatismo, especialidade do maior hospital de Mato Grosso do Sul. O HR foi escolhido como referência para tratamento de covid-19, mas já está com os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) praticamente lotados com suspeitos e confirmados de covid.
E o cenário ocorre mesmo com planejamento. Conforme explicou o hospital, desde o mês de janeiro, quando a pandemia ainda não havia sido decretada, a Santa Casa reforçou estoques de insumos e materiais que poderiam ter uma demanda maior, já que era esperada a chegada do novo coronavírus no Brasil nos próximos meses. A Santa Casa declarou ter feito as compras com previsão antecipada de três meses.
Superintendente médico hospitalar da Santa Casa, Luiz Alberto Hiroki Kanamura disse que as equipes médicas “estão angustiadas”. Conforme explicou, a maior parte da matéria prima necessária para produzir esses medicamentos no Brasil vêm da Índia e da China, sobrecarregados com a demanda global.
Segundo o médico, está em falta na Santa Casa desde anestésicos e sedativos leves, até os mais complexos , necessários para relaxar a musculatura antes da interferência para ventilação mecânica, os chamados bloqueadores neuromusculares. É o caso do medicamento Atracúrio que já acabou, mesma situação do HR. Os dois hospitais usam substitutivos “que já estão para acabar”.
“Quando o paciente tem o pulmão muito comprometido, o procedimento exige que o paciente não tenha reação muscular. Esse bloqueador é o mais usado e não tem no mercado para comprar há dois meses, o medicamento reservado para anestesia o CTI já não está usando há um mês”, relata.
Dessa forma, os médicos decidem por outros métodos, mas segundo o superintendente “não são tão isentos de efeitos colaterais”. “Muda-se as práticas, usa-se drogas alternativas, eventos não tão isentos de efeitos colaterais”, explica.
“Aquela cirurgia que precisa ser operada no prazo de 30 dias, a gente não vai fazer mais, já passamos a não fazer há 15 dias. Estamos priorizando, no centro cirúrgico, os politraumatizados”, disse. “Existem anestesias inalatórias, outros modelos, porém sem o mesmo resultado técnico. Nós estamos angustiados”, disse ele.
Outros hospitais – A reportagem consultou outros hospitais, por meio da assessoria de imprensa. A Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul) disse ter adquirido medicamentos com antecedências.
“Há no mercado uma dificuldade na aquisição de suprimentos para o enfrentamento ao coronavírus e atentos às consequências da pandemia em países como Itália e Espanha, foi realizada com antecedência a compra das seguintes medicações: Midazolam, Fentanil, Propofol, Ketamina, Succinilcoluna (suxametônio) e Rocuronio”, disse.
“Em nível nacional e internacional, tem havido falta de medicamentos usados para a analgesia, sedação, relaxantes musculares e demais drogas vasoativas, porque houve uma redução na produção e também pela dificuldade na movimentação das matérias primas, que, na maior parte, são provenientes da Índia e da China”, emenda a nota do hospital.
O Hospital Universitário ligado à UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) disse que ainda tem estoques, mas destacou preocupação. “Caso fornecimento em nível nacional e internacional não seja normalizado e o número de pacientes graves continue aumentando, a tendência é que haja falta generalizada desses medicamentos”, destaca.
“Desde o início da pandemia, o HU-UFGD estruturou um plano de contingência interna para o Setor de Farmácia Hospitalar e tem trabalhado conforme essas diretrizes. No plano, foi projetado o aumento dos estoques que normalmente atendem ao hospital por 60 a 90 dias, para atender pelo menos 120 a 150 dias e, por isso, o cenário que já tem sido vivido em outros hospitais do estado e também da rede Ebserh, ainda não atinge o HU-UFGD”, explicou a instituição.
O HU ligado à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) também disse que ainda não sofre com falta de medicamentos e também exemplifica o cenário ao citar que não recebe pacientes de covid-19.
A Unimed de Campo Grande apenas disse que “totalmente preparado e estruturado para atender casos de pacientes com suspeita da Covid-19 e os confirmados com a doença”.